O presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) criou a candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao governo de São Paulo e pavimentou sua vitória no estado mais importante do país. Talvez por ingenuidade, imaginava ter algum crédito com o apadrinhado político e futuro governador.
Em 2023, Freitas terá poder e muitas responsabilidades. Bolsonaro, por sua vez, terá apenas a melancolia da planície no escritório montado por Valdemar Costa Neto no PL. Ciente dos desafios que o esperam, Freitas tratou de mostrar logo que não deve nada a ninguém.
“Eu nunca fui bolsonarista raiz. Comungo das ideias econômicas principalmente desse governo Bolsonaro. A valorização da livre iniciativa, os estímulos ao empreendedorismo, a busca do capital privado, a visão liberal. Sou cristão, contra aborto, contra liberação de drogas, mas não vou entrar em guerra ideológica e cultural”, afirmou Freitas à CNN.
A fala de Freitas sobre o movimento que pavimentou sua eleição é um simbólico banho de realidade no bolsonarismo. O presidente ainda dorme no Alvorada, mas já experimenta os dissabores de ter que entregar a caneta a Lula a partir de janeiro.
A fala, claro, repercutiu muito mal entre os apoiadores de Bolsonaro. Sinal evidente da perda de poder do presidente, o desembarque de Freitas era mais do que previsível. O futuro governador nunca foi, de fato, identificado com a agenda ideológica de Bolsonaro.
O problema, para alguns aliados do presidente, é o momento escolhido por Freitas para abandonar seu criador. “O presidente está doente, deprimido, chorando todo dia. O Tarcísio vem e faz uma coisa dessas. É crueldade”, diz um aliado do presidente.
Freitas é uma figura preparada, usou o poder que teve no governo Bolsonaro para fazer o trabalho que pavimentou o início vitorioso de sua carreira política nas urnas. Como ministro da Infraestrutura, sempre ofereceu a Bolsonaro pautas positivas. Um aliado de Freitas defende sua postura:
“Tarcísio surfou na popularidade do bolsonarismo em São Paulo? Surfou. A questão, no entanto, é outra. A partir de janeiro, ele terá poder. Bolsonaro, não. Cada um que viva com seu destino”, diz o interlocutor de Freitas.