Vejo a articulação de Júlio Campos (União) pela presidência da Assembleia Legislativa. Acompanho as atividades parlamentares e observo que desde os idos dos debates da bancada governista com o saudoso Manda Brasa aquele Parlamento é um feudo silencioso e encabrestado dirigido ciclicamente por assanhados dos Alto Clero, com obediência total do Baixo Clero. Nesse longo tempo, que se arrasta desde o regime militar, poucas vozes se levantaram em plenário defendendo Mato Grosso contra os (maus) interesses da Casa-Grande que atende pelo nome de Palácio Paiaguás.
Ora tutelada pelo triunvirato José Riva, Humberto Bosaipo e Sérgio Ricardo, com a ingerência de Silval Barbosa, ora pela nova safra dominante composta por Guilherme Maluf, Eduardo Botelho e Max Russi, a Assembleia, para seus controladores, com seu gordo duodécimo acima de R$ 675 milhões, é o que se pode chamar de melhor dos mundos.

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Bem-vinda a candidatura de Júlio Campos, muito embora nenhum mortal entre os 3,5 milhões de mato-grossenses fora o governador Mauro Mendes (União) e o universo dos 24 parlamentares possa contribuir para sua eleição ou para derrotá-lo.

Mesmo sem poder de voto e de influenciar, torço por Júlio Campos por ver em seu nome o rumo que a Assembleia precisa para reencontrar sua identidade, restabelecer o nivelamento entre os poderes políticos e, mais ainda, dar voz a Mato Grosso no cenário nacional.
Júlio Campos terá pela frente uma das (não tão) novas raposas da política mato-grossense: Max Russi (PSB). Não creio que surja terceiro nome na disputa. Traçando comparativo entre os dois presidenciáveis, Júlio Campos massacra Max Russi.
Imaginemos uma importante demanda mato-grossense junto ao governo federal. Qual dos dois – Júlio Campos e Max – botaria a faca no peito do presidente Lula da Silva, ou ainda, qual deles Lula ouviria sem ter que baixar a cabeça para escuta-lo melhor? Em tese os poderes são harmônicos e independentes, mas qual presidente da Assembleia faria valer os princípios constitucionais junto ao reeleito governador Mauro Mendes (União)?

Max Russi é a chamada figurinha carimbada sempre ao lado dos poderosos. Foi grudado ao senador e então deputado federal Wellington Fagundes, do PR, quando disputou a prefeitura de Jaciara, e de quebra acendia todas as velas para o à época governador Blairo Maggi e seu sucessor Silval Barbosa.

Deputado estadual, encostou no governador Pedro Taques (PDT e PSDB), do qual ganhou duas secretarias, para em seguida apunhala-lo politicamente. Mauro Mendes quando assumiu o governo em 2019 ao entrar no seu gabinete lá estava Max. Júlio Campos nunca deixou suas origens políticas desde a Arena do bipartidarismo.

A Assembleia tem que superar esse ciclo do caciquismo entre os deputados e da presidência a serviço do governador, independentemente de quem exerça o cargo. A plena liberdade parlamentar é imprescindível para o fortalecimento democrático, a correção de rumos administrativos e, no aspecto interno, para valorização do mandato de deputado estadual e dos servidores.

Precisamos de política de Estado e não de conchavos. Não tenham dúvidas que Mato Grosso terá que articular muito em Brasília para cicatrizar grandes chagas abertas em Lula pela agressividade de outdoors que o chamavam de criminoso, ladrão e mentiroso.

Na bancada federal teremos poucas vozes que serão ouvidas e a Assembleia terá que ocupar espaço em defesa de afagos que vão além do princípio federativo – Max não tem esse perfil. Max não vai além da política menor, aquela em que o cacique lança mão de subordinado para seu fortalecimento, como aconteceu com seu assessor e ex-vereador por Vila Rica, Janovan Rios (PSB), lançado candidato a deputado estadual (por Max, é claro) numa candidatura inglória para encorpar o quociente eleitoral de seu partido.

A Assembleia tem que ser casa de decisão e não de submissão. Um líder em sua presidência fará o governador Mauro Mendes vê-la em sua dimensão e não na condição de sua vizinha de palácio sempre pronta a massagear seu ego.

Júlio Campos enxerga além da linha do horizonte. Tem um extraordinário saldo de serviço prestado a Mato Grosso. Por onde quer se olhe há um município criado por ele, uma ponte de concreto, uma rodovia que rasgou o cerrado interligando regiões, um conjunto habitacional, uma escola, um olhar agradecido da população. Que brilhe a luz da esperança na Assembleia. Chega da política do compadrio, do discurso inconsistente. Que o Ano-Novo seja o marco temporal para o fortalecimento da atividade parlamentar, que os deputados deixem a condição de coadjuvantes. Que a nova mesa diretora do Legislativo Estadual seja oxigenada, que fique livre do caciquismo e de seu crônico controle que é sua marca desde o ex-mandachuva José Riva.

Que os bons ventos tragam Júlio Campos com sua experiência de prefeito de Várzea Grande, deputado federal, governador e senador. Com sua habilidade política. Com sua firmeza para dizer sim e não. Com seu discernimento. Com sua lealdade aos companheiros. Com sua competência administrativa que foi decisiva para o grande salto mato-grossense ao desenvolvimento. Com a percepção parlamentar no Senado que o levou a criar a lei de proteção à testemunha. Com seu berço que foi embalado pela vontade de servir ao próximo.

Que em 2023 Mato Grosso dê posse a uma mesa diretora para chamar de sua, que ela cumpra sua missão constitucional ao pé da letra e que facilite aos parlamentares o pleno exercício de seus mandatos. Chega da Assembleia do Riva, chega da Assembleia do Botelho, chega da Assembleia do Max. Que verdadeiramente tenhamos uma Casa Parlamentar independente, fortalecida, voltada aos interesses mato-grossenses e que à sua frente esteja o deputado Júlio Campos, que tão bem sintetiza o verdadeiro espírito político dos 141 municípios da Terra de Rondon.

 

*EDUARDO GOMES DE ANDRADE  é jornalista e escritor em Mato Grosso. É autor de vários livros, entre os quais “Nortão – BR 163: 46 anos depois” e “O lugar chamado Rondonópolis”; e editor do Blog do Eduardo Gomes.  

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