A discussão abordou o tema “Novas Perspectivas Energéticas para a Bacia do Rio Cuiabá”, com base no Balanço Energético do Estado de Mato Grosso e Mesorregiões.

Nos últimos anos Mato Grosso tem se destacado na produção de energia renovável, porém a dependência de matriz energética de derivados de petróleo ainda é grande. Esse foi um dos levantamentos apresentados nesta semana em uma webinar realizada pelo Comitê de Bacia do Rio Cuiabá da Margem Esquerda – CBH Rio Cuiabá – ME, com o tema “Novas Perspectivas Energéticas para a Bacia do Rio Cuiabá”, com base no Balanço Energético do Estado de Mato Grosso e Mesorregiões – 2021.

O Balanço, que é o estudo mais recente divulgado e tem como ano base 2020, mostra que Mato Grosso ganha destaque na produção de energia renovável onde se sobressaem os produtos do milho para geração de etanol, a energia hidráulica e os produtos da cana-de-açúcar – bagaço e caldo de cana, produzindo etanol hidratado e anidro. O biodiesel também é outro energético que mantem elevada participação na matriz com 14,0% do total secundário.

A produção de energia primária no período 2010-2020 triplicou, passando de 2,8 milhões de tEP em 2010 para 7,4 milhões de tEP em 2020, devido principalmente aos produtos do milho e geração hidráulica. Mas, o Estado continua dependente dos derivados de petróleo e sua importação atinge expressivos 3 milhões de tEP em 2020, com destaque para o óleo Diesel, consumido intensivamente nos setores agropecuário e transportes.

Na oportunidade, o coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Planejamento Energético da Universidade Federal de Mato Grosso (NIEPE – UFMT), professor Ivo Dorileo, disse que o Balanço apresentado representa um instrumento fundamental para a elaboração de políticas públicas pelo Governo para atender as demandas do setor. Hoje, o estado possui cinco mesorregiões desenvolvidas de forma desigual.

“O estudo nos dá elementos para entendermos como é a oferta e demanda ao longo do tempo. O levantamento informa exatamente como é a produção, os recursos energéticos no estado e o consumo final energético, além das ofertas de eletricidade e combustíveis. É um documento primordial para que o Estado possa desenvolver suas políticas públicas na área de energia”, avaliou Dorileo.

Conforme o professor, as principais políticas públicas que devam ser trabalhadas são àquelas de substituição de combustíveis fosseis, visto que o estado tem uma dependência muito grande de derivados de petróleo, como o óleo diesel, principalmente no setor de transportes e agropecuário. “Precisamos valorizar o que temos e produzimos no estado combustíveis como o biodiesel, etanol e a produção de eletricidade por fontes renováveis, tais como energia solar e PCHs em pequenos rios ao se fazer inventários. Neste caso, o inventário se trata da instalação de turbinas hidráulicas em pequenos rios ; turbinas que não afetam sobremaneira o meio ambiente”.

O professor Ivo destacou também a necessidade de Mato Grosso ter suficiência energética, otimizando a conservação energética ao se evitar perdas, principalmente no setor industrial. “Fazer a conservação de energia térmica, como aquisição de secadores, troca de parques de motores elétricos antigos. Para isso, é preciso incentivo para facilitar a aquisição de equipamentos mais modernos, além de medidas voluntárias e melhoria de nível de consumo”, completou.
PCHs NO RIO CUIABÁ – O professor analisa ainda que na região existem inúmeras fontes que podem substituir essas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e suprindo a necessidade da bacia. Ele informa ainda que estudos apontam que, em 2050 haverá, sim, necessidade de mais eletricidade, já que a economia cresce e a demanda também. “Neste ínterim, são necessários estudos de curto, médio e longo prazo. Mas, hoje, não tem muito sentido usinas nesta região até porque, em termos ambientais, temos um ecossistema muito sensível e é preciso estudar com muitos mais detalhes e profundidade essas usinas no Rio Cuiabá. Temos uma carteira de opções de fontes para o médio e longo prazos”.

Professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), Walter Collischonn também participou de forma online da webinar e pontuou sobre os potenciais impactos de barragens na bacia do Rio Cuiabá. “É um impacto muito grande. Na bacia, as instalações de novos empreendimentos afetarão a conectividade, dificultando ou impossibilitando a reprodução dos peixes migratórios. O índice de conectividade de 90% cairia para 15% entre as cidades de Nobres e Cuiabá e, se pensarmos, no impacto da população, inviabilizaria a pesca turística, profissional e amadora”, destacou Collischonn.

Dados mostram que a renda da pesca profissional e artesanal em toda a Bacia do Alto Paraguai (BAP) foi estimada em cerca de 70 milhões de reais por ano, sendo que um terço desse valor foi associado às colônias de pescadores ao longo do Rio Cuiabá.

NOVAS TECNOLOGIAS 

A webinar contou com a participação do coordenador e professor de pós-gradução em Direito de Energia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC-MT_), Gustavo Santiago. Ele falou sobre o tema “Abordagem Jurídica e Novas Tecnologias no Setor Elétrico. Na ocasião, ele falou que a Usina Solar Flutuante (FVF) tem seus potenciais e desafios, já que estudos indicam possíveis vantagens com a implantação dessas plataformas.

“Tais como ganhos de eficiência, redução de perda por sombreamento e sujeira; redução da evaporação dos reservatórios. Por outro lado, algumas desvantagens como acúmulo de detritos de pássaros. Em pequenas usinas flutuantes o impacto na vida aquática é quase irrelevante, mas em casos de grandes empreendimentos, nessas usinas híbridas, estudos mostram que podem resultar em impacto na vida aquática”, finalizou.