Hoje, é muito comum vermos empresas que se orgulham do índice de satisfação de seus colaboradores, números esses baseados em pesquisas anuais, nos quais os colaboradores avaliam seu nível de satisfação em diversas categorias, como satisfação em relação à remuneração, aos benefícios, sobre seu líder, sobre a comunicação ou qualquer outro ponto que a empresa deseja conhecer referente à satisfação dos colaboradores, tudo isso dentro do setor de gestão de pessoas é o que chamamos de Pesquisa de Clima.

Certamente, a pesquisa de clima é uma ferramenta muito útil e que deve nortear o planejamento das novas ações, principalmente para a área de gestão de pessoas das empresas, mas e quando os números não representam a realidade dos problemas?

 Você pode estar se perguntando, se isso é possível, e digo com clareza que nesses 18 anos de atuação no setor de recursos humanos, é mais comum do que se pode imaginar, e vou explicar…

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Há algum tempo, fomos realizar uma pesquisa de clima em um cliente com aproximadamente 90 colaboradores, e como utilizamos a psicologia como base cientifica em nosso trabalho, em nossa pesquisa de clima, além do tradicional formulário, fazemos a escuta individual dos colaboradores, pois dessa forma, além do percentual de satisfação, temos o motivo que leva a isso.

E nessa empresa que realizamos a pesquisa com escuta, ao questionar aos colaboradores sobre sua remuneração, mais de 70% se queixava do baixo salário, mas sempre traziam em seguida a informação, “… o salário é baixo pelo estresse que passo aqui” ou “… o salário deveria ser maior, por que é muita pressão.”, “… acho que deveríamos ganhar mais, pois aqui é bem puxado, tem muita cobrança” e assim seguiam as queixas relacionadas ao valor salarial, e não foram uma ou duas pessoas que trouxeram colocações como esta, mas 80% das pessoas que se queixavam de questões salariais, traziam em sua fala essa explicação relacionada ao ambiente.

Nesse momento nos questionamos: “Será que aumentar o salário é uma solução?” “Será que se não tivéssemos a escuta, ou seja, para além do formulário, será que teríamos a clareza do real problema dessa empresa?”

O que percebemos com os anos de experiência é que muitas pesquisas fazem ações de melhorias baseadas nas queixas dos sintomas e não na raiz dos problemas. Dessa forma, as empresas fazem investimentos em treinamentos, sistemas e outras estratégias, mas não veem seu problema ser solucionado.

Afinal, quando o diagnóstico é superficial, podemos até dar a sensação de melhoria, já que se “tampou a ferida”, porém ela ainda está lá.

Podemos trazer aqui, diversas vivências como essa, como a empresa que dizia que o problema era a falta de processo, mas ao fazer a escuta, percebeu-se que o embaraço era a falta de comunicação entre os setores, dessa forma, os processos que haviam sido feitos e refeitos, diversas vezes por consultorias diferentes, nunca “iam para frente”.

 A empresa que tivemos o melhor índice de satisfação, na qual não havia queixa de praticamente nenhum colaborador, pelo contrário, em nosso diagnóstico descobrimos que a empresa estava permissiva demais, sem regras e sem normas, e quando passamos a devolutiva para os sócios, pasmem, soubemos que a empresa estava em risco de falência. Sim, para garantir a satisfação dos colaboradores, essa empresa se colocou em risco financeiro.

Por essas experiências que afirmo, não podemos traçar estratégias considerando apenas dados frios e sem se colocar no contexto para compreender, por isso, a escuta qualificada, por profissionais permite que as estratégias foquem na busca de uma melhoria na raiz do problema e não somente em soluções paliativas.

*MARCELA VARGAS é especialista em Recursos Humanos na Grandy Desenvolvimento Humano e Psicóloga, Personal & Professional Coaching pela Sociedade Brasileira de Coaching. Email:marcela@grandy.com.br

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