A empresa Rota do Oeste, braço de logística da empreiteira Odebrecht, assumiu em 20 de março de 2014, a concessão de 850,9 quilômetros de extensão da Rodovia BR-163, entre a divisa de Mato Grosso e Sinop. Deveria ter pavimentado 453 quilômetros e o governo federal, via DNIT, outros 400 quilômetros.
A concessionária pavimentou 117 quilômetros desde a divisa de Mato Grosso do Sul até Rondonópolis.
Tragada nos rolos da Operação Lava Jato, a empreiteira Odebrecht abandonou a filha Rota do Oeste.
Endividada e sem capital pra cumprir o contrato de pavimentação desde Várzea Grande até Sinop, limitou-se a arrecadar R$ 500 milhões por ano em pedágios. Os investimentos feitos foram de apoio ao tráfego e algumas melhorias, mas sem duplicação.
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A Rota do Oeste argumenta que tem dívidas, manutenção da rodovia e mais 1.672 funcionários que precisa pagar todos os meses.
Na rodovia transitam por dia 65 mil veículos, sendo 39 mil caminhões de carga. E 41% são automóveis e motos. Os caminhões são responsáveis por um terço dos acidentes. Entre o início da concessão em 2014 e 2022, houve 850 mortes na rodovia BR-163 no trecho concedido.
Diante do impasse, a burocracia tomou conta do processo no Ministério da Infraestrutura. O modelo de concessão foi feito antes de 2014 com as amarrações ideológicas da época. Absolutamente inviável.
E a encrenca vem crescendo a cada ano. Mas não tem data à vista pra ser resolvida com a substituição da Rota do Oeste. A lentíssima burocracia federal é quem dita as regras.
O título do artigo fala da tragédia anunciada por razões óbvias. Trata-se do maior corredor rodoviário de transportes de grãos no mundo. Seguem alguns números pra dar ideia do tamanho do problema.
Hoje Mato Grosso produz 80 milhões de toneladas de grãos que escoam em sua maioria pela rodovia BR-163 no sentido Norte, a partir de Sinop, ou descendo até os portos do Sul e do Sudeste do país.
A estimativa é que em 2030 o estado esteja produzindo 130 milhões de toneladas (dados do IMEA). Isso significa 50 milhões de toneladas novas nesses próximos oito anos. Isso dará 6 milhões e 200 mil toneladas novas a cada ano. Bom lembrar que a expectativa de conclusão da Ferrovia Ferronorte até Lucas do Verde será em 2028. Até lá a BR-163 será um completo caos com os acréscimos na produção.
Como resolver o assunto? Só tem um caminho: a excepcionalidade da situação de Mato Grosso. Aí o caminho será político. Mas não se trata só dos políticos e do governo do estado. Será necessário uma força-tarefa mato-grossense em torno das rodovia BR-163.
O lamentável é se seguir no ritmo atual a nova concessionária não assumirá a concessão antes de 2028. E a questão é uma só: vencer a burocracia brasileira, no Ministério da Infraestrutura.
*ONOFRE RIBEIRO DA SILVA é jornalista, escritor e analista político em Mato Grosso.
E-MAIL: onofreribeiro@onofreribeiro.com.br
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