Volto a um tema já abordado mais de uma vez nesta coluna. Falo do potencial industrial de Mato Grosso. Há uma unanimidade entre analistas econômicos, líderes empresariais e políticos que reside na industrialização o grande desafio econômico do estado nas próximas décadas. Para o salto qualitativo de agroexportador para uma economia desenvolvida econômica e socialmente.

 

É inquestionável o progresso que a atual matriz econômica, baseada na produção primária agroexportadora, trouxe para o estado, com notáveis avanços no volume da produção física, crescimento do PIB, aumento da produtividade agrícola e da rentabilidade.

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Não avançamos na mesma velocidade no desenvolvimento de todos os nossos potenciais industriais. Temos todas as condições para a produção de celulose a partir do eucalipto, mas as maiores empresas produtoras de celulose construíram suas novas plantas industriais, nos últimos dez anos, em Mato Grosso do Sul, em cidades como Três Lagoas, Ribas do Rio Pardo, Maracaju e Inocência. Mato Grosso é um dos maiores consumidores de fertilizantes agrícolas do país, mas a Petrobras decidiu, em 2011, instalar sua maior fábrica de fertilizantes, a Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN3), em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, utilizando gás vindo da Bolívia. Aliás, a construção dessa fábrica está paralisada desde 2014, com 80% construída. Em 2021, a Petrobras colocou a fábrica à venda, para ser concluída e operada por grupo privado que venha adquiri-la.

 

Mato Grosso é o maior produtor nacional de algodão, mas não temos nenhuma indústria têxtil funcionando aqui. Todo nosso algodão é exportado para ser industrializado em outros estados e países. Depois, o compramos de volta, sob a forma de tecidos ou roupas prontas.  O estado é um dos maiores produtores de madeira do país, mas não possuímos uma indústria de movelaria de luxo plenamente desenvolvida. Exportamos nossas madeiras e importamos móveis de luxo de fábricas instaladas no Sul e Sudeste. Até mesmo a indústria do etanol que se desenvolveu extraordinariamente nos últimos dez anos, precisa de um grande etanolduto ligando aos maiores centros de consumos e aos portos marítimos para não perder competitividade com fábricas do sudeste.

 

O setor agropecuário do estado é o maior comprador de máquinas e implementos agrícolas do país, mas esse segmento industrial instalou um grande parque fabril em Goiás. Mesmo sendo Mato Grosso o maior produtor agropecuário do país, não desenvolvemos plenamente a indústria das feiras de negócios e entretenimento agropecuários. A maior feira agropecuária brasileira é realizada na cidade de Barretos, estado de São Paulo.

 

Vejo na industrialização a grande janela de oportunidades para a Mato Grosso fazer a transição para o clube de estados brasileiros desenvolvidos, com sustentabilidade econômica, social e ambiental.

 

Precisamos unificar todas as forças da sociedade e prospectar os caminhos que atrairão o capital industrial para estas paragens. Não me parece uma missão impossível potencializar nossas vantagens comparativas naturais e induzidas levando nossa economia a ser tão forte na indústria e no comércio como tem sido na agropecuária. Podemos começar com um fórum, ao estilo do Fórum Econômico Mundial e trazer para o debate os grandes “players” nacionais e mundiais do setor industrial, empresários, bancos de investimentos, executivos, especialistas, fundos de investimentos. Já temos até a nossa “Davos”: Chapada dos Guimarães. Só não teremos a neve. Para compensar, muito amor, calor e sabor.

 

*VIVALDO LOPES DIAS   é professor e economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em  MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP  

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Mato Grosso é o maior produtor nacional de algodão, mas não temos nenhuma indústria têxtil funcionando aqui. Todo nosso algodão é exportado para ser industrializado em outros estados e países. Depois, o compramos de volta, sob a forma de tecidos ou roupas prontas.