O presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Marcelo Augusto Xavier, foi gravado pela Polícia Federal oferecendo apoio ao ex-chefe do órgão em Ribeirão Cascalheira, Jussielson Silva, que foi preso em março deste ano pela Polícia Federal. A informação foi divulgada pelo jornal O Globo.

Jussielson foi alvo da Operação Res Capta, cujo objetivo foi desarticular um esquema de arrendamentos ilegais na Terra Indígena Xavante Marãiwatsédé para desenvolvimento de atividade pecuária.

Conforme o jornal, a gravação foi anexada a um relatório da PF que aponta que Xavier deu “sustentação à ilegalidade”. A partir das gravações, a PF suspeita que Xavier tentou interferir no trabalho de investigação.

A interceptação telefônica foi feita no início deste ano durante a investigação que prendeu Jussielson Silva, além de um policial militar e um ex-PM, sob a suspeita de cobrança de propina para alugar pastos ilegalmente na reserva indígena.

A região ocupa uma área equivalente a 165 mil campos de futebol espalhados em três municípios matogrossenses.

No dia 18 de fevereiro, mês anterior à deflagração da operação, o presidente da Funai e Jussielson conversaram por 5 minutos e 48 segundos.

Conforme O Globo, a PF havia procurado Jussielson em busca de informações sobre os fazendeiros que alugavam os pastos para gado. No diálogo, Xavier protesta e diz que já havia entrado em contato com a delegacia da PF responsável pela investigação, em Barra do Garças.

“Deixa eu te falar uma coisa: eu falei agora com o chefe da Delegacia aqui e me parece que eles tão com uma má vontade enorme”, disse Xavier a Jussielson.

Xavier, então, promete tomar providências e diz que iria recorrer às corregedorias da corporação. “Eu vou dar ciência já do caso ao corregedor lá de Mato Grosso, ao corregedor nacional da Polícia Federal aqui e já vou acionar nossa corregedoria pra atuar nisso aqui. Pode ficar tranquilo”, afirmou.

“Sim, eu agradeço porque a gente está na ponta da lança. O senhor é o meu apoio de fogo. O senhor me protegendo, fico mais feliz ainda”, agradece Jussielson.

“Pode ficar tranquilo aí que você tem toda a sustentação aqui. Pode ficar sossegado”, diz Xavier.

 

Investigação

Os telefonemas estão sendo investigados pela PF, que diz em um relatório encaminhado à Justiça Federal que “é possível concluir que o presidente do órgão, Marcelo, tem conhecimento do que está se passando, sendo possível que esteja dando sustentação à ilegalidade ora investigada (arrendamento em terra indígena)”.

No mesmo relatório, o delegado Mario Sérgio de Oliveira, responsável pela investigação, afirma que “tal demonstração de autoridade (de Xavier) permite inferir uma disposição por parte do presidente da Funai em interferir no trabalho investigativo da Polícia Federal”.

 

A operação

Na primeira fase da Operação, foi constatado que os servidores da Funai de Ribeirão Cascalheira estariam cobrando propina de grandes fazendeiros da região para direcionar e intermediar os arrendamentos.

Além da propina aos servidores, os arrendamentos estariam gerando repasses de  aproximadamente R$ 900 mil por mês ao cacique Xavante Damião Paridzane, conhecido por ser um dos “símbolos” da luta do seu povo por suas terras.

Através da análise preliminar do material apreendido na 1ª fase, a Polícia Federal deflagrou no dia 31 de março, a segunda fase da operação. Foi apurado que as pessoas que arrendavam ilegalmente terra na Reserva Indígena Marãiwatsédé estavam sendo obrigadas a pagar 10% (dez por cento) do valor do arrendamento, de forma antecipada, a servidores da Funai de Ribeirão Cascalheira, por supostos serviços de medição da área.

Pagariam, ainda, após a finalização das supostas medições, R$ 5 por hectare medido, o que poderia totalizar aproximadamente R$ 825.000, considerando a extensão da Terra Indígena. O líder indígena, apesar de constatado elementos de enriquecimento ilícito, não foi alvo do despacho que aprofundou as investigações.

Fonte: MidiaNews