Os membros das classes sociais abastadas costumam acusar os mais pobres de trocarem votos por ajuda financeira, geralmente insignificante, na proximidade das eleições. É atitude clássica de quem “enrola o rabo e senta em cima”.
Se eles (os pobres) “vendem” nós os que temos mais recursos também “vendemos”. O que varia é o preço. Alguns votos valem uma sexta básica, outros um emprego público. Há ainda os que o trocam por diminuição de impostos, incentivos fiscais ou empréstimos subsidiados.
Industriais, por exemplo, reclamam um governo mínimo. Lutam por diminuição da máquina pública, dos impostos, das taxas e dos encargos. Dizem que este dinheiro, salvo da ganância dos políticos, seria aplicado no aumento dos empregos e consequente crescimento do PIB nacional. Eles tentam eleger os que lhes prometem isso. Ou, dito de outro modo, trocam o seu apoio (voto) por uma vantagem financeira.
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Servidores públicos querem aumentar o tamanho da máquina governamental, ampliar a atuação do estado, melhorar a oferta de empregos, regulamentar tudo, dirigir as pessoas. Para estes, o candidato ideal gosta de uma máquina inchada e buscam um pretendente, de preferência oriundo do serviço público ou comprometido com a valorização das diversas categorias e voltado para as lutas de recuperação dos salários e benefícios sociais.
Estudantes votam nos que garantem passe livre; artistas, nos defensores de incentivos culturais. Profissionais liberais querem eleger os que não se metem na vida deles tentando aumentar o imposto de renda.
Os produtores rurais querem acesso a armas para defenderem suas fazendas; diminuição dos impostos para comprar máquinas e desonerar exportações. Lutam ainda por juros baixos para financiar o custeio de suas lavouras.
Os mais pobres almejam um governo distribuidor de benefícios. Eles querem creches, escola em tempo integral para os filhos, hospitais que funcionem, casas populares, bolsa família e vale alimentação.
E assim cada grupo social tem demandas diferente e luta por elas. Nas eleições essas desigualdades aparecem com mais força
E assim cada grupo social tem demandas diferente e luta por elas. Nas eleições essas desigualdades aparecem com mais força. Aí os candidatos calibram o discurso direcionado para cada bairro ou comunidade, prometendo atender aos anseios de cada segmento.
Se cada um “troca” seu voto pelo benefício imediato: emprego, passe livre, diminuição dos impostos, financiamentos, incentivos fiscais ou culturais, por que somente os que o trocam por alimentos, remédios e bujões de gás – os mais necessitados-, são acusados de trocar votos por vantagens? O Bolsa família, o Auxílio Brasil, o Vale Gás às vezes são o último recurso para não passar fome, motivo muito mais eloquente que todas as necessidades dos que querem redução de impostos, aumente de salários, incentivos fiscais ou culturais.
Culpar os pobres pela escolha de um candidato que lhes mitigue a fome, e que nós, os mais “inteligentes” julgamos ruim, é pura discriminação. Eles estão defendendo seus legítimos direitos de socorrer as necessidades mais prementes e a sobrevivência da família. Se isto é ou não sustentável está muito além da capacidade deles de entender e da nossa de julgar. Suas escolhas podem estar erradas, e muitas vezes estão mesmo, mas não nos cabe emitir esse juízo de valor.
Aquele que não vota com interesse próprio ou da categoria – o que dá na mesma coisa – que atire a primeira pedra.
*RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor em Mato Grosso.
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