Todos assistem a debates acalorados, em especial nas redes sociais, sobre política e poder. Uma figurinha aqui, outra acolá, também podcast etc., e vários comentários, na maioria das vezes anônimos, sobre a “obra de arte” resultante das ideias transmitidas.

São figuras interessantíssimas, muitas de “fina” ironia. Mas o que chama a atenção, e isso parece ser contraditório, são outras, não menos interessantes, pregando bondades, salvações espirituais e conclamando seguidores para um mundo melhor.

Não sei se é a maldade, ou ignorância, a origem de tais. Também não sei se o relativismo das coisas anda fazendo ilusões.

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Temos uma onda de vontades, carreada para um mar de fantasias. Nelas, papai Noel e histórias em quadrinhos se equivalem como realidades. Não se sabe, exatamente, o que se quer, havendo uma confusão no estado mental de quem as protagonizam.

Certa vez visitamos a casa de Dom Helder Câmara em Recife. Fiquei maravilhado com a coerência de um santo. E ele, ao que notamos em seus escritos e modo de vida, não vinha entendendo muito bem as coisas por aqui. E exclamou: “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres (?), chamam-me de comunista”.

E a “onda” vem crescendo a passos largos, como se moda fosse. Todos nela têm verdades para serem ditas, passadas para a frente, que se danem os olhos ou ouvidos dos espectadores. São estridentes e contumazes.

A frase elaborada por uma biógrafa de Voltaire, no início do século 20, “posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”, deve ser contextualizada para sua época. Hoje, em que se clama até pela existência de um princípio constitucional de solidariedade, talvez devesse ser relativizada.

O falar muito, até do que desconhece em essência, agrava. Piora, não edifica. Se amar ao próximo vem se solidificando, por que alguns são mais próximos que outros?

Viver em sociedade, não diria nem em comunidade, virou sinônimo de hipocrisia. O bacana vai à missa e não aprende nada, muito menos à metáfora da esmola que o espera na saída. E se apega na campanha, um tanto quanto questionável – não dê o peixe, ensine a pescar-, e em outras tantas. É mais fácil que refletir.

As razões dos ricos já a conhecemos, e as dos pobres? Exemplifiquemos com o tal incentivo fiscal. O Estado, que resume a todos, oferece incentivo ao rico, que a seus olhos sabe produzir e criar riquezas, para que crie mais empregos assalariados aos pobres. O pobre, portanto, faxina; e o rico empresta uma singular capacidade. Pelos valores incentivados deve haver muita significância nisso.

Não se há como entender. Difícil de entender, confessemos! Deve ser porque nada sabemos de economia. Ou talvez seja melhor não sabermos dessa ciranda em círculo ou de circo. As coisas estão esquisitas, mesmo.

Em tempo, aliados ou não deste espaço, continuem a mandar mensagens, algumas de frases de efeito, até espirituais. Delas tiramos compreensões e fazemos reflexões. Aliás, ultimamente tenho lido os anônimos que escrevem nas matérias dos sites da internet, “maravilhas” em reflexão.

É por aí…

 

 

*GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO (Saíto)   é formado em Filosofia e Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); é membro da Academia Mato-Grossense de Magistrados (AMA), da Academia de Direito Constitucional (MT), poeta, professor universitário e juiz de Direito na Comarca de CuiabáE é autor da página Bedelho Filosófico (Face, Insta e YouTube).

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“Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”, Voltaire (François-Marie Arouet, pseudônimo de François-Marie Arouet)