Desde 2020, ano em que começou a pandemia de Covid-19, cujo alcance atingiu todo o planeta em pouquíssimo tempo, varrendo certezas quase absolutas do palco do mundo e descerrando com extraordinária velocidade a cortina da insegurança e da instabilidade, de vez em quando, indago-me: O que ficou de aprendizado para a humanidade?

 

Ao se observar a situação atual, após quase dois anos e meio de duração da pandemia, todavia, parece que pouca gente aprendeu, de fato, algo de verdadeiro valor espiritual. Uma parte considerável da sociedade continua entorpecida, como zumbi, embalada pelo sono mortal da inconsciência, alguns ainda apregoando que a covid-19 “é só uma gripezinha”.

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Mas, por ora, deixemos as questões de ordem espiritual à parte. Citemos hábitos simples de higiene como o de lavar as mãos com frequência, cuidado elementar e básico na pandemia, que muitos não incorporaram nem nos picos de contágio por covid-19, com centenas de óbitos diários no Brasil, em que não havia no país a disponibilidade de vacinas nem remédios com comprovada eficácia.

 

E o uso de máscaras, então, tão efetivo para evitar o contágio e a proliferação do novo coronavírus e suas variantes? Quantas guerras foram travadas para que parte da população (notadamente a que segue as desorientações do presidente do nosso país), seguisse com rigor o uso desse pequeno tecido que cobre a boca e o nariz?

Aliás, para quem tem lucidez e acompanha a orientação da ciência, continua valendo a recomendação de lavar constantemente as mãos e usar máscaras em lugares suscetíveis à fácil transmissão do vírus, bem como evitar aglomerações, uma vez que a quarta onda está aí a elevar novamente o número de pessoas infectadas.

 

Embora a vacina ajude a evitar o agravamento e a morte de quem for infectado pelo novo coronavírus e suas variantes, não impede que a pessoa desenvolva a doença. Uma vez que o vírus adentre o corpo, nunca se sabe quais as consequências e as perigosas sequelas pós-covid. Assim, o melhor remédio é a prevenção.

 

De quem continua entorpecido, a andar como um zumbi pelas passarelas do mundo e da vida, a acreditar em fake news, mesmo as mais absurdas possíveis, que não se comoveu com a dura realidade de mais de 670.000 mortes no Brasil e não se sensibilizou com a dor e o sofrimento das famílias que perderam seus entes queridos, e ainda afirma ser tudo culpa do destino das pessoas falecidas, como esperar aprendizados em uma esfera mais sutil e elevada?

 

Como citei anteriormente, muitos sequer ficaram alertas para lavarem suas mãos com mais frequência, nem mesmo ao chegar em casa… Caramba, quanto egoísmo transbordado nesse tipo de comportamento! Quanta insensibilidade, inconsciência e ignorância! Não despertaram para cuidados mínimos com a vida – consigo, com o próximo, incluindo a própria família e demais pessoas de seu círculo mais íntimo de convivência.

Simplesmente, não abriram a mente e o coração para o aprendizado com a sagrada escola da vida, não disponibilizaram em si sequer um pequeno espaço de silêncio para aceitar e acolher novas lições existenciais proporcionadas pela pandemia antes de as vacinas chegarem, como o risco de adoecer gravemente e vir a óbito muitas vezes, em apenas uma semana, independentemente da faixa etária.

 

Por outro lado, há uma parcela mais sensível da população mundial que certamente deixou-se engravidar em nível espiritual e cresceu em compreensão e sabedoria universal nestes tempos pandêmicos.

 

Infelizmente, muitos não aproveitaram a oportunidade, ainda que forçada, para se recolherem e olharem para dentro de seu mundo interior, às vezes inabitado por toda uma existência. Na insistência de manter a atenção e o olhar apenas para o mundo exterior, pisam e deixam para trás a iluminada e divina face do ser humano – aquela constituída de puro silêncio e paz, que se encontra além do corpo, além da mente.

 

Nessa condição de superficialidade do ser, parte-se desta dimensão terrena sem levar consigo o gosto de dançar a valsa cósmica da Existência no salão da paz e do contentamento com a vida em si mesma, que brota de repente, por meio de uma simples respiração com atenção plena e liberta de obstruções.

 

Vale ressaltar e vivificar estas palavras de Kiran Kanakia, místico sufi indiano:

 

“A Existência em cada momento lhe dá a oportunidade de despertar.”

 

“Por que você não compreende verdades muito simples da vida? Apenas acorde e compreenda em que você tem errado. E o certo virá por si mesmo. É tão simples!”.

 

“A compreensão liberta.”

 

Namastê!

 

*BENEDITA ENILDES CORRÊA é administradora, terapeuta corporal e professora de Yoga.

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