Entramos em 2022 com uma certeza: será um ano de muitos questionamentos sociais. Num ano eleitoral permeado por Copa do Mundo, denúncias, dossiês e eclosões associativas, com a sociedade historiando seu destino em tempo real, conectada, o caldo será de pouca calmaria. As águas se turvarão. Começou-se com as Fake News. Terminará sabe lá como; rogamos que seja com um (ou uma) presidente legitimamente eleito (a), mantendo-se ileso o processo eleitoral democrático.
Os movimentos sociais preparam uma grande batalha, os sindicatos, os sem-terra, os sem teto, e mais os sem tudo, se voltarão e encontrarão no grito, há certo tempo abafado, a expressão de suas certezas. A classe média, mais uma vez, será chamada para ver, e não para crer somente, e dar seu testemunho, direção a um sentimento de polaridade ideológica nunca dantes visto na política nacional. Nunca o país precisou tanto de seus teóricos como agora. O dar sentido a algo crescente já tarda de tempo.
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A história costuma ser implacável com aqueles que surfam na onda dos acontecimentos, mas sem apreendê-los pela consciência crítica. Winston Churchill quase pôs à prova a aliança contra o eixo na Segunda Guerra Mundial quando mandou bombardear a frota francesa no norte da África, temeroso que caísse em mãos alemãs. E a água, de turva, só não enlameou de vez em razão de Hitler ter ordenado, na sequência, o ataque ao sul da França. Errou, também, e os aliados puderam contar novamente com os franceses.
A ofensiva, por aqui e em nosso tempo, é de dimensão menor. O que há a ser considerado é que não existe inimigo no horizonte que se possa segurar aos safanões, bem ao temperamento dos que sempre utilizam das forças de poder para mantença dos próprios privilégios. O que se tem é uma ideia, ou várias, capitaneada por um forte sentimento de contestação. É preciso desvendá-lo, teorizar sobre ele, conhecer suas nuances e agir com precisão científica; senão, o retrocesso às portas baterão.
Pobre de um país que não honra seus pensadores. São imprescindíveis no gerenciamento de crises político-sociais. É preciso dar identidade aos jovens, segurança e vazão para a energia que carregam. Não lhes oculte da singular natureza. A explosão, no derradeiro, é incalculável. Perguntar-lhes com simplicidade e clareza – o que querem? – é começo, parte, portanto, da solução. Não se utilize da arrogância, do despreparo, isso que aí se agiganta exige mentes calejadas. E a temos, com certeza. Platão implorou pelo Estado comandado por sábios. Não se vai a tanto, basta colocá-los em alerta.
Lembro-me do conselho paterno, se ganhou a briga, por que humilhar o adversário? E parece que vale para os de agora privilegiados. Não fizeram a necessária leitura dos acontecimentos do século XVIII, lá na Revolução Francesa? A decapitação é o caminho do luxo, da falta de senso humanitário, da indiferença.
Não há mais espaço para a existência da Casa Grande ou qualquer metáfora que a possa fundamentar. Somos iguais, irmanados pelo sentimento humanitário e dispensamos os heróis fabricados pelas baionetas. Todos o são; todos fabricadosna luta pela sobrevivência e dignidade.
Daqui, do meu ninho que penso indevassável, busco não perder a paz. O país a quer. Somente isso.
É por aí…
*GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO (Saíto) é formado em Filosofia e Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); é membro da Academia Mato-Grossense de Magistrados (AMA), da Academia de Direito Constitucional (MT), poeta, professor universitário e juiz de Direito na Comarca de Cuiabá. E é autor da página Bedelho Filosófico (Face, Insta e YouTube).
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