O Botafogo perdeu para o Avaí, a quarta derrota consecutiva no Brasileirão, na noite desta segunda-feira. Ao entrar na zona de rebaixamento, a equipe foi vaiada no Nilton Santos. E o técnico Luís Castro disse entender a reação da torcida.

– Era importante ganhar, não a fizemos e é uma situação horrível para nós. O adversário nos desestabilizou e a equipe nunca conseguiu se encontrar. Não vou dizer que é normal, mas é importante a equipe ter peso e experiência para essas situações. O que posso dizer é que se já estávamos pressionados, agora estamos mais, não há o que esconder. Se as coisas começassem mal e tivéssemos melhorados seria melhor, mas aconteceu o contrário. Precisamos que todos deem seu melhor – afirmou Luís Castro.

Especialmente após a partida, o público presente mostrou a sua insatisfação. Além das vaias, a torcida gritou “olé” enquanto o Avaí trocava passes.

– Nunca nenhum torcedor fica contente quando o time está numa situação dessas. Vejo com normalidade. Não há nenhum torcedor do Botafogo que esteja contente com a situação que está no momento. É normal o que acontece. Não pode ter ninguém dentro do estádio que goste do resultado, principalmente no segundo tempo. O primeiro tempo o time esteve coesa, compacta e foi bem na frente por dentro e por fora. Acho normal aquilo que acontece (pressão da torcida) – completou o treinador português.

Com 12 pontos, o Botafogo está na 17ª colocação. Enfrenta o São Paulo, quinta-feira, no Nilton Santos. Após um período de euforia da torcida, especialmente com as contratações da SAF, o treinador pregou pés no chão. Disse que não venderá ilusões:

– Eu acho que todos que analisam futebol com profundidade, as equipes e os jogadores em seu todo, aquilo que conseguimos em determinados momentos não está totalmente de acordo com as valias dessas equipes. Elas conseguem muitas vezes potenciar suas valias através da dimensão psicológica, assim como em alguns momentos do campeonato essa questão põe as equipes pra baixo. Temos que encontrar um ponto de equilíbrio, naturalmente o Botafogo não vai perder sempre, vai chegar o ponto de virada. Estamos num momento em que a equipe está mais desacreditada mentalmente. Não vender ilusões é não deixar de fazer análises profundas só pelos resultados. Tenho convicção que a equipe vai continuar na Série A, mas vender a ilusão de que se pode ser campeão, chegar à Libertadores, eu prefiro não vender. Nesse momento lutamos para ficar na Série A.

O que quer dizer quando fala sobre o ambiente ruim?

O ambiente que eu falo é o que o resultado cria dentro da equipe. A torcida apoiou ao longo do jogo, apesar dos momentos de desagrado. Não é isso que estou falando. A minha preocupação está na equipe, a diferença é que muitas coisas que aconteciam antes não acontecem agora. Tínhamos 30 jogadores à disposição, agora temos pouco mais de 20. Vínhamos de uma sequência de vitórias, agora temos uma sequência de derrotas. Tínhamos semanas livres de trabalho para uma equipe em transição, conseguíamos trabalhar o que dava errados nos jogos, hoje tudo é diferente. Esta é a análise da equipe técnica, isso que está acontecendo. O Matheus Nascimento, que entrou no segundo tempo, vem de três jogos em seis dias pela Seleção sub-20, jogou ontem à noite e entrou hoje a 20 minutos do fim, porque não tinha condições de jogar mais tempo, assim como aconteceu com outros jogadores. Não estou justificando, porque temos que ganhar dentro dessas condições. Não perdemos por causa disso, perdemos porque não conseguimos transformar em gol o volume que tivemos no primeiro tempo.

Botafogo sofreu gols em oito dos últimos 10 jogos. Como melhorar isso?

Temos que fazer o que fizemos hoje, jogar com um bloco mais compacto, que provoque mais dificuldades no adversário, e fizemos isso. Tivemos dois chutes no nosso gol, um que deu gol e outro no fim do jogo. Conseguimos chegar várias vezes ao gol do adversário, temos que aumentar nossa agressividade, ser mais forte no um contra um e não dar tanto espaço entrelinhas. A falta que resultou no gol, tínhamos três jogadores nosso contra um deles e ele conseguiu passar, temos que fazer as faltas bem mais longe do nosso gol.

Substituições

A substituição do Oyama é porque estávamos jogando com um volante, o segundo volante Tchê Tchê estava mais adiantado, e o Chay como 10 perto do Erison. Para o lugar do Oyama tínhamos o Kayque ou o Barreto. Coloquei o Romildo no lugar do Tchê Tchê. Íamos mexer de novo no meio-campo, mas não quis abdicar do 10 e optei pelo Matheus Nascimento. No banco não tinha mais ninguém para o ataque. Abdicamos de um lateral-direito defensivo para ter mais gente na frente. Ficamos sem espaço para substituições, na ponta já tínhamos colocado o Chay e não tinha mais pontas. Poderíamos ter tirado o Erison, mas não tinha mais homens de ataque, tivemos dificuldades. Não gosto de fazer substituições por fazer, os homens que tínhamos no banco eram pra fazer funções iguais de quem estava no campo. Não faço diferenciação de jogadores, o elenco tem que estar unido e focado para desempenhar melhor a tarefa.

Por que o Patrick não está jogando?

Falar sobre questões individuais é algo que não gosto de fazer em momentos mais delicados, porque todos os que não jogaram passam a ser os melhores e os que jogaram tinham que ser substituídos. O futebol é isso, o treinador é o pior e se tivesse outro estaríamos ganhando. Futebol é não estar de acordo, é estarmos juntos na vitória, mas quando perdemos tem que trocar tudo. E vai continuar a ser assim o futebol. O que posso dizer é que todos os jogadores devem trabalhar bem e, como todos fazem isso, é uma questão de escolha. Jogadores que não jogaram bem hoje já fizeram vários jogos bem. Nosso desempenho não foi bom no segundo tempo. Se tivéssemos ganhado, as perguntas seriam sobre evolução e sobre o próximo jogo. Todos somos horríveis quando perdemos e somos fantásticos quando vencemos.

Mensagem para o torcedor

Dignidade e trabalho orientam minha vida e vou sempre fazê-lo, mesmo que eu seja xingado por todos. Nada me desvia do meu caminho, o trabalho que faço é muito pensado. Não ganho sempre, tenho temporadas ruins, como todos os trabalhadores. Uma coisa que não muda é a forma como encaro meu trabalho, podemos não jogar bem, mas lutamos até a exaustão. O futuro do Botafogo passa por conseguirmos nos levantar após as derrotas. Enquanto houver energia vamos seguir em frente. Ser botafoguense não é só quando se ganha, se não o clube não teria resistido a tantos anos de ausência de sucesso, resistiu porque sabem ser Botafogo e foram escolhidos. Temos que saber viver no insucesso e nos levantar.

Os jogos mudam muito em função das peças que colocamos em campo. Com os jogadores que estão fora, talvez o jogo fosse diferente, não digo que não. O que interessa para mim é a forma como a equipe se comporta, e hoje se manifestou de forma diferente no primeiro tempo. É uma reflexão que vem desde o início do trabalho, encontrarmos o equilíbrio na montagem dos blocos, hoje decidimos abaixar um pouco e tentar encontrar o gol adversário de uma outra forma. Conseguimos muitas vezes em ataques rápidos, tivemos menos tempo de ataque, mas chegamos mais vezes. Minha entrevista tinha que ser um minuto, porque quando se perde ninguém quer saber os motivos, o que interessa é como que se vai ganhar no futuro. Estou respondendo porque me perguntaram, por mim não falava sobre isso, porque sei que não conta para nada. (GE)