Uma sessão especial, tomada pela emoção da família e dos amigos de José Garcia Neto, marcou as comemorações do centenário do ex-governador, ex-prefeito de Cuiabá e ex-deputado federal nascido no dia 1º de junho de 1922, em Rosário do Catete, Sergipe. A sessão começou com a apresentação de um documentário produzido pela TV Assembleia sobre a vida e a obra do grande político mato-grossense que nos deixou em 2009, aos 87 anos.

A homenagem, proposta pelo deputado Carlos Avallone (PSDB), emocionou todos os presentes, a começar pela viúva Maria Lygia, que impressiona pela lucidez e bom humor do alto de seus 94 anos.

“Explode coração…de emoção.  Mas não vou cair, eu vou continuar de pé para agradecer especialmente ao deputado Avallone por esta merecida homenagem ao homem com quem tive a honra de passar 63 anos, como esposa e colaboradora de seu governo. Eu gosto de você, Avallone, não só por essa sessão especial, eu gosto de você desde os tempos em que fui amiga de seu pai o desembargador Avallone e a esposa dele, minha amiga aqui presente, sua querida mãe Ida. O deputado Avallone se comporta nesta Assembleia com o decoro, a dignidade, a eficiência e o equilíbrio emocional que um parlamentar deve ter”, disse a viúva de Garcia Neto.

Maria Lygia destacou os três pilares básicos da personalidade de Garcia Neto: a ética, a honestidade e a lealdade. “Meu saudoso esposo escolheu Mato Grosso para constituir sua família, hoje representada pelos nossos filhos, netos e bisnetos que continuam a aplicar o que Garcia ensinou. Meus dois filhos Catonho [Carlos Antônio] e Berinho [Robério Garcia] , minha filha Maíce, minhas noras, meu genro Palma, meus 21 netos, 13 bisnetos, vocês me aquecem o coração todos os dias”, disse a matriarca da família Garcia.

Em seguida Maria Lygia agradeceu ao senador Jayme Campos (União). “Obrigada, Jayme, pela grandeza e generosidade ao permitir que meu neto Fabinho Garcia assumisse o cargo de Senador da República, representando muito bem este estado que nos acolheu com tanto carinho e ocupando com os mesmos princípios éticos o cargo que seu avô infelizmente não conseguiu ocupar. Garcia Neto, um nordestino, também se tornou um legítimo cuiabano, um guerreiro em defesa deste povo maravilhoso, na verdade um cuiabano realmente de tchapa e cruz”, destacou.

Dona Maria Lygia também foi homenageada pela suplente de vereador Maria Avallone , de Cuiabá, com uma placa comemorativa. Maria Avallone fez uma surpresa a dona Maria Lygia, trazendo ao plenário uma antiga colaboradora da ex-primeira-dama, Netinha. Emocionada, a ex-servidora destacou o trabalho de Maria Lygia na promoção do artesanato e da cultura mato-grossenses.

“Estou aqui para agradecer em nome de todos os artesãos que dona Maria Lygia estimulou e deu condições de desenvolver sua arte. Essa mulher maravilhosa foi mentora de programas de incentivo ao artesanato, valorizando o artesanato raiz e buscando nas regiões ribeirinhas a cerâmica, a  tecelagem, a viola de cocho, as cestarias e outros trabalhos manuais. Dona Maria Lygia deu dignidade e realização profissional a uma parcela de cidadãos que viviam no anonimato”, disse Netinha.

VALORIZAÇÃO

Em seu discurso, o deputado Carlos Avallone destacou a importância de homenagear e valorizar as personalidades que trabalharam com ética, eficiência e correção nas décadas de 60 e 70 para transformar Mato Grosso no estado desenvolvido que é hoje. Garcia fez a diferença e criou as bases para o crescimento, dotando o estado de energia, estradas pavimentadas e comunicações.

O senador Fábio Garcia (União) falou em nome da família, agradecendo ao deputado Avallone a iniciativa desta merecida homenagem ao seu avô

Foto: Helder Faria

Garcia Neto também foi responsável pela implantação dos distritos industriais dos principais municípios do estado. O maior deles, o Distrito Industrial e Comercial de Cuiabá, leva o nome dele, numa homenagem do deputado Avallone ao ex-governador. O deputado também foi o autor da resolução que criou a Medalha do Mérito Industrial José Garcia Neto.

Avallone classifica Garcia Neto como “o mais cuiabano de todos os migrantes que governaram Mato Grosso, homem que sempre lutou pelos interesses da população, inclusive no episódio da divisão do estado em 1977. Ele era contra a divisão, refletindo o pensamento de boa parte da população na época, que defendia a manutenção do grande estado uno, o que fortaleceria a economia regional”.

Avallone destacou também a preocupação de Garcia com a assistência social, trabalho comandado por dona Maria Lygia que criou a Fundação de Promoção Social (Prosol), a Casa do Artesão, a Fundação Cultural e o Centro de Reabilitação Dom Aquino Corrêa. “Nosso reconhecimento e agradecimento a esta mulher de fibra que sempre se preocupou com a vida das pessoas mais carentes, abraçando e promovendo o artesanato e a cultura mato-grossense”, disse o deputado.

Encerrando a carreira política nos anos 80, Garcia voltou a se dedicar à família e comemorou com a esposa em 2006 as Bodas de Diamante, sessenta anos de união conjugal. Também escreveu seu livro de memórias, intitulado ‘Mato Grosso – Estado Solução’, publicado depois de sua morte, e que foi distribuído a todos os parlamentares estaduais.

“José Garcia Neto nos deixou em 2009, aos 87 anos, mas continuará vivo eternamente pelo seu trabalho e dedicação aos cuiabanos e mato-grossenses”, finalizou o deputado Carlos Avallone.

GARCIA NO SENADO

O senador Fábio Garcia (União) falou em nome da família, agradecendo ao deputado Avallone a iniciativa desta merecida homenagem ao seu avô. Ele destacou a presença forte de sua avó Maria Lygia no comando da família. ”Vovó, você é nossa inspiração, um orgulho pra todos nós, sua força, sua criatividade, seu pensamento lúcido e vitalidade que impressionam a todos”.

Fábio Garcia fez um agradecimento especial ao senador Jayme Campos, “pela oportunidade de ser Senador da República, cargo esse que meu avô buscou mas não conquistou. Hoje tenho a honra de ocupar o mais alto cargo legislativo do país, representando meu avô da melhor forma possível”. Agradeceu também o pai Robério Garcia (Berinho) e o tio Carlos Antonio (Catonho), que continuam lutando para destacar o legado da família.

“Tenho um orgulho que não cabe no meu peito de ser um Garcia, do trabalho de minha avó e meu avô que sempre esteve à frente de seu tempo ao preconizar Mato Grosso como estado-solução que é hoje. Mais importante que as obras foram seus princípios de homem justo, honesto, sério, corajoso e de um espírito público exemplar, que sempre colocou o bem comum muito acima de qualquer interesse particular, algo raro na política de hoje. E são exatamente esses princípios que tento reproduzir hoje no Senado, permeando na política o legado dos valores essenciais da ética, da correção e desprendimento. Meu avô não só fez história. Ele construiu laços de verdade com Cuiabá, com Mato Grosso e com a família maravilhosa que criou e cultivou”.

O genro de Garcia e Maria Lygia, ex-prefeito e ex-deputado federal Rodrigues Palma, lembrou que foi pego de surpresa, logo após o casamento com Maíce. “Garcia e Maria Lygia me pegaram de surpresa e disseram: você vai ser prefeito de Cuiabá. Eu tinha 32 anos, era bancário do Bemat, professor da Escola Técnica e mesmo sem experiência aceitei o desafio e fui cumprir a missão que me foi dada, com a ajuda de muitos amigos, para não decepcionar o grande político Garcia Neto. “Eu só gostaria que ele estivesse aqui hoje para ver o estado-solução que ele preconizou, profecia totalmente realizada graças também ao seu trabalho”.

Osvaldo Sobrinho, professor, ex-deputado estadual e federal constituinte, secretário de Educação e vice-governador de MT, lembra que chegou em Cuiabá em 1967 e conheceu o pai do ex-senador Louremberg Nunes Rocha, Joaquim “Rochinha” que o apresentou a Garcia Neto. “Garcia e dona Lygia me adotaram como filho e tive o prazer de conviver com esta família maravilhosa”. Sobrinho também destacou o trabalho social de Maria Lygia e Garcia Neto: “imaginem quantas pessoas foram tratadas e salvas através da Fundação Dom Aquino Correa, um dos grandes legados do casal”.

COBRANÇA

O ex-prefeito, ex-deputado, ex-senador e ex-governador Júlio Campos parabenizou o deputado Avallone pela justa homenagem a Garcia e fez uma cobrança pública: “Estamos perdendo nossa história e memória aqui em Mato Grosso e esta sessão deveria ter a presença de todos os parlamentares e também do governo do Estado. A minoria de cuiabanos e mato-grossenses autênticos, ao lado dos novos mato-grossenses e cuiabanos, temos que nos unir pois estamos sendo submergidos em nossa própria terra. Garcia Neto e Maria Lygia são referências positivas para as novas gerações e merecem todas as homenagens”.

O presidente da FIEMT, Gustavo Oliveira, disse que a indústria de Mato Grosso deve muito a Garcia Neto, que plantou as sementes da industrialização através da visão de futuro que priorizou os distritos industriais “A indústria de Mato Grosso agradece este legado. A FIEMT agradece também pelo trabalho do ex-presidente da Federação, Carlos Antonio de Borges Garcia, hoje nosso conselheiro emérito e também ao ex-diretor Fábio Garcia que já chegou ao Senado aprovando o projeto que vai reduzir as contas de energia elétrica. Vamos trabalhar pela aprovação também na Câmara Federal deste projeto que beneficia os consumidores de Mato Grosso e de todo o país”.

INJUSTIÇADO

O deputado estadual Wilson Santos (PSD) elogiou a iniciativa de Avallone ao homenagear e resgatar a memória do ex-governador, que segundo ele “morreu injustiçado,  embora não dissesse isso abertamente. Garcia fez o asfalto Cuiabá-Chapada dos Guimarães, mas o nome da rodovia não é o de Garcia Neto. Da mesma forma, Garcia pavimentou a ligação a Poconé, que também não leva seu nome. Precisamos fazer justiça ao grande estadista por tudo que fez por Mato Grosso”, disse Santos.

O jornalista Onofre Ribeiro participou por videoconferência, pois estava visitando um filho que mora em Aracaju. Onofre lembrou que veio para Cuiabá a convite de Garcia Neto, para coordenar a comunicação social do governo do estado. “Garcia foi mesmo um visionário, defendendo Mato Grosso como o estado-solução que é hoje, num momento em que a economia ainda era incipiente. Mas o governador já tinha essa leitura correta do futuro do estado”, disse.

O jornalista lembrou que o ex-presidente Geisel enviou a Garcia o projeto da criação de Mato Grosso do Sul. Embora fosse contra a divisão, Garcia colocou sua equipe em Brasília para estudar modificações necessárias na lei, contemplando as necessidades dos dois estados que Garcia tanto amava. Geisel aceitou integralmente as modificações que deram a MT a possibilidade de ser o estado próspero que é hoje e a MS também. Garcia acabou aceitando a divisão como um episódio em que irmãos se separavam sem o litígio do divórcio, mesmo com provocações das lideranças do sul. Agiu como estadista mesmo sendo contra a divisão”, lembrou Onofre.

Quem também participou por videoconferência foi o sobrinho de Garcia, José Gilton Pinto Garcia. “A família Garcia é uma das poucas a oferecer três governadores ao Brasil. Garcia Neto em Mato Grosso, meu pai Luis Garcia em Sergipe e eu no Amapá. Gilton lembrou que logo após a eleição de seu pai em Sergipe, Garcia se mudou para lá e colaborou com o governo do irmão durante três anos, dirigindo o departamento de obras e depois o departamento de estradas de rodagem. Gilton foi deputado estadual e federal por Sergipe e depois governou o Amapá.