A análise dos ciclos econômicos de Mato Grosso, desde a sua colonização até os dias atuais, mostra que a história econômica estadual registra três grandes revoluções.

A primeira é a revolução mineral, que trouxe os bandeirantes paulistas até estas terras à procura de ouro e outros metrais preciosos em 1719. O ciclo mineral sustentou a economia regional por todo o primeiro século de sua existência tendo o ouro, diamantes e esmeraldas como produtos principais.

A segunda revolução surge com a descoberta de riquezas vegetais, na medida que os descobridores adentravam as florestas tropicais nas entranhas do interior de Mato Grosso. A exploração de seringais nativos, madeiras nobres e a poaia (Ipecacuanha), um pequeno arbusto de grande valor medicinal, intensamente utilizada pelos povos indígenas nativos. Os exploradores passaram a exportar a poaia para o continente europeu que já tinha uma indústria farmacológica bem desenvolvida.

A erva mate foi produto muito importante desse ciclo vegetal. Após esse ciclo, e por considerável lapso temporal, a economia estadual desenvolveu a pecuária em pastagens nativas e a produção agrícola familiar, mais utilizada para consumo próprio do que com intenções mercadológicas.

Tivemos um período de industrialização de cana de açúcar, carnes bovinas e erva mate em instalações industriais ao longo do Rio Paraguai. O estado chegou a ser exportador de, erva mate industrializada, açúcar, aguardente e carnes semi-processadas, sob a forma de charques.

 

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A terceira e maior revolução econômica surge no estado a partir da década de 1980. A Embrapa, empresa estatal de pesquisa agropecuária, desenvolveu pesquisas demonstrando que o cerrado poderia produzir grãos (arroz, milho e soja) em escala industrial, desde que se utilizasse variedades específicas de arroz, milho e soja e fosse feita a correção da acidez dos solos e adubados intensamente com fertilizantes à base de fósforo e potássio. Fertilizantes industrializados já amplamente utilizados na agricultura americana e nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.

Tem início, então, a revolução agropecuária, posteriormente apelidada de “agribusiness”, ou agronegócio, que acelerou a atividade econômica e ocupou a posição de motor propulsor da economia do estado até os dias atuais.

A partir do início dos anos 1990, a produção agropecuária do estado deu grandes saltos no rendimento físico das lavouras, aumentos expressivos da produção, da produtividade e de lucratividade. Mato Grosso transformou-se em um dos maiores produtores e exportadores de grãos, carnes, fibras e produtos florestais do mundo. No período de 2000 a 2020, o PIB do estado cresceu em ritmo chinês, mais de três pontos percentuais cima do PIB nacional. Ampliou a participação no PIB nacional de 0,64% em 1994 para 2% em 2020. A longa cadeia produtiva do setor agropecuário responde por 56% do PIB estadual. Exportamos mais de 80% do que produzimos, mas quase tudo em estado primário, as chamadas commodities agrícolas, com pouco ou nenhum beneficiamento, portanto, com baixo valor agregado.

A quarta revolução virá, na minha modesta visão, da industrialização da produção agropecuária do estado. O grande desafio de Mato Grosso é se transformar, além de campeão nacional na produção de grãos, carnes, fibras e madeiras, em estado industrial, um campeão nacional e mundial no processamento de alimentos.

A rigor, esse processo de industrialização tardia já está em marcha. Precisa ser priorizada, impulsionada e acelerada. Na área da agroindústria, das dez maiores empresas e marcas processadoras de alimentos do Brasil, nove já possuem plantas industriais instaladas em território mato-grossense.  A industrialização do etanol de milho tomou tração nos últimos anos, somando-se às plantas já existentes que produzem álcool e açúcar da cana de açúcar, tornando-se um dos mais importantes ramos da indústria local. A chegada em breve de duas ferrovias vai oferecer melhor infraestrutura logística para o transporte da produção industrial, melhorando a competitividade e aumentando o interesse de investidores nacionais e estrangeiros.

Vejo na industrialização a grande prioridade de todos os mato-grossenses. Para garantir a sustentabilidade do desenvolvimento econômico e social pelas próximas décadas, melhoria das condições de vida e atuar como um importante vetor para a redução das desigualdades sociais e regionais que ainda perduram no estado.

 

*VIVALDO LOPES DIAS   é professor e economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em  MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP  

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