Zélia Gattai Amado de Faria, ou apenas Zélia Gattai, foi escritora, fotógrafa e memorialista, tendo contribuído sobremaneira para a literatura nacional. Inicia a carreira como escritora aos 63, quando lança o seu primeiro livro, tendo sido coadjuvante do companheiro por muitos anos.
A memorialista, como gostava de ser chamada, é filha de imigrantes italianos do movimento político-operário anarquista. Seguiu os passos do pai e da mãe, sempre se interessando pela política.
E, em razão dos movimentos políticos que ela e o companheiro sempre participaram, no período da ditadura acompanhou o exílio de Jorge Amado na Europa por três anos.
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Zélia sempre esteve ao lado do marido passando a limpo as suas escritas, transcrevendo para a máquina de escrever os originais, ou o ajudando no processo de revisão. O gosto pelas letras sempre foi muito real na vida da memorialista. O tempo do exílio foi um momento em que ela se especializou em fotografia e teve a oportunidade de estudar por lá.
Assim que começou a escrever se dedicou em narrar sobre a sua família. Como primeira obra publicada teve um livro de fotobiografia de Jorge Amado intitulado “Reportagem incompleta”.
Todavia, a obra que deslanchou a carreira da escritora foi o livro “Anarquistas graças à Deus”, inclusive, transformado em minissérie de uma grande emissora de televisão, e que contava a saga da sua família recém chegada de Florença. Foi possível perceber a origem de tão importante mulher, a forma com que a família se portava, e entender um pouco da convivência em verdadeiras crônicas íntimas.
A memória afetiva a fez deixar de ser reconhecida apenas como a esposa de Jorge Amado, saindo da condição de coadjuvante no universal mundo literário. É dela: “Dizem que a vida muitas vezes parece um romance, mas ela é uma realidade e é essa realidade que conto.”
O número 33, da rua Alagoinhas, abrigou o casal por muitos anos. A conhecida “Casa do Rio Vermelho”, na atualidade memorial, possui um belo jardim, onde cada pedacinho rememora a arte da escrita.
A alegria e a ternura são contagiantes, mesmo porque o imóvel foi palco de celebração da vida junto a amigos e amigas. Começar e terminar o passeio pelo jardim, é saber que a respectiva visita é assunto para um dia inteiro. Pés de manga, jambo, sapoti, tamarindo e pitanga receberam as cinzas do casal letrado.
Tudo lembra um bom livro, cada tiquinho do recinto, que está brilhantemente preparado para visitação. Enquanto a casa é explorada pelos visitantes, cartas e trechos de livros são narrados, o que traz uma vontade imensa de se debruçar nas obras dela e dele. Ditou: “Continuo achando graça nas coisas, gostando cada vez mais das pessoas, curiosa sobre tudo, imune ao vinagre, às amarguras, aos rancores.”
O laboratório fotográfico de Zélia Gattai se encontra preservado no local, com alguns retratos expostos e pendurados com se estivessem acabado de revelar a imagem.
Uma vida em comum, ao gosto dela, é possível vislumbrar com a interessante visita. Fica bastante evidente nos cômodos que o conforto foi privilegiado. Passear por lá é pensar que naquela localidade viveu uma mulher dedicada incondicionalmente à história familiar e à escrita.
Zélia fez questão de deixar evidenciado o amor por Jorge Amado. No livro ‘Vacina de Sapo e outras lembranças’, discorreu sobre o primeiro e último beijo dos dois, dentre outras curiosidades da vida em conjunto. Contou, com toda a cômica inerente, que ao final da vida do marido, após muito tentar para trazer melhora à saúde fragilizada dele, fizeram uso de baba de sapo por indicação de um curandeiro.
Deixou o mundo da matéria em 17 de maio de 2008, lúcida, aos 91 anos. Marcou com a prosa o contar e encantar de sua vida e existência. Tinha lemas explicativos da sua escrita: “Uma leitura ou uma história só prestam, empolgam e nos fazem sonhar quando transmitidas com prazer e emoção.” E continua: “Escrevo, assim, com liberdade e com o coração.”
Viva Zélia!
*ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública do Estado de Mato Grosso.
CONTATO: www.facebook.com/goncaloantunes.debarrosneto