Gerar uma vida é uma das experiências mais marcantes para uma mulher. O momento mais aguardado é o de poder segurar o filho nos braços e levá-lo embora para casa. No entanto, para milhares de mães nem sempre isso é possível. São as ‘mães de UTI’, mulheres cujos bebês nasceram antes do tempo previsto, precisando de cuidados em UTI neonatal.
Todos os anos, cerca de 320 mil crianças nascem prematuras no Brasil. Os dados são do Sistema Único de Saúde (SUS), e demonstram ainda um crescimento no percentual desse tipo de nascimento no País. Em 2019, 11% dos nascidos vivos foram prematuros. Em 2020, o percentual foi de 11,31% e, em 2021, passou para 12,19%.
É considerado prematuro o bebê que nasce antes de 37 semanas de gestação. Os recém-nascidos podem ser classificados em prematuros extremos, moderados e tardios, conforme o número de semanas de gestação.
De acordo com a médica pediatra neonatologista, Paula Bumlai, esse aumento no percentual de partos prematuros também é observado em Mato Grosso. Coordenadora da linha materno infantil do Hospital Santa Rosa, a médica destaca que 9,39% dos bebês nascidos, em 2021, no hospital, vieram antes do tempo ideal de gestação.
“Temos observado um crescimento nesses números de alguns anos para cá. Por isso, o hospital investiu no serviço de medicina fetal, com UTI pediátrica dotada de equipamentos de ponta e uma equipe multiprofissional completa com médicos especialistas em neonatologia e gestação de alto risco. Além disso, temos enfermeiros, técnicos de enfermagem, psicóloga, nutricionista, farmacêutica, fonoaudiólogo e fisioterapeutas atuando na linha”, ressalta a médica.
Para falar sobre as experiências desafiadoras de um parto prematuro, duas mães de universos bem diferentes contaram um pouco sobre o que viveram.
O primeiro Dia das Mães da Dayane
Dayane comemora o primeiro mês de vida da filha Alice, que nasceu prematura em março de 2022.
Aos 28 anos, a bancária Dayane Graciele Galeano Lima vai comemorar seu primeiro Dia das Mães neste domingo (08/05). Moradora de Diamantino, ela e o esposo ganharam a pequena Alice Beatriz há pouco mais de um mês, em 31 de março de 2022.
“Até a gestação completar 6 meses estava tudo certo, com exames em dia e nenhuma alteração. Até que, em um final de semana, acordei com um desconforto e tive sangramento. Imediatamente entrei em contato com a minha obstetra, que me orientou a vir para Cuiabá. Fui internada no Santa Rosa, na madrugada de sábado para domingo (27/03), para monitoramento e uso de medicações. Porém, ao longo da semana o líquido que fica dentro da placenta começou a baixar muito. Foi então que a minha obstetra, Michelle Rocha, informou da necessidade do parto, pois tanto eu quanto Alice corríamos risco de infecção. E assim, por meio de uma cesárea, no começo do dia 31 de março deste ano, minha filha nasceu, com 29 semanas de gestação”, relembra Dayane.
Por conta prematuridade, a bebê precisou ir direto para a UTI neonatal para os cuidados necessários. “Ela era a menor de todas as crianças da UTI, com 1 kg e 310 gramas. Tão miudinha que o pezinho dela era do tamanho de um dedo da minha mão”, relembra a mãe.
Dayane conta que apesar do pouco peso, Alice não precisou ficar intubada. “Agora já está com 1 kg e 800 gramas, aprendendo a mamar com os exercícios da fonoaudióloga. Enquanto isso, eu ordenho meu leite para que em breve possamos começar a amamentação dela”.
Se a pequena Alice continuar evoluindo nesse ritmo, em breve poderá ir embora com a família para casa. “Meu maior sonho era poder comemorar o Dia das Mães com ela fora do hospital. Por mais que eu venha e passe bastante tempo com ela aqui, a gente sai e sente um vazio, parece que falta um pedaço”, comenta a mãe.
Prematuros também podem nascer de parto natural.
Médica Renata com a filha Alice, que nasceu prematura de parto natural.
A prematuridade não impede que uma criança possa nascer de parto natural. Um exemplo disso é o caso da médica Renata Andrade. Após uma gestação planejada e sem intercorrências, sua filha Alice nasceu com 34 semanas, de parto normal.
“Tive uma gestação tranquila, sem problemas. Mas na manhã do dia 05 de maio de 2021, percebi que estava perdendo um pouco do líquido amniótico. Quando cheguei ao pronto atendimento para realizar um ultrassom, já estava com quatro centímetros de dilatação. Sabia que estava em trabalho de parto. Rapidamente, a equipe médica do Santa Rosa preparou a suíte de parto humanizado e tudo evoluiu naturalmente. Alice nasceu perfeita, recebeu os primeiros cuidados e voltou para os meus braços. Não precisou de UTI, e com a assistência da equipe em dois dias estava amamentando”, recorda a médica.
Comemorando o primeiro ano de vida da Alice, Renata frisa que a experiência dela com o parto prematuro é algo que ainda mexe com suas emoções. “Quando me recordo, choro da experiência em que fui a paciente. Não esperava ter acontecido absolutamente nada do que aconteceu. Entrar em trabalho de parto prematuro, parir naturalmente, amamentar e ter minha filha um mês antes do previsto: foi tudo muito emocionante”.
Batalhas dentro e fora da UTI
Há quatro anos trabalhando como enfermeira na UTI neonatal do Hospital Santa Rosa, Suyane Elias de Melo afirma que os sentimento de impotência e solidão acompanham diariamente as ‘mães de UTI’. “Nós procuramos ter um olhar voltado não só para o bebês, mas também para as mães. O que mais ouvimos é “quando meu filho vai ter alta? Será que ele vai ter alguma sequela?” E por isso procuramos levar acolhimento e empatia, dividindo o fardo com elas”.
Dialog – Neonatologista Paula Bumlai
Nenonatologista do Hospital Santa Rosa, Paula Bumlai, no quadro de fotos com as altas da UTI infantil.
“Assim que o bebê é internado, nós procuramos acolher a família, envolvendo os pais na rotina. Cada profissional da equipe explica o que é feito em prol do desenvolvimento da criança. Estimulamos e ensinamos a ordenha do leite materno, como amamentar, os cuidados de higiene. Os pais são estimulados a participarem do método canguru, quando o bebê é colocado em contato pele a pele, de forma gradativa. Tudo isso se reflete no desenvolvimento dessa criança”, explica a neonatologista, Paula Bumlai.
Essa assistência muitas vezes extrapola o período da internação. “Tem bebê que fica 4, 5 meses e a gente se apega. Muitas mães continuam mantendo contato conosco, compartilhando a evolução. E isso é gratificante. Cada criança que sai de alta é uma vitória”, frisa Paula.