Ídolo como jogador, campeão da Sul-Americana como treinador. Para uma geração, um dos melhores laterais que já passaram pelo Athletico. Alberto Valentim tem na vida e na carreira uma história dentro do Furacão. A passagem como jogador deixou boas lembranças, a como treinador, rendeu um título e uma saída no começo das principais competições do ano: a Libertadores, a Copa do Brasil e o Brasileirão.

Alberto Valentim falou com exclusividade ao ge sobre como foi a conversa que definiu sua demissão do Athletico.

– O Márcio (Lara, vice-presidente) e o Alexandre Mattos (CEO) me chamaram para conversar dizendo que ali estava se encerrando o meu ciclo no Athletico. Fiquei triste e chorei. Chorei para vir para cá também. Isso aconteceu só duas vezes na minha carreira. Quando fui contratado, chorei para vir, e chorei na saída, mas faz parte.

Era um sonho vir para cá como treinador, mas o sonho maior era ser campeão e eu consegui marcar o nome na história. Falei até que queria ficar 10 anos aqui, mas o futebol não é da forma que a gente quer.
— Alberto Valentim, ao ge

Mesmo com a diretoria admitindo um erro de planejamento no início da temporada: como falta de amistosos, jogadores iniciando a temporada ainda sem ritmo, e principalmente com o time principal ainda sem entrosamento, Alberto Valentim acabou sendo demitido após a derrota para o São Paulo, por 4 a 0, na estreia do Brasileirão.

Na entrevista exclusiva ao ge, o treinador fez questão de demonstrar muita gratidão ao presidente Mario Celso Petraglia, a quem chama de “nosso líder”, falou sobre as dificuldades que encontrou, como encarou as cobranças da torcida, e disse que um dia vai voltar.

– Vou trabalhar muito para ir bem em outros clubes para voltar aqui de novo, ser campeão aqui de novo. Vou seguir minha vida como profissional. Vou trabalhar em vários clubes, vir enfrentar o Athletico, mas o carinho é para sempre. Eu amo o Athletico e amo a torcida do Athletico. Porque a minha história é com a Arena, ouvindo os torcedores. Mas dói demais. Passei algumas noites sem dormir por ter sido alvo de criticas pesadas, mas faz parte. Futebol é emoção.

Alberto Valentim em entrevista exclusiva ao GE — Foto: Arquivo pessoal

Alberto Valentim em entrevista exclusiva ao GE — Foto: Arquivo pessoal

Confira a entrevista completa com Alberto Valentim

Como você está?

Estou bem triste com o que aconteceu, mas os dias vão passando e vão melhorando. A vida segue. Vou ficar em Curitiba até mês que vem, vendo jogos, estudando para quando surgir a oportunidade seguir minha carreira.

Você tem uma carreira muito vinculada ao Athletico. Como foi tudo isso para você?

Essa passagem só fortaleceu meu amor pelo clube, pela cidade, com certeza só fortaleceu. Era um sonho vir para cá como treinador, mas o sonho maior era ser campeão e eu consegui marcar o nome na história. Falei até que queria ficar 10 anos aqui, mas o futebol não é da forma que a gente quer. É muito dinâmico, especialmente com troca de treinador.

Você inicia sua carreira profissional aqui, encerra a carreira como jogador, faz a transição para auxiliar, volta como treinador e é campeão. Seu filho Diego é fanático pelo Athletico. O que é o Athletico para você?

Eu não posso falar de futebol na minha carreira se não falar de Athletico. Tenho enorme carinho pelos clubes que passei, mas foi no Athletico que fui mais feliz, que joguei mais futebol. Disputei quatro brasileiros, fui eleito duas vezes melhor do Brasil na Arena. Ali é minha casa. E não é da boca para fora, isso é fato. Encerro minha carreira no clube, inicio a transição de auxiliar para treinador, primeiro titulo internacional na carreira aqui, então não tem como falar em paixão, futebol, e não falar de Athletico.

O que aconteceu nessa passagem pelo Athletico? Os números acabam chamando a atenção. Foram 28 jogos, apenas oito vitórias, oito empates, 12 derrotas. 38% de aproveitamento.

No ano passado até o final disputamos duas competições importantes, chegando em duas finais. O Brasileiro ficou em segundo plano. Tínhamos um elenco muito reduzido e isso foi se falado até antes da minha chegada. A gente acabou sofrendo para fugir do rebaixamento no ano passado. Teve um jogo contra o Fortaleza que fomos só com dois jogadores acima de 22 anos, em uma reta final de campeonato, com desgaste muito grande. Disputamos muitos jogos ano passado e jogos decisivos em todas as competições. Esse ano o que mais gosto de lembrar ao torcedor é que se tem uma coisa que não dou é desculpa. Mas as pessoas esquecem o que aconteceu. Disputar o Estadual não era o plano A. Tínhamos a ideia de fazer amistosos, mas não tivemos calendário e adversários para isso. Fomos para o plano B, que era o Estadual. Quando isso acontece, tem no regulamento que 25 atletas do sub-23 já estavam inscritos, com jogadores que estavam chegando. Ou seja, fui com time misto para o Estadual. E com esses jogadores que estavam chegando ainda sem ritmo, sem poder fazer amistosos. E ritmo de jogo não é frase feita no futebol. Se não jogar, não adianta. Então ficou esse planejamento que a própria diretoria admite que não foi da forma que tinha que ser. No último jogo, e na própria estreia da Libertadores, tínhamos jogadores estreando. Com o time se encontrando pela primeira vez é difícil. Não é frase feito, não é desculpa, é fato. E eu nunca falei sobre isso, a não ser quando questionado, porque não gosto.

Até os treinos deveriam ser diferentes com tantos jogadores e elencos diferentes, não?

Você tinha que treinar o time para um jogo, tinha que dividir o elenco, unir jogadores inscritos com jogadores do sub-23. Eu dava dois treinos. Dividia os campos. Uma hora ficava com o elenco inscrito, aí trocava. Tive até uma conversa com alguns jogadores para eles entenderem alguns processos. E eu tinha que fazer isso todos os dias com eles. Uma coisa é você treinar para o próximo jogo, e outra sem perspectiva de amistosos. Não podemos esquecer que mesmo assim fizemos um grande jogo na Arena, contra o Palmeiras, com todas as dificuldades que tivemos.

Na semana da sua demissão, a diretoria acabou admitindo um erro de planejamento, elogiando e enaltecendo muito seu trabalho. A saída te pegou de surpresa?

Primeiro eu tenho só a agradecer ao Athletico e especialmente ao nosso líder, ao líder do Athletico, Mario Celso Petraglia. O presidente sabia da qualidade do trabalho do dia a dia, do ambiente com jogadores, comissão, por isso falava muito bem do meu trabalho. Nós tivemos uma reunião, pontuamos algumas coisas, daquilo que nós tínhamos de ideia para temporada e de tudo que tinha acontecido. Mas depois veio uma derrota que nós não esperávamos. Foi um placar forte, mas eu sempre lembrava das dificuldades que tínhamos tido por conta do calendário.

E no Morumbi depois do 4 a 0?

O Márcio (Lara, vice-presidente) e o Alexandre Mattos (CEO) me chamaram para conversar dizendo que ali estava se encerrando o meu ciclo no Athletico. Fiquei triste e chorei. Chorei para vir para cá também. Isso aconteceu só duas vezes na minha carreira. Quando fui contratado, chorei para vir, e chorei na saída, mas faz parte.

Você ficou emocionado falando…

Porque é um clube que eu gosto. Vou levar um carinho enorme. A vida gente não sabe o que vai acontecer na vida da gente. Vou trabalhar muito para ir bem em outros clubes, para voltar aqui de novo, ser campeão aqui de novo. É um clube que eu gosto. Isso é mais forte que tudo. Vou seguir minha vida como profissional, trabalhar em vários clubes, vir enfrentar o Athletico, mas o carinho é para sempre. Você citou meu filho, ele é atlheticano porque falava dentro de casa sempre do Athletico. E olha que moramos oito anos na Itália. Por isso é só gratidão mesmo.

Para muitos da geração que você jogou no Athletico, você é considerado um dos melhores laterais que já passaram pelo clube. Por conta de todo vínculo que você tem com o clube, como ficou esse relacionamento na reta final, com a torcida pediu muito a sua saída?

Com o torcedor atlheticano não mudou nada. Eu amo o Athletico e amo a torcida do Athletico. Porque a minha história é com a Arena, ouvindo o torcedores. Agora dói demais. Passei algumas noites sem dormir por ter sido alvo de criticas pesadas. Mas faz parte, futebol é emoção. O Sylvinho, por exemplo, voltou para o Corinthians, ídolo, e a torcida pela primeira vez pediu a saída de um treinador durante o jogo. Mas é vida que segue. O importante é que fiz as coisas sempre pensando no clube, e isso os jogadores sabem. Foi um relacionamento de muito respeito de muita transparência.

Qual mensagem você quer deixar para o torcedor atlheticano?

De um cara que gosta muito do clube, que fez o melhor para as coisas acontecerem bem. Sou campeão com o Athletico e isso ninguém vai tirar. Eu tenho certeza que o Athletico vai conquistar coisas ainda maiores, tenho certeza. Porque esse cara que tá lá, quando fala que vai ganhar, vai ganhar. Tô falando do doutor Mario Celso (Petraglia). Vou estar na torcida sempre pode ter certeza.

Alberto e o filho Diego no colo — Foto: Arquivo pessoal

Alberto e o filho Diego no colo — Foto: Arquivo pessoal

(GE)