É certo que as palavras não podem ser vistas apenas na perspectiva etimológica, mas o que  passam a significar em um determinado tempo.  Elas adquirem novos significados e outros até se perdem por conta do deus Chronos. Os falantes, em sua maioria, não percebem a polissemia de um vocábulo e nem suas transformações. De certa forma, o mesmo ocorre com o que sentimos: “Porque años atrás/Tomar tú mano/Robarteunbeso/Sinforzarel momento/Hacía parte de una verdad” (Pablo Milanés).

O amor possui muitas faces e muitos nomes. Algumas formas de amar, infelizmente, estão em extinção, dentre elas o amor platônico. Amor de um só, satisfeito em si; quem sabe, a mais pura e ingênua maneira de se amar; antigamente, o primeiro amor, o amor adolescente que tanto nos fazia sofrer e não entendíamoso  “Ardor em firme coração nascido” porque, ainda, não sabíamos o soteropolitanoGregório de Matos Guerra: “Tu, que em um peito abrasas escondido,”…
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Com o tempo, com mais desejo e com menos medo, mesmo que trêmulos, ousamos o primeiro beijo e assim desistimos do Paraíso. A partir daquele momento, estávamos condenados,como Eros e Psiquê, a vagar pelos quatro cantos do mundo em busca do amor. Eros (o Amor) e Psiquê (a Alma) viveram os encantos e, principalmente, os desencantos de amar e só atingiram a felicidade quando Zeus levou Psiquê, imortalizada, para o Olimpo. Porém, para nós, antes do beijo,era preciso pedir a moça em namoro: “Se você quer ser minha namorada/Ah, que linda namorada/Você poderia ser/Se quiser ser somente minha/Exatamente essa coisinha/Essa coisa toda minha/Que ninguém mais pode ser”(Vinicius de Moraes).

Sempre digo que o amor não tem história; tem história o desamor, aquilo que quase deu certo, o que poderia ter sido e que não foi. Por isso, pululam no nosso imaginário, não importando se literatura, se mito ou se realidade, Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Cyrano e Roxane,Páris e Helena de Troia, Cleópatra e Marco Antônio, Shah Jahan e Mumtaz Mahal ou Mata Hari e Vadim Maslov que, de maneira trágica, tiveram a possibilidade da realização amorosa interrompida. Como todos esses, felizmente sem consequências tão intensas, tivemos nossas desventuras. Mas nada que um bom vinho, parcas lágrimas e uma bela canção não nos tragam algum lenitivo: “Eu sei que esses detalhes vão sumir na longa estrada/Do tempo que transforma todo amor em quase nada/ Mas quase também é mais um detalhe/ Um grande amor não vai morrer assim/ Por isso, de vez enquanto você vai lembrar de mim…” (Roberto Carlos e Erasmo Carlos).

A mim, soa-me quase incompreensível as palavras e os relacionamentos atuais, em que pese termos defendido o amor livre dos anos 60 (o contexto era outro, começando pelo Vietnã). Totalmente incorporadas à sociedade de consumo, as relações são efêmeras e descartáveis e são materializadas por neologismos como “ficar” (relação momentânea sem vínculo pessoal) ou “finalizar”(chegar aos finalmente, fazer sexo). Diferentemente do “quem beija mais”ou do quem você “finalizou”ontem, tínhamos relacionamentos mais perenes, embora não fossem definitivos. Havia, entretanto, algo que ia além do simples prazer físico. Mesmo a paquera possuía preâmbulos e limites que preservavam a moça: “Foi bom te ver outra vez/ Está fazendo um ano/ foi no carnaval que passou/ Eu sou aquele Pierrô/ Que te abraçou e te beijou, meu amor” (Zé Keti).

Apesar de certas diferenças, inclusive na etimologia, as pessoas continuam enamorando-se, se não há a mesma magia de antes; há, com certeza, um quê, um tchã, uma química ou, sei lá, um estalo qualquer que faz  as pessoas continuarem se querendo das mais diversas formas. Talvez sem a intensidade d “Esse amor sem preconceito/Sem saber o que é direito/Faz as suas próprias leis/Que flutua no meu leito/Que explode no meu peito/E supera o que já fez…”(Roberto e Erasmo Carlos), mas sem se esquecer que nAMORada tem sempre AMOR, retire-o e sobra nada, NamorADA mesmo.

 

*SÉRGIO EDUARDO CINTRA é professor de Linguagens e de Redação em Cuiabá. Foi Diretor Executivo da Funec. 

CONTATO:        sergiocintraprof@gmail.com

FACEBOOK:    www.facebook.com/sergio.cintra.77

“Eu sei que esses detalhes vão sumir na longa estrada/Do tempo que transforma todo amor em quase nada/ Mas quase também é mais um detalhe/ Um grande amor não vai morrer assim/ Por isso, de vez enquanto você vai lembrar de mim…” (Roberto Carlos e Erasmo Carlos).