Não foi a estreia que Vítor Pereira e a Fiel torcida sonhavam. No primeiro jogo do técnico português no comando do Corinthians, a equipe perdeu o clássico para o São Paulo por 1 a 0. Após a partida, em entrevista coletiva, o treinador analisou o Majestoso e disse que “tem muita coisa para corrigir”.

– Em primeiro lugar, acho que o gol no começo condicionou um pouco. O gol no começo e a chuva que caiu, que não podemos controlar. O campo ficou muito pesado, dificultando a circulação da bola. O que tínhamos feito no aquecimento acabou neste período esperando a luz voltar. Tivemos essa desconcentração, enquanto o São Paulo entrou no jogo desde o primeiro minuto. Demoramos para reagir. Quando reagimos, já tínhamos concedido o primeiro gol. O campo ficou pesado, também condicionou o aspecto tático do jogo. Nós começamos a circular a bola com mais qualidade, rodamos de um corredor para o outro, encontramos espaços, tivemos combinações interessantes, mas o São Paulo sempre esteve mais confortável pois estava em vantagem, com possibilidade de defender mais baixo e contra-atacar. O primeiro tempo foi um pouco assim. Nós, com bola, tentando fazer o gol, e eles jogando mais no contra-ataque, esperando um erro – disse o português, antes de completar:

– Evidentemente, tem muita coisa para corrigir. Tivemos cinco treinos, três com a equipe completa. Sabemos exatamente o que temos que melhorar. Vou tirando impressões, avaliando os jogadores que tenho, e este jogo me permitiu avaliar, mais uma vez. Em relação aos experientes, temos que jogar um jogo onde nós controlamos o ritmo e a bola. E é isso que vamos tentar fazer.

Vítor Pereira também explicou as alterações realizadas. Primeiro, ele substituiu três jogadores de uma só vez, sacando Lucas Piton, Du Queiroz e Giuliano para as entradas de Bruno Melo, Cantillo e Jô. Depois, tirou o lateral Fagner e colocou o atacante Gustavo Mosquito.

– Fundamentalmente, (tentei) encontrar soluções que, até aí, ainda não tínhamos encontrado os espaços, começamos a ter algumas dificuldades. Quando colocamos o Róger mais perto do Jô, fizemos isso para ter uma presença mais forte dentro da área, para aproveitar os cruzamentos. O Du correu muito em um campo pesado. O Cantillo tem capacidade de variar jogo, e precisávamos disso naquele momento. Não resultou como eu previ, mas o sentido foi esse de ter um jogador mais fresco e que permitisse variação do jogo. O adversário identificou essa capacidade do Cantillo, colocou uma marcação individual, e ele não conseguiu se livrar dela, ficando condicionado. É um trabalho que temos que fazer com ele, ele precisa conseguir se livrar da marcação. O Bruno Melo foi para refrescar em um campo pesado, em ter mais um jogador forte no jogo aéreo, para ele se envolver mais. O Piton fez um jogo em que tentou, tentou, quase fez um gol, tentou entrar por dentro, por fora, e achei que precisávamos de gente mais fresca naquele momento – explicou Vítor Pereira, que ainda prosseguiu:

– A mudança tática não foi para defendermos com três, mas para abrir completamente o Gustavo na direita e o Willian na esquerda, juntando o Róger perto do Jô para termos presença na área. Outra coisa que precisamos trabalhar são os movimentos coordenados, um vai, o outro vem, para tentarmos desequilibrar a linha defensiva adversária. O Gustavo e Willian dos lados para tentar o um contra um. Ainda na esquerda, o Bruno tinha a capacidade de sair de trás para a frente, para desequilibrar, mas não conseguiu muito. É necessário trabalho na alteração da estrutura. E é o que vamos fazer. Sabemos das qualidades e que temos defeitos a esconder.

Agora, Vítor Pereira terá uma semana livre para trabalhar. Já classificado para a fase final do Paulistão, o Corinthians volta a campo no próximo sábado, contra a Ponte Preta, às 18h30, na Neo Química Arena.

Veja abaixo outros trechos da entrevista coletiva de Vítor Pereira:

Principais dificuldades

– Com as características dos jogadores que temos, com uma certa idade, temos que jogar um jogo que não seja de transições, de ficar correndo sempre, não pode ser esse o nosso jogo. Nosso jogo tem que ser circulado, de paciência. Sei que queremos ir mais depressa, mas ir mais depressa tem o risco de perda de bola. Se perdermos muitas bolas, teremos que reagir mais e defender mais. Vamos ter que encontrar o equilíbrio entre uma circulação de qualidade, com paciência. O que temos que melhorar, e a grande dificuldade foi o pouco tempo de trabalho, é a dinâmica ofensiva. Tem que ser mais provocativa, uma dinâmica com mais movimentos de ruptura, nos passes, buscar o espaço, e hoje nos faltou isso. Circulamos, circulamos, mas circulamos sem dar profundidade que é necessária.

– São aspectos que temos que melhorar. Temos que ter paciência no jogo posicional. Não é porque a bola está de um lado e não chega, que temos que ir todos para o lado que ela está. São aspectos que necessitam trabalho, e vamos trabalhar. Sabemos exatamente o que temos que trabalhar. Vamos trabalhar em cima deste jogo, aquilo que fizemos bem e o que fizemos mal. É um processo que leva tempo, não seria em três dias que mudaríamos. Naqueles primeiro trinta minutos tentamos o perde e pressiona, conseguimos criar algumas chances de gols, mas não concretizamos. Agora, precisamos prolongar isso durante o jogo todo.

Chuva

– A chuva afetou o campo, a circulação da bola, que acabou ficando mais lenta. Mas a chuva não controlamos, temos que estar preparados para jogar na chuva, no calor, porque isso é a realidade aqui no Brasil. Aquele primeiro gol, mais do que psicologicamente, afetou taticamente o jogo. O São Paulo fez o gol e ficou mais especulativo no jogo, aproveitando um erro para tentar o contra-ataque. Afetou o jogo na circulação da bola, afetou o jogo porque as pernas ficam mais pesadas e colocou o São Paulo mais confortável no jogo.

O que não funcionou?

– Teve muito a ver com sofrermos o gol tão cedo. O campo fico muito pesado. As chances que tivemos não conseguimos concretizar. Há um ou outro aspecto que, claramente, é preciso trabalhar em cima. Por exemplo, a chegada na área, as posições ocupadas na área para finalização, são alguns aspectos que é preciso trabalhar. Tive a semana inteira, mas dois dias foram de recuperação. No final de tudo, trabalhamos dois dias. Não foi a estreia que eu pretendia. Mas já vi alguma intenção, principalmente nos trinta primeiros minutos, de dominar o jogo com a bola e de pressionar logo que perdemos a bola. Nestes trinta minutos, faltou a chegada na área com um bom posicionamento para finalizar. Temos que prolongar isso para os noventa minutos.

Avanço do Cássio

– Dificilmente seremos uma equipe a defender em bloco baixo, não são essas as características dos jogadores que temos. Pretendemos que o bloco suba, passe de intermediário a alto. O objetivo é torna-lo o mais alto possível. Nesse sentido, o goleiro tem que transmitir a confiança necessária para a linha defensiva jogar alto, encurtando o espaço entre ele e a linha defensiva. O que eu pedi nesses três dias de trabalho é que as linhas estivessem mais curtas do ponto de vista defensivo. A linha defensiva próxima da linha média e a linha média mais próxima dos atacantes, e o goleiro mais próximo da linha defensiva, em cobertura da subida do nosso bloco. Ele está fazendo e fez com qualidade.

Pontos positivos

– De fato, do meu ponto de vista, com as características dos jogadores que temos, precisamos encontrar um jogo dominante com bola, um jogo em que nós marcamos o ritmo, temos que ter paciência para ter a bola e ser agressivo no momento de perda de bola. Este “ter bola” é que tem que ser melhorado, a dinâmica, os desequilíbrios, a diversidade de movimentos e de ferramentas para ferir e criar problemas ao adversário tem que aumentar. Para isso é preciso tempo. Trabalhamos praticamente dois dias e já se viu essa intenção de ter bola, de ter paciência, circular a largura para depois acelerar.

– Criamos situações de gol que poderíamos ter feito, aquela intenção de reagirmos e sermos agressivos na perda da bola não deixando que o São Paulo saísse em transição ofensiva, em contragolpe. Durante os primeiros 30 minutos, se conseguiu vislumbrar esses comportamentos. Mas o terreno pisado, a dificuldade de circular, o adversário que se colocou em vantagem desde o primeiro minuto e depois foi ajustando do ponto de vista defensivo, ficando confortável lá atrás à espera de um erro, nos dificultou o trabalho na segunda parte. O que interessa é prolongar esses 30 minutos e prolongar a dinâmica ofensiva da equipe.

Técnico Vítor Pereira tirando colete após derrota do Corinthians — Foto: Marcos Ribolli

Técnico Vítor Pereira tirando colete após derrota do Corinthians — Foto: Marcos Ribolli

Postura tática

– Fundamentalmente, o que tentei foi que a equipe se sentisse mais confortável com a bola e tivesse linhas de passe. O Róger fez isso. Não trabalhamos o tempo suficiente, às vezes ele fez bem, às vezes não tão bem, fez movimentos muito lateralizados. Quando você lateraliza muito, o que acontece? Quando entramos na área, lá não está nosso atacante. Não podemos andar tanto nos corredores laterais, tem que fazer os movimentos no corredor central. Esse é um aspecto que vamos ter que corrigir com ele. O “vir tocar” está certo, quero atrair a marcação, mas nosso atacante não pode andar tanto nos corredores laterais, tem que fazer o movimento no corredor central para quando chegarmos na linha de fundo ele lá estar. Muitas vezes, ele veio demasiado baixo, à frente da linha dos meias, às vezes até lado a lado com os volantes, mas não quero isso do meu atacante. Assumo eu a responsabilidade, foram dois dias de trabalho, ainda falta muito tempo.

– Depois, largura total com os extremos, mas com liberdade para virem por dentro, para aparecerem na área. Com algumas alterações tentamos melhorar nossa capacidade de reação à perda de bola. Conseguimos ver em determinados momentos essa capacidade, mas temos que prolongar isso e mudar o chip, fazer com que isso seja o DNA do Corinthians.

Desafio

– Eu não vim para o Brasil pensando que seria fácil (risos). Eu tenho consciência de que até as alterações atmosféricas podem condicionar o jogo. Entramos mal no jogo, houve quebra. O tempo que estiveram em campo foi demasiado longo, quebrou do ponto de vista físico o aquecimento e também a concentração. São Paulo entrou metido e nós, um bocadinho a vê-los passar. Pagamos caro a fatura, sofremos aquele primeiro gol. Sei que o desafio é grande, pelas viagens, pela temperatura, pelas características das equipes. O que nos falta é tempo de trabalho. (GE)