Rio Cuyaverá de cardumes infindos
aos olhos dos Bororo, dos coxiponé….
Rio Cuyaverá da lontra que brilha
ao sol que se põe…
Rio Cuyabá do boiadeiro João Cintra
(meu pai-avô que me ensinou o caminho das águas)
que – de cima do cavalo- espreita
o momento certo da boiada na água…
Rio Cuiabá de Barão de Melgaço de peixes
como jamais se viu…
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De Santo Antônio do Leverger das eternas praias
que já não há…
De Cuiabá do Beco Quente iluminado
a óleo de Lambari…
De Acorizal, antes da ponte,
onde relógios nada significam…,
De Rosário que Lévi-Strauss, em 1938,
estarreceu-se no seu Tristes Trópicos…
Rio, rio, rio… rio a dentro, rio a fora…
Da desintera-família e do vapor Corça
e seus 25 dias até o Rio de Janeiro
Rio de tão cheio de antes
e tão vazio de agora…
Rio onde ainda rangem as engrenagens
De Aricá, Conceição, Flexas,
Itaici, Maravilha, Ressaca
Rio onde ainda se ouve, além dos motores a vapor,
o ranger de dentes e o suor sanguíneo
de trabalhadores escuros e silenciados…
Rio Cuiabá de peixes e de remos,
de histórias e de lendas:
A passagem do Conceição
O minhocão do Pari
A aguardente e a rapadura
A Pedra 21
A grande enchente de 1974
O Negrinho d’Água…
Rio Cuiabá de todos os meus dias…
Aos poucos, esvais-te de mim
levando minhas parcas alegrias,
meus sonhos Dourados,
minhas ilusões natantes…
*SÉRGIO EDUARDO CINTRA é professor de Linguagens e de Redação em Mato Grosso. Foi vereador em Cuiabá e Diretor Executivo da Funec.
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