O presidente do Fluminense, Mário Bittencourt, participou do Redação sportv desta segunda-feira e comentou a denúncia de racismo por parte de um torcedor tricolor contra Gabigol, do Flamengo, durante o Fla-Flu de domingo, no estádio Nilton Santos. O dirigente explicou a nota publicada pelo clube e informou que vai investigar o caso.
Bittencourt disse que, pelo vídeo, o Fluminense não conseguiu ter certeza sobre o teor do xingamento feito ao atleta do Flamengo. O presidente tricolor disse que o clube vai tentar reunir material, depoimentos e pediu a participação do Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro.
– A posição do Fluminense é de que o áudio ainda é inconclusivo, solicitamos as câmeras e os possíveis áudios que tenham no estádio. Nosso departamento jurídico preparou um pedido de inquérito para ser enviado ao TJD, para que o TJD apure junto conosco e identifique o suposto ou possível autor da injúria racial. Neste momento, juridicamente, o Fluminense não tem comprovação de que a frase dita no meio daquele tumulto foi exatamente aquela que as pessoas acham que foi dita e, se ela foi dita, nós repudiamos integralmente. Por isso estamos buscando apurar os fatos e tentar descobrir quem disse a frase, se a frase é aquela. Nossa intenção é descobrir quem foi, coibir e punir. Se for sócio do clube, será devidamente punido, nós não toleramos esse tipo de atitude.
O presidente também comentou a denúncia de cantos homofóbicos da torcida do Flamengo direcionados aos tricolores.
– Eu estava no estádio e não ouvi. Talvez estivesse distante. Da mesma maneira que pedimos sobre o Gabigol, vamos buscar também que o tribunal analise esse caso. Já aconteceu com Fluminense e Flamengo no passado. Fazemos um trabalho para tentar controlar. Temos que fazer campanhas, como fazemos. E quando há um caso, buscar descobrir os autores, e é o que estamos fazendo. Que a justiça puna exemplarmente – disse.
Durante o Redação, o jornalista Luiz Teixeira criticou a nota do Fluminense. Ele disse que dificilmente ela teria sido publicada se Mário Bittencourt fosse negro.
– Se o presidente do Fluminense fosse negro… A gente não pode dar 100% de certeza porque, independentemente da cor de pele, se a pessoa não tem um mínimo de educação e buscar um pouco a fundo sobre o assunto, ela acaba sendo colocada do outro lado e dando margem para o discurso “Ah, ele é negro e não acha que sofre racismo”. Como a gente tem por exemplo hoje na presidência da Fundação Palmares, então a gente tem que ter cuidado com isso. Mas eu acho que dificilmente, se o presidente do Fluminense fosse negro, essa nota seria publicada.
Ao iniciar a sua participação no programa, feita por telefone, o presidente do Fluminense discordou da posição do repórter.
– Queria abrir a minha fala mostrando a minha indignação com uma frase que foi dita no programa de que a nota do Fluminense teria o teor que teve porque o presidente do Fluminense não é negro. Essa frase de um dos colegas de vocês é tão ou mais discriminatória do que o que supostamente possa ter ocorrido ontem. Digo isso porque está fazendo juízo de valor de mim, da minha família, eu sou um homem que tem uma relação familiar muito profunda com essa causa do racismo. Porque minha esposa e a família da minha esposa são de origem negra e indígena. Então minha própria esposa já foi vítima de situações muito duras na rua com uma das nossas filhas.
Luiz Teixeira explicou na sequência o seu comentário sobre a nota tricolor.
– Você (Mário Bittencourt) não sente a dor do racismo. Você alguma vez sozinho, andando no shopping ou em qualquer lugar, você já foi perseguido ou tirado de qualquer lugar por ser negro? Então você não sente essa dor, você sente a dor das pessoas.
Confira a nota publicada pelo Fluminense:
“O Fluminense informa que está apurando o episódio em que um torcedor supostamente teria dirigido palavras racistas ao atacante Gabriel Barbosa, ao final da partida deste domingo. O próprio autor da divulgação do vídeo diz que teve a impressão, sem certeza, de ter ouvido as supostas ofensas, e, neste sentido, o Fluminense informa que está buscando as imagens do estádio a fim de auxiliar na apuração da existência ou não do fato e na identificação de eventual autoria. O clube reitera que considera intolerável qualquer tipo de preconceito e se orgulha de manter como lema o ‘Time de Todos’, de respeito ao próximo, independentemente de raça, gênero, credo ou orientação sexual.” (GE)