O Ministério Público do Estado (MPE), por meio do promotor Paulo Henrique Amaral Motta apresentou denúncia contra a tenente do Corpo de Bombeiros Izadora Ledur de Souza Dechamps . No documento, assinado em 21 de janeiro, o órgão ministerial aponta novo crime de tortura cometido pela tenente. Ledur foi condenada em setembro do ano passado por maus-tratos ao aluno Rodrigo Claro de Lima, 21 anos. Rodrigo morreu após um treinamento na Lagoa Trevisan.

Segundo a nova denúncia, no início do ano de 2016, entre os meses de janeiro e fevereiro, durante o treinamento de salvamento aquático em ambiente natural do 15º Curso de Formação de Soldado do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Mato Grosso, realizado na Lagoa Trevisan, Ledur submeteu o aluno Maurício Júnior dos Santos, que estava sob sua autoridade, com emprego de violência, a intenso sofrimento físico e mental, como forma de lhe aplicar castigo pessoal.

Apesar de apresentar bom condicionamento físico, bem como ter sido aprovado em todas as fases do concurso público para compor o quadro de servidores do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Mato Grosso, incluindo a etapa TAF (teste de aptidão física), o ofendido Maurício demonstrou dificuldades na execução das atividades aquáticas, o que era visível a todos os alunos e instrutores. Por conta disso, a vítima já se encontrava pressionada e temerosa, vez que Ledur era conhecida por utilizar métodos reprováveis para “castigar” alguns alunos que estavam sob sua guarda.

No dia do treinamento, após percorrer cerca de 40 metros, Maurício começou a sentir câimbras, sendo auxiliado por outros alunos. Mas, segundo denúncia, já no meio do percurso, a tenente determinou que os demais alunos seguissem com a travessia, deixando Maurício para trás. “A partir daí, como forma de aplicar castigo pessoal, a denunciada passou a torturar física e psicologicamente a vítima, quando, além de proferir palavras ofensivas, utilizando a corda da boia ecológica iniciou uma sessão de afogamentos, submergindo-a por diversas vezes”, narra trecho da denúncia.

Maurício sofreu diversos “caldos” e clamou por socorro, mas foi repreendido por Izadora, que só interrompeu a sessão de afogamento quando a vítima perdeu a consciência. Maurício acordou nas margens da lagoa e vomitando, mesmo assim aos gritos Ledur ordenava que voltasse. Mas o aluno não voltou e momentos depois, desmaiou novamente, sendo necessário seu encaminhamento à Policlínica do Coxipó. “Extrai-se dos autos, portanto, a demonstração inequívoca da materialidade da conduta delitiva, por força do prontuário médico acostado às fls. 510/513, além das demais peças que instruem o incluso caderno investigatório (…) a autoria do crime de tortura encontra-se robustamente demonstrada”, cita denúncia.

“Ante o exposto, o Ministério Público do Estado do Mato Grosso denuncia a militar 1º Ten BM Izadora Ledur de Souza Dechamps como incursa nas sanções do artigo 1º, inciso II, c/c o §4º, inciso I, da Lei n. 9.455/1997, requerendo que, recebida e autuada esta, seja instaurado o devido processo penal”, destaca o MP.

Morte de Rodrigo

O aluno do Corpo de Bombeiros Rodrigo Claro morreu em novembro de 2016 após treinamento na Lagoa Trevisan, ministrado pela tenente. Em setembro Izadora Ledur foi condenada a pena de um ano de detenção, cumprida inicialmente em regime aberto, sem perda de patente. Foi desqualificado o crime de tortura, ficando apenas reconhecido os maus-tratos.