Com chegada marcada para a manhã desta sexta-feira ao Rio de Janeiro, Paulo Sousa já planeja o Flamengo 2022. Em entrevista à “RTP Internacional”, o novo treinador rubro-negro tratou o clube como o “maior do mundo” e disse que se preocupou em resolver tudo em Portugal para ficar completamente concentrado numa experiência que, com certeza, exigirá muito de si.
– Estes dias têm sido para se organizar muita coisa antes de sair porque com certeza no primeiro dia que chegar ao Rio não vou poder ter tempo para resolver coisas que estavam aqui pendentes. Tive já que resolver aqui com minha mulher, meus pais e minha família para deixar tudo bem organizado. E para eu poder ficar completamente centrado no que vai ser a exigência, mas uma exigência entusiástica neste projeto com o maior clube do mundo.
Paulo Sousa não titubeou ao ser perguntado se o Flamengo representa o maior desafio da carreira.
– Sim, claro que sim, claro que é o maior desafio. Tive em alguns clubes em que éramos obrigados a ser campeões, como foi no Basel e no Maccabi com números extraordinários e gols marcados. Um clube com a grandeza do Flamengo atrai qualquer treinador. E felizmente aconteceu. Desde já agradeço ao presidente Landim, ao Marcos e ao Bruno Spindel por essa oportunidade porque acredito que vamos continuar a escrever história naquilo que tem sido a história do próprio Flamengo. Tem uma cultura de vitórias, sobretudo no último período.
Sobre a exigência da torcida de ver um time jogando bonito, o ex-volante citou nominalmente Gabigol, Bruno Henrique e Pedro como jogadores com capacidade de decidir jogos – falou também do destaque de Michael nos dribles. Ao mencionar Pedro, deu pistas de que este pode ter maior aproveitamento consigo à frente do Flamengo.
– Esta é a minha exigência e é aquilo que gosto de viver e sentir em todas as minhas equipes. Com muito protagonismo, mas sabendo encontrar o timing certo. Há uma cultura diferente. A intensidade, a velocidade de execução e de deslocamentos. Os espaços, que são completamente diferentes do que vive o jogador Europeu. A própria temperatura exige adaptação. Não tenho dúvidas de que vamos ver uma equipe com muita ambição. E toda a torcida também vai ver.
– Equipe que sem a bola tem que pressionar constantemente, mas tem que ser inteligente em termos táticos também. Saber estar no bloco baixo, mas mantendo sempre agressividade para ter o máximo de controle de jogo no meio-campo adversário, onde temos jogadores que podem e vão influenciar constantemente o resultado do jogo. São jogadores que têm capacidade de determinar vitórias com gols e decisões individuais.
– Vou querer ver uma equipe dominante com bola, que consegue criar inúmeras situações de gols, seja pelo corredor lateral ou pelo corredor central, onde realmente somos muito fortes. Seja com Gabigol, com Bruno ou Pedro, que com certeza vai ter ainda mais espaço pela presença que vamos querer ter no último terço ofensivo.
– E todos aqueles jogadores que têm vindo a se destacar, como Michael no um contra um. E vários jogadores que tiveram rendimento mais baixo e que têm qualidade também vão sentir esse crescimento e que a coerência das decisões leva a quereremos ter uma equipe. E a necessidade de todos estarem em nível elevado para ganharmos os jogos.
Treinador recebeu presentes da embaixada e de organizadas — Foto: Reprodução
Perguntando por que deixou a Polônia em meio à repescagem das eliminatórias europeias, Paulo atribuiu a decisão ao tamanho do Flamengo.
– A grandeza de um clube, a grandeza do Flamengo. A grandeza de um clube. Todos os países em que o futebol é a maior referência em termos esportivos e não só em termos esportivos fala-se em Flamengo. Há uma grandeza, e a dimensão do Flamengo sem dúvida me atraiu para tomar essa decisão. Agora estou super orgulhoso. É um projeto que terminou, estou muito focado naquilo que é o Flamengo, na exigência e nesse desafio extraordinário que vamos ter. Esta foi a decisão que eu tomei exclusivamente para poder treinar o maior clube do mundo. Esta é uma oportunidade que encaro para mim de desenvolvimento pessoal e profissional para podermos, paralelamente à qualidade que temos no nosso elenco, continuar a escrever páginas bonitas, de vitórias e de sucesso no Flamengo.
A respeito da reação dos poloneses com muitas críticas à saída unilateral da seleção, preferiu não se alongar e tornou a colocar o Flamengo em uma prateleira alta dentro do cenário mundial.
– Não há explicação. Sempre demonstrei que não tenho receio em tomar decisões. É normal (críticas recebidas na Polônia). Mas sim devemos focar no porquê. Me apareceram vários clubes durante o período na seleção, mas não me apareceu um Flamengo. E aí me apareceu o Flamengo e tive que me tomar uma decisão. Para a maioria dos polacos, não foi a melhor decisão porque entendo que eles reconhecem todo o percurso que estávamos a fazer. Estou completamente focado na decisão que tomei.
O treinador elogiou a condução da negociação feita por Marcos Braz e Bruno Spindel. A forma minucioso como o questionaram sobre preferências e conhecimento sobre o Flamengo foram citadas. E até mesmo o fato de terem entrevistado outros treinadores agradou a Paulo Sousa.
– Foi super positiva. Eu gostei imensamente porque é algo que acho todos clubes deveriam ter. Tivemos agradável conversa de várias horas. A vontade da parte do Flamengo, neste caso do Marcos e do Bruno, em poder entender quem sou como pessoa, como sou como treinador, como penso, como é minha metodologia e como é o meu staff. Como nós trabalhamos em conjunto, que ideias eu tinha, o conhecimento que eu tinha do elenco. Tudo isso foi abordado em várias horas. E penso que tudo isso para quem contrata deveria ser sempre assim.
– Não tem a ver com os títulos que se possam ter ou que tiveram anteriormente. Tem muito mais a ver com o perfil de cada clube ou de cada responsável do clube tem em suas próprias exigências para poder contratar e então ter o maior conhecimento para ser o mais correto possível.
Sobre Jorge Jesus ter recebido o tratamento de favorito e a respeito de reuniões do Flamengo com outros treinadores portugueses, Paulo encarou com total compreensão e garantiu não ter se incomodado.
– Super natural (procurar outros treinadores portugueses). Acho que cada clube deveria fazer exatamente esse trabalho. Porque uma coisa é em termos estatísticos, onde vão verificando o que se faz dentro do seu percurso profissional. Outra coisa é poder ter seu feeling e o conhecimento sobre tudo aquilo que é o perfil da pessoa para poderem tomar uma decisão correta. Eles sempre me transmitiram que eu não era o único e que estavam interessados em treinador português. Eles tiveram uma experiência positiva com um treinador português. Muito normal abordarem outros para tomar a decisão correta.
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Elenco dos melhores ou o melhor da América, mas que não é suficiente
– É possível incorporar alguns reforços. Este plantel é muito forte, um dos mais fortes da América do Sul, senão o mais forte. Mas não é suficiente. O futebol moderno vem nos mostrar que não é suficiente. A qualidade individual dos treinadores ou dos jogadores hoje não é suficiente para ganhar títulos. Temos que trabalhar mais do que os outros porque o nosso patamar é elevado. Isso sem dúvida é uma mensagem direta que faço hoje e que vou repetir na segunda-feira. Não é suficiente. Tem que ser com muito foco e disciplina. Procuramos entender melhor o plantel no dia a dia. Uma coisa é podermos observar com todas as capacidades tecnológicas e outra é podermos trabalhar com todos os jogadores e em todos os processos aquisitivos.
– E dentro das ideias que tenho claras em termos de sistemas, dinâmicas e alternativas. Só depois de trabalhar com os jogadores que vamos poder entender a capacidade aquisitiva para vermos o que podemos oferecer ao plantel.
Flamengo vai ao mercado. Estrangeiros na Europa são possibilidade
– O clube tem capacidade de ir ao mercado, quer melhorar e quer ir ao mercado. Sim, sem dúvida (pode ir ao mercado europeu). O Flamengo nesses últimos anos, se analisarmos todas as decisões que tem vindo a fazer, as decisões por contratações têm a ver com jogadores brasileiros que venceram e se realizaram na Europa. Que ganharam com mentalidade de Flamengo. Outros que tiveram alguma dificuldade de adaptação a um futebol mais exigente e de maior ritmo onde a inteligência tática era necessária e de se imporem. E aí a atenção de todo o departamento de análise de poderem estar sempre por perto dessas possibilidades. E isso tem marcado esses últimos mercados.
– Temos tido conversas todos os dias. Dentro do mercado europeu há outros jogadores que não brasileiros, e eles (analistas) têm uma visão bem claro que são as necessidades. Dependendo sempre daquilo que são as necessidades e perfis dos novos treinadores para aquilo que são as ideias. Procuram poder proporcionar ao treinador as melhores decisões. Para que, em conjunto com a nossa torcida, possamos ganhar títulos. E vamos ganhar títulos.
Flamengo falado em todo o mundo
– Mesmo antes desse projeto, em todos os quatro cantos do mundo. Quando se fala de futebol, existe o universo Flamengo. Sem dúvida que sinto isso diariamente.
Comparações com Jorge Jesus e Abel Ferreira
– É natural que isso aconteça. Também é natural que tem vindo acontecer de nós treinadores portugueses estarmos influenciado muito positivamente o futebol em nível mundial. No Flamengo pretendo continuar a inspirar mais gente. Todo o nosso mundo e outros que vão nascer e se juntar à nossa família. Conquistar para cada vez mais unir mais esse universo extraordinário que é o Flamengo.
Certeza de títulos
– Muito entusiasmo. É a oportunidade para podermos em conjunto ganharmos vários títulos. A mensagem de trabalho ao elenco é que temos qualidade individual, temos a maior torcida do mundo e vamos satisfazê-la com a melhor qualidade de futebol.
Vontade de equiparar o número de conquistas do Flamengo ao tamanho do clube
– Olhando para a história, e vou lê-la com mais profundidade para entender o que é o Flamengo, me parece que não é coincidente o número de títulos com o tamanho do Flamengo. O Flamengo é muito maior do que o número de títulos que tem. Tenho minhas fortes convicções e tenho a convicção de que vamos continuar a ganhar troféus.
Adversários fortes
– O Atlético-MG por ser o último campeão do Brasileiro é o clube que todos querem ganhar. Mas há sempre o Palmeiras, penso que o Abel tem feito um trabalho extraordinário com cultura de vitórias e vencendo com as próprias ideias. Penso que o Red Bull (Bragantino) tem tomado ótimas decisões a respeito de investimento em jogadores. Creio que em dois a três anos terão condições de disputar os grandes títulos conosco, com o Flamengo.
Orgulho do que viveu na Polônia
– Sobretudo orgulhoso pelo percurso (na Polônia). Vi no campo uma diferença de atitude na procura constante de ser protagonista. E fomos muitas vezes protagonistas. Fomos uma das seleções que mais fizeram gols na fase de classificação das eliminatórias.
– É normal que aconteçam todas essas ressonâncias por tudo aquilo que fizemos. Com certeza nunca poderei ser contestado pela minha honestidade, pela minha seriedade e pelo meu respeito. Dei sempre tudo para que tivéssemos os melhores resultados. É um projeto que terminou.
Pagou a multa à federação polonesa?
– Não tenho essa necessidade (de responder). Tudo na frente para fazer com que essa possibilidade fosse concretizada. E estou feliz porque ela se concretizou. E volto a dizer: nenhuma das pessoas que vivenciou meu trabalho na Polônia pode falar de honestidade, respeito e dedicação.
– Houve mudança de mentalidade em campo, uma equipe de muito protagonismo e com mais gols no período de classificação. E acredito e espero que todos os desejos da Polônia podem se concretizar. (GE)