O torcedor do Cruzeiro, com toda a certeza, não dormiu em paz nessa quarta-feira. Da maneira que ninguém queria e menos ainda esperava, chegou ao fim a dinastia de Fábio na meta estrelada. O dia, claro, chegaria. Estava próximo. Mas aconteceu de supetão. Um duro choque de realidade. A análise é do jornalista Guilherme Macedo, de Belo Horizonte, para o Globo Esporte. Confira:

A SAF é novidade para todos no Brasil. Ainda estamos nos acostumando, entendendo as nuances do projeto que transforma os clubes em empresas. Com a compra por parte do Ronaldo, o cruzeirense dormiu com a ilusão de que a instituição acordaria sem dívidas e com jogadores renomados no projeto. Só ilusão e o desconhecimento natural sobre o novo.

Agora, cinco dias depois da virada do ano, recebe a notícia da saída do maior ídolo (talvez até da história de 101 anos) como um pesadelo. Antes fosse. Mas é mais um capítulo da realidade que seguirá dura para o Cruzeiro por um bom tempo.

Tecnicamente, a decisão de não ter Fábio beira o incompreensível. E aí não é nem opinião. Os números e o desempenho há anos mostram isso. Para dizer o mínimo e ser sucinto, foi importante nos quatro títulos nacionais da década passada e fundamental para que o clube não passasse ainda mais vergonha nas duas últimas edições da Série B.

Fábio conquistou 13 títulos e defendeu 34 pênaltis em 976 jogos pelo Cruzeiro

Mas empresa, em qualquer ramo, visa lucro. Sempre vai olhar primeiro o peso das decisões no bolso, seja a curto, médio ou longo prazo. E não estou dizendo nem sobre salário, pesando principalmente a declaração de Fábio sobre ter se mostrado aberto a adequar. Estou dizendo sobre possibilidade de venda. Lucro, de fato. Não somente gastos menores.

Isso não quer dizer que a opinião seja favorável à saída, menos ainda à forma como ela foi conduzida. Independentemente do que foi conversado dentro de uma sala fechada, o Fábio merecia, pelos últimos 17 anos, uma outra forma de saída.

Se no futebol no modelo “tradicional”, de associações, o jogador muitas vezes é descartável, no futebol com os clubes como empresas, eles passam a ser ainda mais vistos dessa forma. É preciso se acostumar. Não concordar, mas acostumar, porque passa a ser um caminho mais óbvio. E o primeiro exemplo prático para o cruzeirense foi dolorido.

Assim como qualquer consumidor, o torcedor tem o direito de se revoltar com as decisões, cobrar caminhos diferentes. A revolta, de fato, não foi pequena. E é compreensível.
Para o cruzeirense, Fábio não é descartável. Assim como não será na história do Cruzeiro, independentemente do capítulo final.

Fato é que a saída dá – ou ao menos deveria – um choque de realidade no torcedor sobre o que será feito com uma gestão de empresa. E pela parte da equipe de Ronaldo, caberá realizar um trabalho praticamente impecável para sanar o que foi gerado de desconfiança com o torcedor. O caminho, que era longo, ganhou ainda mais alguns quilômetros. (GE)