O Ministério da Saúde informou nesta quarta-feira (5) que a previsão é que as crianças de 5 a 11 anos de idade comecem a ser imunizadas contra a Covid-19 neste mês. Como o ano letivo deve começar nas próximas semanas, surge a dúvida entre pais e responsáveis: afinal, é preciso esperar até que a criança esteja vacinada para mandá-la à escola? Para especialistas, a resposta é não.
O governo divulgou as regras de vacinação desse público e abriu mão da exigência de receita médica para imunização dessa faixa etária.
De acordo com o ministério, a vacinação será feita em ordem decrescente de idade (das crianças mais velhas para as mais novas), com prioridade para quem tem comorbidade ou deficiência permanente.
Até o fim de janeiro, a estimativa é que 3,7 milhões de doses cheguem ao país. No entanto, segundo o IBGE, o Brasil tem cerca de 20,5 milhões de crianças nessa faixa etária.
A aplicação da vacina da Pfizer para este público está autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 16 de dezembro.
Confira abaixo o que dizem especialistas:
Devo esperar a vacina antes de enviar meu filho para a escola?
Para Marcelo Otsuka, pediatra e infectologista, a resposta é não. “Se não há nenhum quadro respiratório na família, se a criança está clinicamente saudável, se não for uma criança com quadro de câncer ou alguma doença imunossupressora, acredito que ela deva ir à escola, sim”.
Segundo o especialista, que coordena o Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), os prejuízos em deixar os estudantes fora da escola vão além da questão educacional.
“As crianças precisam ir para a escola. Elas estão sendo extremamente prejudicadas por não irem. Grande parte delas não tem o acesso adequado à internet ou sequer tem acesso à internet”, explica.
“Para muitas crianças, a refeição mais importante do dia é a que fazem na escola. E, mais do que isso, os casos de agressão contra a criança aumentaram muito nos últimos meses. Então, é muito ruim falar que ela não deve ir pra escola porque o prejuízo que já teve é irremediável”, completa.
Além disso, na opinião dele, aguardar até que a criança esteja com o esquema vacinal completo – duas doses da vacina e aguardar duas semanas após a aplicação da segunda dose -, pode aumentar ainda mais o abismo educacional que já cresceu nos últimos dois anos.
É seguro mandar as crianças para a escola?
Para a pediatra e professora da Faculdade de Medicina da USP Ana Escobar, a escola pode ser um ambiente mais seguro “do que a própria casa das crianças, portanto não há razão para não mandar seus filhos para a escola”.
“A escola é segura no momento em que professores, funcionários, estão vacinados e seguindo os protocolos de segurança, como uso de máscara, lavagem de mãos, e as escolas estão fazendo isso”, afirmou em entrevista ao programa GloboNews em Ponto na terça-feira (4).
“Mesmo que a vacinação esteja demorando para acontecer, a escola é mais importante e o ambiente escolar é seguro.”
A epidemiologista e professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Ethel Maciel, avalia que o ambiente escolar estará mais seguro para o ano letivo de 2022.
“Com a comunidade adolescente e adulta já vacinada, a não ser que os indicadores municipais sejam muito ruins e haja muita contaminação nas escolas, vamos ter um ambiente muito mais seguro do que no ano passado”, analisa.
Quais cuidados devem ser tomados?
Otsuka concorda que manter os cuidados contra a doença, principalmente por parte dos adultos, mas também das crianças, é importante para fazer da ida à escola mais segura possível. Manter o distanciamento, revezar os horários de intervalo, estimular que as crianças lavem as mãos e não troquem material escolar são alguns destes cuidados.
“As secretarias de educação já determinaram estes protocolos e várias outras medidas que reduzem a chance da criança contrair a doença, portanto este risco não deve ser usado como desculpa para não mandá-la a escola”, finaliza ele.
Qual a importância da vacinação em crianças?
Imunizar crianças da faixa etária entre 5 anos e 11 anos vai colaborar com a redução de formas graves e óbitos pela doença, além de ser capaz de reduzir a transmissão do vírus, diz nota técnica divulgada pela Fiocruz em 28 de dezembro.
De acordo com a nota divulgada pela Fiocruz, “embora crianças adoeçam menos por Covid-19 e menos frequentemente desenvolvam formas graves da doença, elas transmitem o vírus na comunidade escolar e também fora dela”.
Além disso, a taxa de mortalidade da doença também é preocupante. Um levantamento recente da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 mostrou que, do início da pandemia no Brasil até 6 de dezembro, 301 crianças de 5 a 11 anos morreram após serem diagnosticadas com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid. Ou seja, uma morte infantil foi registrada a cada dois dias desde 2020.
Segundo Otsuka, existe no cronograma de vacinas para crianças a imunização contra doenças que são menos letais. “O Programa Nacional de Imunizações (PNI) adota várias vacinas para infecções que não matam tanto quanto coronavírus matou, como a meningite, que é gravíssima, mas mata muito menos”, compara.
Neste panorama, para o especialista é fundamental que as crianças sejam vacinadas neste momento pandêmico, e, se necessário, volte a se vacinar contra a Covid periodicamente.