Tem sido bastante desafiadora a tarefa de projetar o cenário econômico a prevalecer em 2022 para a economia brasileira. Ainda mais, quando confrontamos a média das previsões feitas para 2021 por economistas, bancos, consultorias e casas de análises econômicas e o que realmente aconteceu ao longo do ano. O excelente desempenho da atividade econômica no último trimestre de 2020 sinalizava uma retomada forte para o ano seguinte. O carregamento estatístico desse último trimestre impulsionou o primeiro trimestre de 2021, parecendo validar as projeções otimistas de forte retomada do crescimento. O que não se confirmou nos trimestres seguintes, levando todos a revisar em suas estimativas iniciais.
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O ano que se finda tem três marcas expressivas na economia: perda de tração da atividade a partir de abril, após um primeiro trimestre de forte retomada, reaparecimento da inflação como não se via a muitos anos e instabilidade política ocasionada por ameaças de rupturas institucionais, abandono da matriz de austeridade fiscal e calote do pagamento de dívidas judiciais (precatórios). A ação conjunta desses fatores levou a economia brasileira à estagnação com dois trimestres seguidos de queda do PIB. Assim, o crescimento expressivo de 4,5% em 2021, foi suficiente apenas para arrefecer parte dos danos da queda de 3,9% em 2020. De abril a dezembro a economia apenas andou de lado.
Há de se registrar que o ano foi atípico. A economia mundial passou a conviver com inflação alta, ocasionada pelo aumento de preços de bens industriais que encareceram em razão da quebra das cadeias de suprimento de insumos, matérias primas e serviços de logística internacional. No campo sanitário, as economias mais desenvolvidas sofreram novas ondas de contaminações da covid-19 e, no último trimestre, o surgimento de nova variante do coronavírus, denominada Ômicron, forçou novos isolamentos sociais, com o consequente travamento da tração econômica mundial, refletindo-se nas economias emergentes, Brasil incluso.
No Brasil, além do aumento de custos de produtos e componentes importados, a correia de transmissão desse choque inflacionário mundial é a taxa de câmbio, com o real desvalorizando-se frente ao dólar americano. Aqui foram adicionados os temperos locais: elevação persistente de itens da alimentação básica, aumento das tarifas de energia elétrica, preços dos combustíveis (gasolina, diesel, gás de cozinha), redução do consumo das famílias com a interrupção do pagamento do auxílio emergencial, lenta reação do mercado de trabalho. Isso resultou numa inflação de 10,42%. O Brasil viu a inflação nesse patamar apenas em 2015, ano de recessão intensa, que chegou a 10,67% e 2002, quando o IPCA acumulou 12,5%. A pressão inflacionária obrigou o Banco Central a elevar a taxa básica de juros (Selic) de 2% em março, para 9,25% em dezembro, devendo continuar essa trajetória de aumentos seguidos até março de 2022.
Dados divulgados nesta semana pelo IBGE (PNAD contínua) indicam continuidade do aperto no mercado de trabalho, com 13 milhões de desempregados e queda da renda do trabalho em 11,1%. A redução de valores e descontinuidade do auxílio emergencial, as ações deliberadas da administração federal para retardar a vacinação atuaram como redutores da renda e do consumo das famílias, aumentando a pobreza e a desigualdade, ocasionando cenas dantescas de pessoas em fila para retirar doações de “ossinhos de carne”, disputando sobras de carnes em caminhões de descarte e restos de comidas em contaneirs de lixo.
Com a economia mundial mais lenta na retomada do crescimento e o quadro doméstico desfavorável, teremoscomo cenário mais provável para 2022 um ano de estagnação, com o PIB crescendo 0,5%, inflação alta (próxima de 10%) no primeiro semestre, com queda suave nos dois últimos trimestres, taxa básica de juros de 11,50%,e câmbio próximo de R$ 5,60.
*VIVALDO LOPES DIAS é professor e economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP
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