Os indicadores macroeconômicos de Mato Grosso indicam que 2022 será mais um ano de crescimento robusto do PIB estadual. Os fatores mais relevantes são o excepcional desempenho do setor agropecuário e da agroindústria, os investimentos na infraestrutura rodoferroviária, avanço da indústria do etanol de milho, chegada da internet 5G e as boas condições fiscais das contas públicas estaduais. Em média, a economia de Mato Grosso teve desempenho, na década de 2011 a 2020, bem acima do PIB do país. Mas, no período em que o Brasil enfrentou a mais profunda recessão da sua história (2015-2017), a economia de Mato Grosso também cresceu menos, ainda que acima da nacional.

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Teremos no próximo ano mais uma safra recorde de grãos, consumo aquecido e preços em alta de nossas principais mercadorias agrícolas, nos mercados doméstico e internacional. Serão iniciadas as construções de dois trechos ferroviários em nosso território. Um em direção à cidade de Água Boa, vindo de Mara Rosa, em Goiás e o trecho de Rondonópolis a Cuiabá, passando nas proximidades de Primavera do Leste, Campo Verde, Nova Brasilândia, Planalto da Serra.

Os investimentos na malha rodoviária virão de grupos privados que ganharam concessões estaduais nos últimos leilões e pela própria administração estadual que executa um amplo programa de investimentos com recursos do tesouro estadual. A indústria do etanol de milho é o setor industrial com maior expansão nos últimos anos. Esse cenário deve se repetir em 2022 com a implantação de novas plantas e expansão de produção nas já instaladas.

Os investimentos para fornecimento da internet de quinta geração (5G) vão impulsionar vários segmentos, como fornecedores de materiais e equipamentos de tecnologia, implantação de antenas, construção civil e abertura de novos negócios. No conjunto, todos esses movimentos empreendedores ajudarão a impulsionar o mercado de trabalho que, por sua vez, vai aquecer o consumo das famílias e das empresas e alavancar o comércio de atacado e varejo.

 

O cenário nacional não ajudará Mato Grosso em seu esforço de crescimento no próximo ano. Os fundamentos macroeconômicos do país sinalizam 2022 como um ano de crescimento nulo, dominado por pressão inflacionária, lenta retomada do mercado de trabalho, elevação das taxas de juros, dólar apreciado perante o real. As alterações promovidas pelo executivo federal e congresso nacional na Constituição Federal para quebrar a Regra do Teto de Gastos (RTG) e institucionalizando o calote no pagamento das dívidas judiciais julgadas em última instância, os chamados precatórios, atuam como detonadores de incertezas políticas que contaminam o ambiente econômico, inibindo investimentos, elevando custos do crédito e, como consequência, dificultando a retomada da tração econômica na pós-pandemia.

Os agentes econômicos fazem a leitura de que, em ano eleitoral, essas alterações constitucionais levarão a administração federal a perder o controle dos gastos públicos. A mediana das estimativas dos principais bancos, consultorias, analistas de mercado e casas de análises econômicas apontam inflação persistente próxima de 10% ao longo de 2022, obrigando o Banco Central a elevar a Selic a 12% e levando a relação real/dólar se aproximar de R$ 5,90, resultando em crescimento do PIB em 0,5%.

 

Atuarão de forma favorável a retomada das atividades do setor de entretenimento (turismo, viagens, hospedagens, carnaval, festivais de música) e os investimentos resultantes das privatizações de rodovias, aeroportos, terminais marítimos e a implantação da tecnologia 5G nas capitais e maiores cidades do país.

 

A despeito de ser muito difícil uma economia regional tornar-se um oásis de crescimento em um deserto de contração econômica, conviveremos, em 2022, com cenários paradoxais: a economia mato-grossense seguindo um ritmo forte de crescimento, tendo como propulsores a produção agropecuária, expansão de investimentos na infraestrutura de transportes e comunicação, aceleração da industrialização, num ambiente nacional de retração econômica, crescimento pífio, inflação elevada, alta das taxas de juros, moeda mais depreciada e incertezas políticas. Desafio hercúleo para Mato Grosso.

*VIVALDO LOPES DIAS   é professor e economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em  MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP  

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