O cenário macroeconômico para 2022, que já não era dos melhores, deteriorou consideravelmente nas últimas semanas. O país respirou ares de otimismo com a atividade econômica retornando à normalidade com a progressiva flexibilização das medidas de restrições sanitárias, pelos governos e administrações municipais, em razão do avanço da vacinação. As expectativas sofreram duro golpe com a aceleração da inflação e com a decisão do governo de abandonar a âncora fiscal do limite de gastos, estabelecida em emenda à constituição em 2016 e anúncio de verdadeiro calote no pagamento de precatórios, dívidas da administração federal, decididas pelo Judiciário, em última instância.

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Tudo isso para ampliar gastos em R$ 95 bilhões ao longo do exercício fiscal de 2022, segundo cálculos da Instituição Independente do Senado Federal. O principal argumento do governo federal para decisões fiscais tão drásticas foi aumentar o benefício do Bolsa Família para R$ 400,00 e “…ajudar os pobres e mais afetados socialmente pela pandemia”. O novo programa se chamará Auxílio Brasil e atenderá 18 milhões de pessoas, entre elas os caminhoneiros autônomos, como forma de compensar a categoria pelas constantes altas dos preços do óleo diesel.

A pandemia desestruturou as cadeias produtivas e de logística internacionais, ajudando a acelerar a inflação em todas as economias desenvolvidas e nos países emergentes. No Brasil, esse efeito foi ainda mais impulsionado pelas falhas de política econômica e pelas incertezas políticas domésticas. Para combater a alta generalizada de preços, o Banco Central anunciou ontem (27), a elevação da taxa básica de juros (Selic) de 6,25% para 7,75%. A medida encarece o crédito, reduz o consumo e impacta negativamente o crescimento do PIB no próximo ano. O próprio Banco Central divulgou em sua ata da reunião que trabalha com o cenário de inflação de 9,5% em 2021. Daí a necessidade de aumentar a Selic para trazer a inflação para próximo de 5% em 2022. Os fatores que continuam contribuindo para a persistência da inflação são a crise hídrica, que encarece as tarifas de energia elétrica, altas constantes dos combustíveis, gás e dos alimentos.

O abandono da âncora fiscal segundo a qual a administração federal somente poderia gastar no ano seguinte o mesmo do ano anterior corrigido pela inflação, sinaliza aos atores econômicos, investidores e empreendedores que o governo poderá, em futuro próximo, perder o controle dos seus gastos, levando ao desequilíbrio fiscal e, consequentemente, aumentar a dívida pública. Essa percepção de afastamento da responsabilidade fiscal mina a recuperação econômica e aparece sob a forma de queda das operações na Bolsa de Valores e pressão sobre a taxa de câmbio, elevando a cotação do dólar frente ao real.

O cenário internacional também se mostra desafiador. Além da aceleração da inflação, quebra de cadeias de suprimentos, falta de componentes importantes para a produção industrial e gargalos nos sistemas logísticos, nas últimas semanas, as principais economias do bloco europeu, Estados Unidos e países asiáticos estão sendo obrigados a reativar medidas restritivas em razão do aumento de contaminações e mortes pela covid-19 em seus territórios, o que pode retardar a retomada do crescimento.

As estimativas de crescimento da economia brasileira para 2022, feitas por 100 instituições financeiras, consultorias e casas de análises econômicas, estavam em 1,5% alguns meses atrás, foram revisadas para 0,5% nas últimas semanas, diante dos cenários doméstico e internacional.

 

*VIVALDO LOPES DIAS   é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em  MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP  

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