Estevina Couto Abalem nasceu em Cuiabá no dia 02 de setembro de 1910, conforme se encontra estampado no “Jornal A Cruz”. Era filha de Manoel Benedicto do Couto e de Joana Antônia da Silva Couto, irmã de Juracy Couto Nince, casada com Carlos Nince e Carmelita Silva do Couto, Delcio da Silva Couto, Ascendino da Silva Couto, Lourdes da Silva Couto, Berenice da Silva Couto, de acordo com as informações de Francisco das Chagas Rocha.

Na política, Estevina Couto Abalem, entrou na época que, em Cuiabá havia a disputa de apenas dois partidos, a UDN – União Democrática Nacional e o PSD – Partido da Social Democracia, onde era filiada a UDN. Disputou a cadeira de vereadora a Câmara de Cuiabá, pela primeira eleição de uma mulher ao Legislativo Cuiabano, o qual ocorreu 19 anos após a conquista do voto feminino, em 1932. Eleita, Estevina Abalem em 1951, foi diplomada em 17 de janeiro de 1950. Quem sabe, até a primeira vereadora de Mato Grosso, fato este que merece à atenção de pesquisadores, com certeza.
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Pela Constituição de 1934, o voto feminino ganhou bases constitucionais. Se considerarmos que em 1893 a Nova Zelândia já concedia às mulheres o direito de voto, parece uma conquista tardia, mas, na França, isso só aconteceu em 1944 e, na Suíça, em 1971.
Abalem chegou a ocupar o cargo de primeira-secretária da Câmara Municipal de Cuiabá, em 1951, na gestão do vereador – presidente – Severiano Benedito de Almeida e, em 1952, na gestão do vereador – presidente, Contador Aecim Tocantins. Câmara esta, criada já em 1888.

De 1945 a dezembro de 1951, publicação do governo do estado de Mato Grosso consta que, Estevina Couto Abalem foi funcionária do Tesouro do Estado, de acordo com a Lei n° 555 de 26.11.1952, exercendo a função de professora pública.

Histórias de nossa gente, uma publicação de agosto de 2002, deixou registrado que Estevina Couto Abalem tomou posse na Câmara Municipal de Cuiabá em 1951. Nessa legislatura ela participou, ativamente, das comissões de finanças, justiça, legislação e de educação e cultura. Em suas primeiras palavras informou aos presentes, no ato da sua posse, que: “ (…) Trabalhar pelo município e por essa gente”, era o seu pensamento. Em seguida, agradeceu as palavras do seu colega, o vereador João Alves de Oliveira, a quem se referiu como “ um grande batalhador pelo engrandecimento da nossa terra”.

Em 27 de maio de 1951, Estevina Couto Abalem representou a Câmara Municipal de Cuiabá, na XIII Exposição Agropecuária de Campo Grande (MS), conforme resolução n° 42 de 25 de maio de 1951, da gestão do vereador presidente – Augusto Mário Vieira, mais tarde deputado estadual de Mato Grosso.

No ano seguinte, em 1952, ainda como primeira secretária da Casa, continuou desempenhando, com ativa presença e severa cobrança, papel importante nas comissões instituídas na Casa. Chegou a exercer a vice-presidência da Câmara Municipal, nos anos de 1953 e 1954. O seu trabalho como legisladora municipal é marcado pela firmeza de propósito, decência e caráter ilibado.

Em sessão de 6 de junho de 1952, Estevina Abalem assinou como secretária da mesa diretora, em conjunto com o vereador – presidente -Aecim Tocantins, o pagamento de um álbum fotográfico elaborado pelo fotógrafo Lázaro Papazian, contendo imagens da cidade de Cuiabá, referente ao ano de 1948, em comemoração ao aniversário da cidade de Cuiabá, o qual foi oferecido ao município de Cuiabá.

O Jornal “O Estado de Mato Grosso”, de 23/07/1953, registrou que a vereadora aproveitando da oportunidade de crise na UDN, se valeu do espaço para criticar o governador à época, Fernando Correia da Costa, o qual era também do seu partido e conterrâneo, pois Fernando nasceu em Cuiabá no dia 29 de agosto de 1903, filho de Pedro Celestino Correia da Costa e de Corina Novis Correia da Costa. Seu pai foi governador de Mato Grosso de 1908 a 1911 e de 1922 a 1926 e senador por esse estado de 1918 a 1922 e de 1927 a 1930. Seu sobrinho, José Fragelli, foi deputado federal por Mato Grosso de 1955 a 1959 e governador do estado de 1971 a 1976.
Em 1953, Estevina Abalem foi reeleita vereadora por Cuiabá, oportunidade em que exerceu a vice-presidência da Casa. Em 1959, tomou posse como suplente, pela última vez, na Câmara Municipal de Cuiabá.

Uma mulher forte com postura e seriedade no trato com os bens públicos. Foi autora de vários projetos que beneficiavam o povo cuiabano, principalmente, nas áreas de educação, saneamento, calçamento público, legislação municipal e saúde. Naquela época, Estevina Abalem, como uma mulher à frente do seu tempo, já utilizava o veículo “Ford – fubica”, do seu esposo, para os trabalhos na política e nas atividades comerciais da família, em Cuiabá de outrora.

Foram seus parceiros de legislatura, Aecim Tocantins, Augusto Mário Vieira, Etevaldo Alves, João Gervásio Viegas, José Leite de Moraes, Manoel Corrêa da Costa, Pedro Zeferino de Paula, Sebastião Ramos de Almeida, Severiano Benedito de Almeida entre outros.

A Lei 1.487 de 15/12/1976 denomina a Rua 3 do Bairro Jardim Petrópolis de “Estevina Couto Abalem”, na gestão do prefeito de Cuiabá, Manoel Antônio Rodrigues Palma.

Estevina foi casada com o comerciante libanês Jorge Abalem, viúvo, vindo para Cuiabá de Guiratinga-MT, pais de José Márcio Couto Abalem casado com Rosana Barbosa, filha de Ana e João Barbosa, conhecido radialista da capital e locutor esportivo, das Rádios Difusora de Cuiabá, A Voz do Oeste, Industrial, Bandeirantes-AM e Rádio Cultura de Cuiabá, nascido no dia 13 de abril de 1948 e falecido em 22 de setembro de 1994. Foram moradores do Beco Quente, hoje bairro do Porto, na capital. Festeira, Estevina Abalem gostava de participar das festividades dos santos, em Cuiabá. Foi rainha da festa de Nossa Senhora do Rosário.

Apesar de muitas pesquisas e dedicação pouca informação de Estevina Abalem se encontra registrada na Câmara Municipal de Cuiabá. O seu falecimento não foi registrado na Casa, bem como, os seus dados pessoais. Os arquivos preciosos da Câmara merecem um olhar cuidadoso dos senhores vereadores, uma vez que, documentos importantes desde o período imperial, merecem ser trabalhados e organizados como memória do povo cuiabano e da cidade de Cuiabá, sãos os nossos votos.

A Câmara Municipal de Cuiabá necessita ter o seu espaço de Memória. Possui documentos do período Imperial. Necessário se faz ter um trabalho de limpeza das documentações, arranjo da documentação por período, em espaço adequado à moda Arquivo Público de MT, executado por profissional gabaritado para este fim e não por aprendiz de feiticeiro. Profissional que tenha em seu currículo Carta de Prova que já realizou este trabalho em outros órgãos.

Estevina do Couto Abalem abriu um caminho sem precedentes na política, seguida em 1955, de Maria Nazareth Hahn, May do Couto, Bia Spinelli, Enelinda Scala, Verinha Araújo, Lueci Ramos Lorenço, Chica Nunes e Márcia Campos foi brilhante e atuante à sua época. A única mulher eleita para a câmara municipal de Cuiabá foi Lueci Ramos Lorenço (PSDB), em 2012. Depois, o retorno da mulher à câmara se deu na 20ª legislatura, com a chegada de Edna Sampaio (PT), Michelly Alencar (DEM), cujos mandatos expiram em 2024. Também, assumiram Maria Avalone, Maysa Leão (suplentes).

 

*NEILA MARIA DE  SOUZA BARRETO   é jornalista, escritora, historiadora e Mestre em História. É membro da Academia Mato-Grossense de Letras (AML) e do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso (IHGMT).
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