O primeiro encontro de Cuiabá “Setembro Amarelo, Sua Vida Importa”, com o tema “Por que precisamos falar sobre depressão e suicídio’, reuniu cerca de 700 pessoas de forma remota. Apesar do mês que faz alusão ao combate ao suícidio ter chegado ao fim, especialias alertam sobre o tema e a importância de debater o assunto durante todo o ano.

De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicadas em 2021, o suicídio continua sendo uma das principais causas de morte no mundo. Dados apontam que o Brasil ocupa a 2º posição quanto ao número de pessoas que sofrem com depressão, e 8° em número de mortes por suicídio. Na América Latina, o Brasil lidera as maiores taxas de suicídio e de depressão.

Ao HNT, a psicóloga Mariana Carvalho Moura ressalta que o tema não pode ser esquecido com o final do mês de setembro. “O suicídio é considerado hoje um problema de saúde pública, ter um mês dedicado ao combate e prevenção do mesmo estimula a população a prestar mais atenção na causa além de quebrar os tabus que as envolvem. E com certeza devemos falar sobre suicídio o ano todo. O tema não deve ser esquecido quando o mês acabar devemos tratar diariamente do tema nos nossos lares, no nosso trabalho, no nosso círculo social”.

A psicóloga destaca que conversar sobre o assunto aumenta a familiaridade de todos com os sinais e comportamentos de risco. “A importância de ouvir o outro. Muitas vezes um olhar diferenciado para uma pessoa que está sofrendo e a sensação de perceber sua dor, pode salvar uma vida”, observa Mariana.

Sua Vida Importa

O evento Sua Vida Importa realizado pela prefeitura de Cuiabá, por meio da  Secretaria Municipal de Saúde, em parceria com Centro de Valorização da Vida (CVV), reuniu cerca de 700 pessoas em uma live. O vídeo da conferência foi disponibilizado nas plataformas digitais e já teve mais de 5 mil acessos.

O encontro foi conduzido psiquiatra Manoel Vicente de Barros, membro da Associação Mato-grossense de Psiquiatria. Ele explicou durante o evento que com base em estudos científicos é possível identificar motivos que levam as pessoas a tirar a própria vida.

“Para falar desse tema precisamos desenvolver a empatia e tentar dimensionar esse assunto para quem sofre. A gente precisa imaginar uma dor de dente ou uma dor insuportável de cabeça, ou como se um alicate estivesse apertando em todos os seus músculos, no seu corpo inteiro. Uma dor que não te deixa livre, do começo do dia, até o fim da noite. É uma dor da alma, dói mais que a dor no corpo, é emocional.  Algumas pessoas dizem que vai passar, ter otimismo, dá para lutar. O problema é que a depressão é complicada, porque vai para o cérebro e desliga a capacidade da pessoa ter esperança”, destacou o psiquiatra.

Manoel ressaltou ainda que a depressão tem cura e pode ser identificada a tempo de evitar um suicídio.

“Um câncer quando grave, a pessoa reúne força para ir atrás na quimioterapia, tem fé, mas a depressão tira essa capacidade de fé, de esperança. E por causa dessa situação a pessoa acaba tentando suicídio. Qualquer um pode ter depressão, precisamos falar de suicídio porque é uma causa de morte evitável, precisamos entender o assunto e saber agir. No calor das emoções qualquer um fala uma besteira, é comum falar algo na tentativa de ajudar e acaba atrapalhando. Quando alguém infarta, o primeiro socorro é chamar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). E para quem depressão o que fazer? É procurar ajuda profissional”, disse o médico.

Ele alerta que na maioria dos casos, as pessoas expõem ou dão sinais de que pretendem cometer algo contra a sua vida.  “Tem um mito muito comum que vai atrapalhar, que quem está pensando em suicidio não vai fazer. A gente sabe que alguém foi procurado, tentou buscar ajuda, a maioria acaba falando com alguém antes de tentar algo contra a sua própria vida. Isso não é uma regra, alguns não falam, mas,  a maioria fala, sim. o pensamento aparece e em sua maioria é exposto. Se alguém dizer que quer sumir, ou  vocês vão sentir a minha falta. Uma pessoa que fala isso, precisa de ajuda, ela não quer só chamar a atenção”, pontuou.

Outro mito disseminado, conforme o médico, é sobre a falta de Deus ou de ir para a igreja, no tratamento da depressão. “O tipo de pensamento, é a falta de Deus ou falta de fé. A religião salva muitas vidas, eu estimulo a religiosidade, mas, isso quer dizer que o ato da pessoa é errado, pecaminoso. E daí, vai existir um sentimento de culpa na pessoa. Ela vai achar que está pecando, e nesse ato, você não vai conseguir segurar a mão do  outro , porque você está apontando o dedo. Você não falaria isso para uma pessoa que está tendo uma asma. A  religião está ali para ajudar a recepcionar e a ouvir. E não para condenar”,  explicou.

Peça ajuda

O CVV realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo de forma voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias. A ligação é gratuita através 188 e pode ser discada de qualquer telefone