Lula, o corrupto segundo seus detratores, e Bolsonaro o genocida na avaliação de seus oponentes mais radicais, nasceram fora de Mato Grosso, mas, por analogia comportamental na esfera política se os dois fossem mato-grossenses, quer seja da garimpeira Alto Coité, em Poxoréu ou da bicentenária Diamantino – ora em festa pela data de sua fundação – ou ainda da governista Cuiabá – independentemente de quem exerça o poder – a manifestação sobre eles seria somente de ufanismo.
Lula não nasceu da noite para o dia. Sindicalista metalúrgico crônico, deputado federal constituinte, incontáveis vezes candidato a presidente, chefe da Nação por oito anos e padrinho da sucessora Dilma Rousseff o petista permaneceu líder pelo apoio recebido e pelo comportado silêncio da oposição elitizada social, econômica e financeiramente.
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Bolsonaro, figurinha do baixo clero na Câmara por quase três décadas, chegou ao topo por uma das chamadas obras do acaso, que também ungiu Fernando Collor de Mello, e no plano regional, Pedro Taques – sim, o Taques da Grampolândia Pantaneira e governador que conseguiu a proeza de ter mais secretários presos do que o antecessor e corrupto confesso Silval Barbosa.
Trago os dois para Mato Grosso. Lula nascendo em Alto Coité e sendo batizado por Dom Vunibaldo Talleur, bispo da Chapada; e Bolsonaro servindo no 16ª BC – o Batalhão dos Cuiabanos.
Nem um nem outro tem culpa da postura silenciosa de Mato Grosso nas redes sociais sobre falcatruas e corruptos mato-grossenses. Nem mesmo o mais radical desafeto gratuito de Lula seria capaz de dizer que o ladrão de nove dedos responde pela gatunagem na esfera pública na terra do herói Marechal Rondon. Nem mesmo aquele que vê Bolsonaro genocida, digno de provocar a recriação do Tribunal de Nuremberg, pra fazê-lo balançar na forca, com a língua roxa caída no canto da boca poderia associa-lo aos escândalos que corroeram os cofres públicos no Coração da América.
Em Mato Grosso (observadas as exceções de praxe) Bolsonaro e Lula, ou Lula e Bolsonaro, como queiram, recebem apoio e críticas por não serem moradores na terra de Norberto Schwantes, Ênio Pipino, Filinto Müller, Irmã Adelis, Roberto Campos, Maria de Arruda Müller, Ariosto da Riva, Daniel Moura, Irmã Vita, Bruna Viola, Nhonhô Tamarineiro, Padre Lothar, Adão Riograndino, Bife, Archimedes Pereira Lima, Nêgo Amâncio, Munefumi Matsubara, Gilson Lira, Manezinho da Coban, Dario Hiromoto, Valdon Varjão, Cacique João Garimpeiro, Liu Arruda, Gabriel Novis Neves, Coronel Meirelles, Cacique Raoni, Coronel Adib, Zé Pretim, Padre Geraldo, Gilson de Barros, Padre João Salarini, Cacique Aritana, João Balão, Márcio Lacerda, Manoel de Barros, Ângelo Maronezzi, André Maggi, Olacyr de Moraes, Domingos Iglésias, Rômulo Vandoni, Pitucha, Osvaldo Sobrinho, Blairo Maggi, Rochinha, Dante de Oliveira, Adilson Reis, Sango Kuramoti, Paulo Japonês, Anfilófio de Souza Campos, Júlio Campos, Jacinto Silva, Zeca de Ávila, Wilmar Peres de Farias, Nazir Bucair, Sarita Baracat, Sandoval Nogueira, Tenente Praeiro, Luiz Pagot, Bruna Paes, Manao Ninomiya, Moisés Martins, José Aparecido Ribeiro, Zé Paraná, Claudino Francio, Frederico Campos, Cacheado, Ricardo Guilherme Dicke, João Carlos de Souza Meirelles, Hortêncio Paro, Sinjão, José Humberto Macedo, Márcio Cassiano da Silva, Aecim Tocantins, Serys Slhessarenko, Guilherme Meyer, Fiote Campos, José Almir da Silva, Cléo Renato Santos Campos, Lamartine da Nóbrega, Jair Mariano, Zé Turquinho, Pescuma, Antônio Ribeiro Torres, Elza Queiroz, Dom Pedro Casaldaliga, Lídio Magalhães, Natalino Fontes, Pastor Gustaf Adolf Bringsken, Cacique Domingos Mãhölõ, Ramon Itacaramby, Maurício Tonhá, Luiz Carlos Ticianel, Wolfgang Dankmar Gunther Hornschuch, Vilma Moreira, Zé da Guará, Marco Marrafon, José Lino Cabeção, João Petroni, Railda de Fátima, Afro Stefanini, Maria Helena Póvoas, Pedro Porta Aberta, Marcos Machado, Fernando Tulha, Aldo Borges, Hilton Campos, Benedito Canellas, Janailza Taveira, Aldo Locatelli, Alves de Oliveira, Zelito Dorileo, José Queiróz, Manoel da Prelazia, Ságuas Moraes, Edio Brunetta, Eraí Scheffer, Francisco Faiad, Carlos Orione, Otaviano Pivetta, Ricardo Tomczyk, Gastão Müller e tantos outros. Se ambos fossem mato-grossenses, a referência a eles seria outra, que seguramente teria o lado positivo, mas que nem com reza brava seria negativa.
Em suma. O silêncio mato-grossense nas redes sociais é conivente com a permanência da banda podre da política regional no poder. A omissão virtual fortalece aqueles que deveriam ser defenestrados da vida pública, por mais que os silenciosos locais esbravejem na distante Brasília.
Triste realidade de um delírio virtual ridículo que trava duelos extraterritoriais enquanto finge não ver o que acontece aos seus pés.
– Pés?
– Isso mesmo. Os pés que os fazem correr pra abraçar o poder.
Que assim seja!
A cultura da bajulação ao poder é difícil de ser extirpada.
Viver o hoje aqui sonhando com o amanhã nesse mesmo lugar, mas sem se esquecer do ontem, lá nas montanhas mineiras onde o Brasil gritou libertas quae sera tamen.
*EDUARDO GOMES DE ANDRADE é jornalista e escritor em Cuiabá; e editor do Blog do Eduardo Gomes.
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