A rápida deterioração dos fundamentos econômicos levou analistas econômicos, departamentos de análises econômicas dos grandes bancos,casas de análises financeiras a reduzirem drasticamente suas projeções de crescimento do Produto Interno Bruto do país para 2021 e 2022. Em linha geral, a mediana das revisões sinaliza redução de 5,5% para 4,5% em 2021 e de 2,5% para 1% em 2022.
Na tarde da última terça feira (14), todas essas instituições divulgaram suas novas estimativas para a economia. Coincidentemente, ou não, na manhã da mesma terça feira o Ministro da Economia, Paulo Guedes e o Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participaram de importante seminário promovido por um dos maiores bancos nacionais e ambos fizeram afirmações contundentes sobre as perspectivas econômicas. Guedes afirmou que, dado o volume das exportações e o saldo positivo da balança de pagamento do país, a taxa de câmbio do real frente ao dólar americano deveria estar entre R$ 3,80 e R$ 4,20, para concluir que está muito alta (R$ 5,26) em razão de “…ruídos políticos”.
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Todos os brasileiros sabem que tais ruídos políticos são criados pelas atitudes do presidente Jair Bolsonaro. O Presidente do Banco Central, por sua vez, afirmou que a rapidez com que a Petrobras tem aumentado os preços dos seus produtos, diesel,gasolina e gás, tem sido um dos propulsores do aumento da inflação, que chegou a 9,68% nos últimos 12 meses vencidos em agosto. Campos Neto afirmou que o time de economistas do Banco Central comparou com outros países desenvolvidos que praticam política de preços de combustíveis similar ao da Petrobras e concluiu queno Brasil os reajustes são bem mais acelerados que nos demais países.
Os fatores mais relevantes que estão levando bancos, economistas, consultorias a reduzir as estimativas de crescimento no próximo ano são oelevado nível de desemprego, persistência da aceleração da inflação, riscos de descontrole fiscal, com aumento de gastos públicos por ser 2022 um ano eleitoral, elevação das incertezas políticas diante da possiblidade de ruptura institucional por parte do presidente Bolsonaro, crise hídrica que pode levar à necessidade de redução do consumo de eletricidade que, por sua vez, retarda a retomada das atividades da indústria e do setor de serviços.
O aumento de preços e a piora nas condições financeiras forçará o Banco Central a elevar a taxa de juros básicos até 9%, o que aumentará os custosfinanceiros, em momento que as empresas mais precisam tomar crédito para a retomada plena de suas atividades. O aumento generalizado dos preços, notadamente em itens como transportes, alimentação, serviços prestados às famílias, energia elétrica, combustíveis, gás, forçam as famílias a reduzirem seu consumo, um dos motores do crescimento da economia brasileira nas últimas décadas.
Na visão dos analistas dos bancos, as incertezas sobre o controle das contas públicas e as turbulências políticas espantam os investimentos, tanto nacionais como os transnacionais, atuando como freio para a retomada de tração da economia no último quadrimestre de 2021 e contamina o primeiro semestre de 2022. O setor agropecuário continuará sendo o único que apresentará crescimento forte ao final de 2021 e no próximo ano, pois somente foi afetado pelo rareamento das chuvas, fato que não deve repetir na safra de 2022. Adicionalmente, a demanda dos principais produtos do agro (soja, milho, cana, carnes) continuará firme em 2022 no âmbito doméstico e no mercado internacional.
Os desafios macroeconômicos vislumbrados para 2022 são a manutenção do equilíbrio fiscal em ambiente de eleições gerais, trazer a inflação para o mais próximo da meta de 3,5%, restabelecer estabilidade jurídica e política para a democracia brasileira e garantir as condições para a economia retomar tração e o Brasil voltar a crescer em patamar melhor do que cresceu nos últimos anos.
*VIVALDO LOPES DIAS é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP
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