A pedido do prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (PTB), os membros da Comissão de Segurança Pública e Comunitária, da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), receberam, na terça-feira (14), os delegados da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso (PJC) Flávio Stringueta, Lindomar Tóffoli e Anderson Veiga, para esclarecerem as suspeitas de interferências políticas dentro da Instituição.

Antes da fala dos delegados, o deputado estadual Delegado Claudinei (PSL) declarou que reconhece a índole, lealdade, honestidade e competência de cada um, no dever de cumprir a função dentro da PJC. “Conheço os três e o trabalho deles durante todo esse período profissional no Estado. São do mesmo concurso que o meu, iniciamos em dezembro de 1999 que foi até junho de 2000. Flávio foi nomeado em 2001, eu e Lindomar fizemos a mesma academia, a partir de março de 2002, e Anderson foi nomeado em março de 2003. Nós tivemos quatro ou cinco etapas de nomeações desse concurso, antes de começar”, comentou o parlamentar, que atuou mais de 18 anos como delegado de polícia em Mato Grosso.

O deputado Delegado Claudinei também teceu elogios a eles, principalmente devido à atuação em delegacias e gerências especializadas. “Não poderia deixar de dar esse testemunho do trabalho e da conduta desses delegados no Estado de Mato Grosso. Todos atuam e atuaram em delegacias de ponta. Então, eu tenho certeza que vieram de forma livre e voluntária, sendo que foram convidados para esclarecer para a sociedade alguns fatos e denúncias que chegaram até essa Comissão e que estão sendo apuradas por outras instituições. Tenho certeza que eles não têm medo de falar a verdade e vão usar de total transparência no que forem indagados por essa Comissão de Segurança”, disse.

“A Comissão de Segurança Pública cumpre, neste ato, a sua obrigação. Quando solicitado, tomar as providências cabíveis. Até porque, uma das funções do Parlamento Estadual é o de fiscalizar o trabalho do Poder Executivo. Estamos cumprindo a nossa função, trazendo os delegados para que podem responder os questionamentos por parte dos parlamentares presentes”, declarou o deputado estadual João Batista (Pros) que presidiu a reunião.

Flávio Stringueta foi o primeiro a falar. Ele foi afastado da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) em março deste ano, e disse que não participou diretamente dos fatos ocorridos na Delegacia Especializada da Fazenda (Defaz), onde Lindomar Tóffoli e Anderson Veiga eram os delegados titulares da unidade e afastados, em dezembro de 2019.

“Eu vim de forma voluntária e viria sempre que fosse convidado. Muito importante estar junto aos representantes do nosso povo. Vim para falar a verdade e não esconder nada da sociedade, pois ela merece todo o nosso respeito. Eu confio muito na palavra deles (Lindomar e Anderson), não há motivos para que eles inventassem algo assim. Eles sabiam das consequências negativas, assumiram riscos, obviamente por contarem a verdade à sociedade. Nós não queríamos que a politicagem influenciasse na carreira policial, especificamente na Polícia Civil”, declarou o delegado, com 20 anos de atuação na PJC.

Na oportunidade, Stringueta frisou a falta de autonomia financeira e administrativa da Instituição. “Não sei se em todos os Estados, a maioria deles, a Polícia Civil não tem autonomia financeira e a administrativa acaba sendo restringida. O cargo do delegado-geral, tenho dito que é do governador, ele nomeia e exonera a bel-prazer. Nós temos a nossa lei, o delegado-geral pode ser eleito por lista tríplice, mas não é obrigado e o mandato é de dois anos, mas o governador pode cortar isso. Não há nada que impeça. Tudo é muito relativo”, explica.

 Neste aspecto, Lindomar Tóffoli acrescentou que a autonomia na PJC poderia evitar qualquer tipo de interferência política. “Isso já não vem de hoje. A gente acaba sofrendo esse tipo de situação. Quando encerra um governo, vem um outro, onde conseguimos efetivamente investigar. É muito difícil você conseguir investigar, quando está um governo em andamento. Quando se trata de dinheiro público, isso teria que ser levantado as denúncias em tempo real. Infelizmente não é isso que acontece”, declarou.

Ele conta que, após uma investigação no campo político, foi comunicado sobre a sua saída da Defaz e que assumiria a Delegacia Especializada do Meio Ambiente (Dema), sendo que foi remanejado para uma unidade de Várzea Grande. “A remoção de delegado teria que ser motivada e fundamentada. Eu preferi digerir a situação, por estar trabalhando e ter que me retirar do meu trabalho, sem uma justificativa. Tomei uma atitude, procurei o Sindicato, pleiteei um mandado de segurança, com fundamento que não foi motivado a minha remoção. Creio que vai chegar uma solução, contra o Estado, as coisas são muito lentas. Eu tenho as minhas convicções, vou lutar por elas, independentemente do tempo que vai durar”, salientou Tóffoli.

Para Claudinei, que acompanhou os noticiários na mídia e não teve acesso aos autos, está evidente que enquanto o cargo de delegado de polícia for vinculado ao Poder Executivo, as interferências políticas vão continuar.

“A gente defende essa independência e autonomia financeira e administrativa, porque temos profissionais leais e excelentes, mas que ficam de mãos atadas e com receio de serem removidos para outras unidades. Isso está evidente”, ressaltou.

Devido ao processo estar em segredo de justiça e sob investigação da Corregedoria da Polícia Civil, não foi possível obter mais detalhes sobre a interferência política do governo, na gestão de Mauro Mendes (DEM), na instituição policial.

Também, estiveram presentes os deputados Allan Kardec (PDT), Ulysses Moraes (PSL), Faissal Calil (PV), Elizeu Nascimento (PSL) e Dr. João (MDB).