O técnico Tite concedeu entrevista coletiva na noite desta quarta-feira e, pela primeira vez, se manifestou sobre os incidentes no último domingo, quando o clássico entre Brasil e Argentina, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022, foi suspenso após pouco mais de quatro minutos jogados. Questionado se gostaria de disputar novamente a partida e qual seria a decisão mais justa da Fifa, ele afirmou:

– A decisão justa é respeitar leis, a decisão justa é antes a saúde das pessoas. A decisão justa é que o esporte é importante, mas tem uma escala de importância em que a saúde está acima, as leis estão acima – disse Tite.

Mais adiante, o treinador se aprofundou mais no assunto:

– Gostaria que o jogo estivesse (sic), sim. Antes disso, absolutamente correta toda as manifestações da Anvisa, do Ministério da Saúde, é de leis, de respeitar leis, o futebol não está acima disso, tem que ser respeitado, estamos lidando com vidas. “Ah, mas abriu outro”. Eu não quero saber. Eu tenho critério que está acima disso: é saúde, sim, que tenha público, a gente trabalhe. Associado a isso, quando tem saúde e vacina, vai ter emprego e trabalho, associado a isso vai ter dignidade. Mas vir e passar por cima de leis, burlar situações, isso não existe. Quero, sim, que o jogo pudesse acontecer. Talvez o tempo de execução… não posso julgar isso. Não tenho conhecimento suficiente para saber o que foi feito e a que tempo foi feito. Não posso julgar e não devo julgar. Mas de passar por cima leis… Ah, não. Um pouco de respeito à uma entidade, um país, um povo, um clube, uma seleção. Calma! Respeito, sim

A seleção brasileira volta a campo nesta quinta-feira, contra o Peru, às 21h30, na Arena Pernambuco, também pelas Eliminatórias. O duelo terá transmissão ao vivo da Globo, do SporTV e do ge.

Na entrevista coletiva, Tite confirmou que o Brasil irá a campo com a mesma formação escolhida para enfrentar a Argentina: Weverton, Danilo, Lucas Veríssimo, Éder Militão e Alex Sandro; Casemiro, Gerson, Everton Ribeiro e Lucas Paquetá; Neymar e Gabigol.

– Em relação ao Peru, ele nos conhecem bem, nós conhecemos as características deles também. Acho que Cesar (Sampaio) fez um comentário para mim que essa equipe perdeu para a França por 1 a 0 e teve sete jogadores que estão aqui. Para mostrar o grau de dificuldade e não achar que o enfrentamento (será fácil). Retrospecto não ganha. O grau de dificuldade, a gente sabe que tem, a qualidade, a gente sabe que tem. A gente vai ter que produzir muito, jogar muito, manter regularidade, os diferentes jogos dentro do próprio jogo, aquele momento que tu vai ser dominado, mas tem que controlar, grande parte dominando, mas ser efetivo, transformar em gol. Esse contexto todo estamos atentos.

O Brasil é líder das Eliminatórias com 100% de aproveitamento após sete jogos.

Técnico Tite e o auxiliar Cléber Xavier em treino da Seleção — Foto: Lucas Figueiredo / CBF

Técnico Tite e o auxiliar Cléber Xavier em treino da Seleção — Foto: Lucas Figueiredo / CBF

Confira outros trechos da entrevista coletiva de Tite:

Adversidades nas Eliminatórias

– Nosso enfoque é outro, ter e dar treinamentos aos atletas em funções parecidas com as que eles exercem nos clubes para que desempenhem bem na Seleção. É ter nos enfrentamentos melhor capacidade criativa e ofensiva, porque esse é nosso estágio, é manter a solidez defensiva, porque essa tem sido uma característica. E manter as vitórias e o bom desempenho, que é o que tem nos levado à essa colocação, inclusive dando tranquilidade aos jogadores mais jovens em função da pontuação. Tem mais tranquilidade, como Bruno Guimarães e Vinicius Júnior entrarem na equipe, porque a equipe tem uma pontuação que te permite lançar os garotos. E olhar para os aspectos positivos em vez de ficar chorando ou se lamentando pelas adversidades.

Posicionamento dos jogadores de frente

– A gente procura priorizar esses homens de frente, mas também não vou estar aqui falando como é a estrutura defensiva dos três homens que vêm na sequência. A gente está tentando, de alguma forma, encontrar alternativas criativas desse processo do meio para frente, para tornar a equipe mais móvel, Vi o Weverton falando aqui (em entrevista) antes que é um grande desafio em tão pouco tempo a gente conseguir organizar. Mas essa é de todos. Claro que, para nós, é maior, porque trocou toda uma base da equipe, e isso gera, sim… as conexões ficam mais difíceis. Mas temos qualidade suficiente para, no transcurso dos treinamentos, superar e ter um jogo parecido com o do segundo tempo lá do Chile, para a gente ter uma referência.

Papel do Neymar sem a bola

(Resposta de César Sampaio, auxiliar técnico) – Neymar é um atleta que tem uma função, dentro do nosso modelo, de criação e conclusão, pelas suas valências. É um articulador com uma presença de área importante. É um jogador que tem percepções defensivas também muito aguçada. A gente entende que é esse homem que deve ser achado no entrelinhas, que as decisões e qualidade técnica dele, é um jogador que vem a desequilibrar o adversário, mas temos um modelo que nós temos responsabilidade com a bola, de ocupação de espaço para que nosso ataque funcione, articulação ofensiva possa fluir e, defensivamente, todos têm função também. Com a bola e sem a bola, ele vem cumprindo bem seu papel, de recomposição, de preenchimento de espaço, quando estamos na fase defensiva. Particularizar aqui uma inconfidência: no jogo contra o Chile, ele teve uma ação defensiva que potencializou uma ação ofensiva, uma bola parada do Chile, em que ele faz uma cobertura do lado esquerdo, sai três, quatro metros atrás desses jogadores que estão transitando, o Gabriel Barbosa conscientemente espera, induz a marcação do Chile para o lado direito e consegue chegar na área do Chile, um deslocamento de 80 metros. Isso relata muito bem qual é esse papel defensivo do Neymar, sem perder a força ofensiva.

Calor da torcida em Recife

– Essa história de distanciamento de seleção com o público é desde o tempo que eu era garoto, e eu via isso aí. Talvez pela não-frequência de jogar em todos os estados… Mas eu não consigo conceber isso, enxergar dessa forma de uma maneira geral. O que posso falar é a respeito daqui, sim, quando a gente chega meia-noite e meia, quase 1h da manhã, e vê uma série de torcedores demonstrando carinho, verdadeiramente tendo, na seleção, que ela os representa. E quando ela representa, ela está acima de jogar bem, mal, vencer, perder. Ela é do senso do carinho do torcedor. O movimento verde e amarelo é um exemplo próprio disso. Venho desde a época, desde que fomos eliminados, ele tem essa característica marcante. Veio aqui também. É um carinho, uma consideração. E claro que atleta, técnico, comissão, são seres humanos. Não vamos desumanizar o futebol. A gente tem sentimento, sim, e, quando vê esse carinho, claro que a gente fica mais feliz, a gente fica mais à vontade. Gostaríamos de ter público, mas entendemos, tal qual respondi antes, que saúde vem antes. Fica a lástima, a sensação de querer estar próximo, mas compreender que é por algo mais importante.

Guerrero fora

(Resposta de César Sampaio, auxiliar técnico) – Tratando-se de Brasil e Peru, sabemos que facilidade não teremos. Guerrero é um jogador importante neste sistema, tanto quanto Lapadula, as características são parecidas. Conhecemos um pouco do todo dele, temos tateado um pouco das estratégias, da qualidade técnica e da variação de sistema, assim como eles conhecem a estratégia da gente. Sempre jogos competitivos, esperamos poder neutralizar os pontos fortes do Peru. O respeito é total, são duas grandes forças, vejo igualdade. Lógico, Guerrero é uma ausência importante, mas tem um substituto à altura. (Globo Esporte)