Era costume de os atenienses celebrar ritos fúnebres dos seus filhos vítimas da guerra. Após o enterro dos restos mortais, um cidadão, dentre os mais qualificados, era escolhido para pronunciar um elogio em honra aos que partiram da vida (fonte: Carlos Figueiredo, discursos Históricos).

Em uma dessas ocasiões, no inverno de 431 a.C., primeiro ano da Guerra do Peloponeso entre Esparta e Atenas, Péricles fez as honras.

De início já transpareceu aos presentes a genialidade do orador: “Elogios a outras pessoas são toleráveis somente até onde cada um se julga capaz de realizar qualquer dos atos cuja menção está ouvindo; quando vão além disto, provocam a inveja, e com ela a incredulidade”.

Leia Também:

– Humanos conceitos

– Os modelos mentais!

– Momentos de delírios…

– Política, moral e sanção

– Identidade social

– Toda honra, toda glória!

– Deus existe?

– Verdade? Não, fofoca

– Dignidade

– Fatos e ilusões!

– Súditos…

– Quem somos?

– Democracia e constitucionalismo

– Modernidade implacável

– Espinhos…

– Pensar e existir

– Verdade sobre si mesmo

– Corpos não mentem

– Fígado saudável, alma que suporta…

– Uma lógica, apenas!

– O mito da imparcialidade

– Versos e verdades

– Os Santificados…

– Mitos e verdades

– Direito e moral

– O real e o sonhado

– Verdade e consequência

– Ética e autenticidade

-Caráter e destino

– Sejas

-As cigarras!

-Se viver, verá!

-Mal, por misericórdia

-Intuição, valores

-Viver e melhor

-Qualquer pensamento, qualquer existência

-Um sonhador!!!

-Cuidado

-Eles Vivem?

-Paz e amor

-Consciência, de Chico

-Felicidade, a quem?

-Somos, missão e dever!

-Liberdade como pena

-Alegria, alegria…

-Do pensamento, felicidade!
-Sou por estar

-Liberdade sem asas

-Utopia para caminhar…

-Amar, de menos a mais
-Ouvir e calar
-Rir e chorar
-Somos e sermos…
-Violência circular
-Dever para com o povo
-A verdade que basta

 

Mais adiante, “Deveriam ser justamente considerados mais corajosos aqueles que, percebendo claramente tanto os sofrimentos quanto as satisfações inerentes a uma ação, nem por isso recuam diante do perigo” … “a terra inteira é o túmulo dos homens valorosos” … “a felicidade é liberdade e a liberdade é coragem”.

Não há como dimensionar a energia e honra transmitida por essas palavras aos presentes, que perderam pais, irmãos e filhos. “Onde as recompensas pela virtude são maiores, ali se encontram melhores cidadãos”, continuou um dos maiores estadistas de todos os tempos.

Por onde anda a “areté” na prática política atual? Por quais caminhos estão a trilhar os exemplos de nossos heróis, os quais deveriam estar na tez de todos que, hoje, vislumbram o amanhecer do sol e dormem um sono de liberdade junto aos seus? Donde está a coragem herdada daqueles que tombaram pela luta contra a opressão e pelo direito de votar e ser votado dentro de um contexto político democrático?

Ainda conclama Péricles naquele dia de luto coletivo, “A humilhação associada à covardia é mais amarga do que a morte”.

Não se negocia valores morais, honra e dignidade; dor menor é morrer com eles. Um país da importância do nosso Brasil não pode ficar à mercê daqueles que estão a pregar rupturas institucionais diariamente, constantemente, sadicamente. Não fazem outra coisa a não ser conspirar contra as conquistas nacionais, numa desavergonhada atitude de se indispor contra tudo que a democracia brasileira construiu junto a seu povo humilde. Humilde, mas não aceita a humilhação.

Em dias atuais o fuzil não mais tutela o bom caminhar das instituições, atentas estão às fanfarronices de um ou outro e a instrumentos intimidatórios. Não se pode deletar da memória todos os períodos pelas quais a nação passou subjugada. As armas do povo agora adquiridas não cospem fogo e nem lançam aço, e não se envergam diante da arrogância e da prepotência, vertem esperança como símbolo de perseverança e resistência, sempre à disposição da eterna vigilância pela liberdade.

Vale lembrar, quem tem armas de fogo não pode ameaçar. Onde está a honra nisso?

Enfim, Péricles termina a sua missão: “Só o amor da glória não envelhece”, e toda honra e toda gloria passam ao lago de quem delas, se afastam.

“Quem me dera ao menos uma vez

Explicar o que ninguém consegue entender

Que o que aconteceu ainda está por vir

E o futuro não é mais como era antigamente” (Legião Urbana).

Que toda a terra seja túmulo dos nossos heróis, que jamais envelhecerão, amantes que são da glória. Nunca encontrarão a humilhação; antes a morte que a vida de meia valentia.

É por aí…

 

*GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO (Saíto)   é formado em Filosofia e Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); é membro da Academia Mato-Grossense de Magistrados (AMA), da Academia de Direito Constitucional (MT), poeta, professor universitário e juiz de Direito na Comarca de CuiabáE é autor da página Bedelho Filosófico (FaceInsta e YouTube).

E-MAIL:                    antunesdebarros@hotmail.com 

 — — — —

CONTATO:               bedelho.filosofico@gmail.com

 — — — —

FACEBOOK:             www.facebook.com/bedelho.filosofico