Em uma Cuiabá de outrora tantas abnegadas professoras distribuíam os seus conhecimentos, ensinamentos e as suas dedicações.

Entre elas estava Aureolina Eustácia Ribeiro, carinhosamente chamada de professora “ Oló”. Dentre esses alunos, entre outros, o médico renomado – doutor Gabriel Novis Neves que, foi seu aluno na Escola Modelo Barão de Melgaço, da 1ª a 4ª séries.

 

Aureolina Eustácia Ribeiro nasceu em Cuiabá, a 28 de fevereiro de 1898, protegida por palmeiras imperiais, nas proximidades do ribeirão Prainha, na ladeira da Praça Bispo D. José, número 106, Praça Ipiranga, sob a proteção de Nossa Senhora do Bom Despacho, centro da cidade, filha de Ana Ignácia Ribeiro e Manoel Ribeiro da Fonseca, major do exército brasileiro.

Leia Também:
– O Chafariz de 1790 e seu Aqueduto em Cuiabá

– O Rio Coxipó – Açu – do Ouro ou Mirim

– Secas e enchentes

– Bicas, Fontes e Chafarizes de Cuiabá

– Abastecimento de Água Potável: Instrumentos e Práticas Privadas

– Professora Bartira de Mendonça Carvalho

– Prefeitura de Cuiabá lança livro que registra centenas de troncos familiares e milhares de cuiabanos em seus 302 anos

– Cartografia da Água em Cuiabá

Oló foi criada entre irmãos e irmãs, entre eles, duas irmãs de criação. Seus padrinhos de batismo foram Félix Pinto de Arruda e Luísa Coelho de Arruda e, de crisma, Francisca Coelho da Silva Mello.

Padre Antônio Rodrigues Pimentel em seus escritos do ano de 1973 informa que, no local da casa da professora, à época do seu nascimento a geografia do local era difícil, “ (…) e à íngreme ladeira do Bom Despacho, calçada de pedras roliças e escorregadias, ladeira que ninguém se atrevia a subir sem parar ao menos uma vez pelo meio, a fim de tomar fôlego.

 

Mais adiante, Pimentel testemunha que naquela época, entre as moitas verdes de muçambê que ladeavam o ribeirão, crianças alegres e livres fisgavam com anzóis os lambaris ou debruçavam-se à cata de algumas pequeninas pepitas de ouro.

 

Hoje essa paisagem não existe mais, permanecendo a igreja lá no alto e o ribeirão Prainha soterrado.

Professora Oló, também, nasceu bem-amada e trouxe consigo a simplicidade, a simpatia, o bem querer das pessoas que não hesitaram em diminuir o seu nome, em função de tanta amabilidade.

 

De Aureolina, ela recebeu o carinhoso apelido de Oló e, ao tornar-se professora, recebeu o título de “ professora Oló”.

 

Por dedicação, Oló também recebeu da professora Alina do Nascimento Tocantins, o título de “Mestra Ideal”, fazendo da bondade, a maior razão da sua vida.

 

Aureolina em 08 de setembro de 1908 recebeu na capela do Asilo Santa Catarina, em Cuiabá, na Rua 13 de junho, centro da capital, a sua primeira comunhão, radiante, toda vestida de branco, pelas mãos do Arcebispo Dom Carlos Luís d`Amour. Esse asilo, segundo Pimentel ficava localizado onde hoje se encontra edificado a “Galeria GG”, na capital. No local nenhum vestígio da existência de uma capela. Como o crescimento urbano das cidades engolem as nossas riquezas patrimoniais públicas?

 

Iniciou a desenhar as suas primeiras letras e soletrar as primeiras palavras na Escola Bernadina Ricci, a qual na época, ficava localizada à Rua Galdino Pimentel, centro de Cuiabá, em cujo local funcionou o Hotel Central, e era administrado pelas irmãs salesianas, onde Oló concluiu o primeiro grau. Mais tarde a escola foi transferida para a Rua Presidente Marques, no bairro Quilombo, hoje pátio da antiga Companhia de Saneamento do Estado de Mato Grosso – SANEMAT, atual Águas Cuiabá.

 

Em 1919, pelo seu desempenho, dedicação, a menina Oló foi incentivada pela irmã educadora, da mesma congregação – Maria Falquet a seguir o caminho do magistério, iniciando no Curso Normal e recebendo o diploma em 19 de novembro de 1922, habilitada para o ensino primário.

 

Diploma em punho, a professora Oló foi abrindo novos caminhos para as mulheres cuiabanas ao tornar-se professora da primeira escola feminina desta capital, por meio da portaria n° 30, de 12 de março de 1924, em substituição a professora Maria Botelho Baraúna.

 

Em fevereiro de 1925, tem-se notícia da nomeação da professora normalista Aureolina E. Ribeiro, para uma escola localizada no município de Santo Antônio do Rio Abaixo, hoje Santo Antônio de Leverger-MT, por meio de portaria nº 827, de 5 de fevereiro de 1925.

 

O motivo da mudança da Capital para Santo Antônio-MT deveu-se ao acompanhamento da família, uma vez que, seu pai foi nomeado para exercer o cargo de presidente da Junta de Alistamento, naquela localidade.

 

Além disso, a professora Oló ministrou aulas no Grupo Escolar Senador Azeredo, no bairro do Porto, na capital, a partir de agosto de 1927; professora adjunta na Escola Modelo Barão de Melgaço, onde lecionou até 28 de fevereiro de 1956, data da sua aposentadoria.

 

Aposentada, a professora Oló dedicou-se a abrir o seu próprio espaço escolar coadjuvado pela irmã Ana Adelaide. Ambas criaram uma escola, na própria casa, para atender as crianças no período escolar chamado Jardim de Infância que, aos olhos de hoje, parece ter sido um trabalho pioneiro na capital ou, terá sido um dos primeiros em busca da sistematização e implantação das atuais escolas pré-primárias da capital, afirma Pimentel.

 

Além do educandário infantil, diversas outras atividades assistenciais, como a junto à igreja era sempre capitaneada pela professora Oló e outras companheiras. A exemplo, das aquisições de cimento para a construção da Catedral, em conjunto com a professora Guilhermina de Figueiredo.

 

Já envelhecida, perde a irmã Clarinda Graciliano Ribeiro em 15 de julho de 1968 e, ao mesmo tempo, sofria com a desapropriação da sua casa para ceder espaço para construção da avenida Prainha. Após a desapropriação transfere com outras irmãs para uma casa alugada na Avenida D. Aquino, centro da cidade. Aborrecida, com os poucos que recebeu de indenização, consegue fazer adaptações cabíveis e, retorna para a sua casa, no que lhe restou do imóvel, após a construção da avenida Prainha. Porém, a sua angústia era cotidiana.

 

O gostoso barulho das águas do Prainha foi abafado pelos roncos dos carros e das buzinas. Ficou para trás o cantarolar dos cururus e a brisa benfazeja foi substituída pelo levantamento da poeira trazida pelas tombeiras, da época, para construção da avenida, hoje Tenente Coronel Duarte.

 

Resistindo ao tempo, a professora Oló continuou a sua profissão de fé. Católica fervorosa até o último instante recebeu a atenção de todos. Faleceu em 1° de agosto de 1973, na capital mato-grossense, cercada de amigos e de carinho de todos.

 

E sua homenagem, existe uma instituição de educação básica Escola Estadual AUREOLINA EUSTACIA RIBEIRO que fica localizada no bairro de Cidade Verde, em Cuiabá (MT), e oferece aulas de Ensino fundamental I, Ensino fundamental II.

 

*NEILA MARIA DE  SOUZA BARRETO   é jornalista, escritora, historiadora e Mestre em História. É membro da Academia Mato-Grossense de Letras (AML) e do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso (IHGMT).
E-MAIL:                  neila.barreto@hotmail.com

CONTATO:             www.facebook.com/neilabarreto.barreto1