Os animais nascem com instintos de sobrevivência e, em sua esmagadora maioria, são relativamente independentes da ascendência. Os humanos precisam compensar isso, essa deficiência orgânica, sendo a medida de todas as coisas (Protágoras).
Avançando no tempo, de empirismo moderado ao racionalismo, não há como negar o conceito inato. Muitos conceitos são intuídos e os humanos os aplicam em casos específicos. Outros, nada são que deduções dos primeiros, consequências de uma proposição intuída. Para o racionalismo, a intuição é um tipo de percepção racional.
O crime de homicídio, por exemplo, antes mesmo de ser positivado em códigos penais já é objeto de aversão pela recusa intuitiva de qualquer pessoa.
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Se mata por inúmeros fatores, mas se reconhece como proibido, funcionalmente, como se fosse um gatilho de ativação de dada situação conflitante para a mente, independente dos preceitos legais.
Para os sofistas, as leis não são dadas pela natureza, são criações humanas. Isto parece fazer coro ao positivismo jurídico. Mas, intuitivamente, a razão ‘a priori’ não censura determinados comportamentos? Não se quer aqui retratar o eterno debate entre naturalistas e positivistas, e sim fazer breve acomodação do pensamento racionalista com a ideia de conceitos inatos.
A razão despreza os sentidos; quem não os despreza é a capacidade de compensação humana que, ao sentir-se acuada, cria conceitos por deduções dos que já intuía de forma inata.
Há conceitos (tomados como ideias para efeito deste texto) fortíssimos que são até maiores que o instinto de sobrevivência nos humanos. Sócrates não fugiu da morte. O fugir da dor, normal nos animais, é caro aos homens e mulheres quando se joga com valores erigidos por conceitos inatos.
Não existe prova acerca da existência de Deus. Correto. Então, o que leva à crença, à fé? Essa disposição é intuitiva (tipo de percepção racional) ou não?
É racional a conclusão de que se não há prova da existência de Deus, também não há de que Ele não existe.
Nada é mais forte e, por isso, objeto de convicção do que aquilo que, em não sendo possível comprovar empiricamente (mundo sensível), intuí-lo.
A doutrina platônica da “anamnese” se expressava assim: “Como a alma é imortal e nasceu muitas vezes e viu todas as coisas, tanto aqui como no Hades, nada há que ela não tenha aprendido: de modo que não espanta o fato de que possa recordar, seja em relação à virtude, seja em relação a outras coisas, o que antes sabia” (Abbagnano, Filosofia).
A intuição faz parte da reação humana contra a humana inação. “As mãos que fazem valem mais que os lábios que rezam” (Madre Tereza de Calcutá).
É por aí…
*GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO (Saíto) é formado em Filosofia e Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); é membro da Academia Mato-Grossense de Magistrados (AMA), da Academia de Direito Constitucional (MT), poeta, professor universitário e juiz de Direito na Comarca de Cuiabá. E é autor da página Bedelho Filosófico (Face, Insta e YouTube).
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