Com poucos dias para que a Lei Maria da Penha venha completar 15 anos (07/08/2021), as variadas violências contra as mulheres não param de acontecer. E os fatos são inimagináveis! Pensar que já vimos e vivemos de tudo é falácia. A cada dia outras situações acontecem…
Certa ativista nacional que atua na defesa dos animais colocou fim ao relacionamento amoroso que vivia com há dez anos. Até como forma de externar o tipo de violência doméstica sofrida, contou que além de ter sido pelo ex-companheiro traída com outras mulheres, foi submetida a procedimento estético sem o seu consentimento.
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Contou que marcou com o seu dermatologista um procedimento estético a laser, tão somente, algo corriqueiro em consultórios de dermatologia.
O médico, então, a avisou que a sedaria para o tal procedimento. Mas, quando a mulher acordou da sedação, descobriu que havia passado por uma cirurgia que não tinha combinado com o profissional da medicina.
Para a surpresa da mulher, o médico combinara com o ex-parceiro uma lipoaspiração em suas axilas, sem que ela soubesse, logo, sem o respectivo consentimento. Sim, dois homens decidiram sobre o corpo de uma mulher sem que ela fosse consultada.
A explicação do profissional da medicina a ela foi que houve a informação ao marido de que ela teria gordura nas axilas. O marido então, como em forma de a ‘presentear’ pede ao médico que faça a cirurgia, sem ao menos consultar a mulher, aqui vítima.
A que ponto se chega! A violação é tamanha que dois homens sequer pensaram que poderiam responder nas esferas jurídicas, ou que estariam a ferir a mulher física e psicologicamente. E que companheiro é esse? A própria mulher menciona que o homem disse a ela que não tinha como conviver com ela com aquela gordura nas axilas!!! Que grave! Que violência! Que mundo é esse, onde o que está por fora vale muito mais que o conteúdo?
A mulher pediu o divórcio. A uma, afirmou não suportar os desrespeitos pelas traições. E, a duas, a violência que sofreu com uma cirurgia que não decidiu realizar em seu corpo.
O caso dessa ativista é de extrema importância em ser analisado. A violência não tem outro nome, é violência. Não houve qualquer espécie de ‘amor’ em um homem ‘presentear’ uma mulher com uma cirurgia em seu corpo que ela não desejava. Também, um médico, ainda que tenha ‘amizade’ pelo casal, não pode realizar um procedimento cirúrgico sem que a mulher tenha autorizado. Duas pessoas, em conluio, cometeram violência contra essa mulher.
Como não podia ser diferente, a vítima narrou que se encontra psicologicamente abalada e com sequelas da cirurgia que não desejou. Inclusive, ficou com marcas externas também.
Heleieth Saffioti in Gênero, Patriarcado, Violência (2015), tratou do tema: “A magnitude do trauma não guarda proporcionalidade com relação ao abuso sofrido. Feridas do corpo podem ser tratadas com êxito num grande numero de casos. Todavia, as probabilidades de sucesso, em termos de cura, são muito reduzidas e, em grande parte dos casos, não se obtém nenhum êxito”.
*ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é titular da Defensora Pública do Estado de Mato Grosso.
CONTATO: www.facebook.com/goncaloantunes.debarrosneto