Em importante reflexão sobre “a epistemologia do armário”, a teórica americana Eve Kosofsky Sedgwick a tem como um dispositivo de regulação da vida de gays e lésbicas que concerne, também, aos heterossexuais e seus privilégios de visibilidade e hegemonia de valores.
O direito de se projetar socialmente com a identidade que lhe aprouver faz parte do princípio maior que é o da dignidade humana. Ser e estar representa o fundamento da alteridade, do respeito e da inclusão.
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A liberdade de expressão, de pensamento, de ser, de inserção e aceitação, é condição “sine qua non” de uma existência sem amarras, em que o sentido de sair do armário se torna libertador e cada vez mais presente.
O “armário” ou o “segredo aberto” fuzila de preconceito a vida e dá margem à manutenção do famigerado – volta para o armário -, no qual, na falta de melhor argumento, o sentido da vida torna-se uma vida sem sentido para aqueles que se encontram na metáfora dos “diferentes”.
O texto é atualíssimo, reconstruindo o marco de Stonewall de 1969, deixando claro que o “armário” é a estrutura definidora da opressão gay do século XX e do atual.
A Rebelião de Stonewall foi uma série de manifestações violentas e espontâneas de membros da comunidade LGBT contra uma invasão da polícia de Nova York que aconteceu nas primeiras horas da manhã de 28 de junho de 1969, no bar Stonewall Inn, em Manhattan, nos Estados Unidos. É amplamente considerado como o evento mais importante, acompanhado de várias rebeliões civis, que levou ao movimento moderno de libertação gay.
Há poucas pessoas gays, por mais corajosas e sinceras que sejam de hábito, por mais premiadas que sejam pelas suas comunidades imediatas, em cujas vidas o “armário” não seja uma presença formadora. A possibilidade de ali se “guardar” para escapar do preconceito acaba sempre presente como opção, infelizmente.
A realidade externa compete com a realidade interna. É dessa síntese, do confronto entre elas, que nascerá a apreensão, o conhecimento, que será sempre relativizado e temporal.
Assim, o fato e o conteúdo da apreensão dos fenômenos importam no universo dialético e também jurídico. E as variadas tentativas de afirmação quanto ao conhecimento sobre determinada pessoa sempre será parcial, por isso que a disseminação de falsos moralismos e a tentativa de fazer do “armário” um lugar comum de ameaça àqueles que se postam publicamente com uma identidade social diferente fere, de morte, a liberdade de expressão e a dignidade humana.
A escolha de identidade social que aprouver a qualquer pessoa é um dos pilares do reconhecimento da existência do princípio constitucional da liberdade de expressão e pensamento.
Stonewall foi um marco de estratégia de luta contra o “armário”, onde as manifestações que se seguiram gritaram pela libertação, contra a opressão e discriminação.
É por aí…
*GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO (Saíto) é formado em Filosofia e Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); é membro da Academia Mato-Grossense de Magistrados (AMA), da Academia de Direito Constitucional (MT), poeta, professor universitário e juiz de Direito na Comarca de Cuiabá. E é autor da página Bedelho Filosófico (Face, Insta e You Tube).
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