A funcionária da CBF que acusou Rogério Caboclo de assédio moral e sexual enviou uma nota ao ge na qual rebate as alegações da defesa do dirigente, afastado da presidência da confederação desde 6 de junho. Ele nega as acusações. Após a publicação da nota, a defesa de Caboclo respondeu com um texto cuja é integra está publicada mais abaixo nesta página.

Num pedido de arquivamento do processo em curso na Comissão de Ética da CBF, a defesa de Caboclo afirma que ele foi “mal interpretado” nas situações descritas por ela como assédio e sustenta que ela tinha “total controle da situação” ao realizar as gravações reveladas pelo Fantástico e pelo Esporte Espetacular.

No texto, ela afirma que esse discurso é “leviano e dissimulado”. A funcionária, que prefere preservar a divulgação do próprio nome por proteção, afirma que a linha adotada por Rogério Caboclo e sua defesa é uma “tentativa de realização da ameaça por ele formulada de me destruir”.

Confira a íntegra do texto

“Desde quando decidi denunciar o até então presidente da CBF, o Sr. Rogério Caboclo, eu sabia que atravessaria um longo processo de revitimização, sendo obrigada a reviver toda a violência sofrida até aqui.

Quem é mulher e passou por constrangimento semelhante sabe que não é fácil repelir os abusos verbais de seu patrão. Sabe que não é fácil colocar toda a sua carreira em risco e denunciar um empregador que tem o poder de destruir a sua vida e tudo aquilo que você conquistou até então. Sabe como é dura a decisão de tentar buscar justiça com o conhecimento de que precisará enfrentar alguém que usará de todos os meios para te atacar e te desqualificar enquanto pessoa e enquanto mulher.

Entre os métodos sórdidos nesse processo está a ação deliberada, ao tornar pública sua defesa, de divulgação do meu nome e minha identidade, até então preservados por mim e por todos os meios de comunicação.

Esse tipo de agressão, além de outros tantos ataques que já sofri por parte do Sr. Rogério Caboclo, me traz uma tristeza imensa. Digo tristeza pois é assim que me sinto ao entender que não existe e nem existirá remorso por todas as agressões verbais e comportamentos predatórios que tive que aguentar. Tristeza por ver que a linha de defesa escolhe deliberadamente me atacar e me expor, perpetuando a ideia de que discursos e comportamentos misóginos devem ser aceitos pelas mulheres dentro da linha hierárquica de uma empresa.

É inconcebível pensar que eu, subordinada direta de um dos homens mais poderosos desse país poderia estar no “total controle da situação”. Dizer que o Sr. Rogério Caboclo foi “mal interpretado” é um discurso leviano e dissimulado. A conveniência de assediar, humilhar e menosprezar constantemente alguém e depois dizer que essas ações foram apenas um “tom acima do que se poderia esperar” é típica de quem está numa situação de poder e se recusa a olhar para o próximo com respeito e igualdade, considerando todas as pessoas inferiores a ele.

A atitude covarde de esconder seus assédios alegando uma suposta “relação de amizade” é completamente falsa e descabida. Como poderiam os termos repugnantes da conversa terem sido por mim consentidos, se por diversas vezes solicitei educadamente que o Sr. Rogério não entrasse em assuntos sobre a minha vida particular?

Onde está o consenso quando uma das partes diz reiteradamente que não quer falar sobre temas de foro íntimo e seu chefe insiste em manter diálogos absolutamente repulsivos e invasivos? Dentro da minha consciência é impossível conceber que esse é o tipo de tratamento que o Sr. Rogério considera como sendo “normal”, proveniente de uma relação de trabalho com sua assessora. Repudio esse tipo de colocação formulada por pessoas insensíveis ao inferno que vivi e continuo vivendo.

Vejo que essa linha que o Sr. Rogério e sua defesa vêm seguindo é a tentativa de realização da ameaça por ele formulada de me destruir. Ao minimizar, tentar banalizar e tratar como “normal” todo o mal causado pelo Sr. Rogério, eles tentam me atingir novamente, mas me manterei forte e seguirei adiante.”

Nota da defesa de Rogério Caboclo

Os advogados do presidente da CBF, Rogério Caboclo, afirmam que apresentaram, nas peças de defesa, apenas uma análise objetiva das circunstâncias fáticas do caso, de forma a demonstrar não ter havido ilícito de assédio, com base, inclusive, no que afirmaram os mais respeitados juristas nos pareceres que emitiram acerca da hipótese.

A defesa nunca questionou a idoneidade da pessoa que fez as acusações de assédio, tampouco deixou de preservar o nome da acusadora ou autorizou a publicação de qualquer documento referente ao caso em questão.

Os advogados repudiam a tentativa de agredir suas prerrogativas profissionais. Eles agem estritamente no exercício das garantias constitucionais referentes à advocacia e ao devido processo legal, de modo a assegurar a seu cliente o direito à ampla defesa e ao contraditório, mesmo que enfrentando um processo na Comissão de Ética da CBF, onde fica cada vez mais clara a tendência de pré-julgamento por parte de quem deveria agir com isenção. (Globo Espoerte)