Numa das maiores conquistas de Mato Grosso recentemente, no âmbito da literatura nacional,  o  poema A biografia de Cora Coralina em poesia, de autoria da poetisa e compositora Suziene Cavalcante,   conquistou espaço em exposição permanente no Museu Casa Cora Coralina,  na Cidade de Goiás (antiga  Goiás Velho – GO).

Antes de ser inclusva no acervo permanente do museu, a obra passou pela aprovação da curadoria da instituição,  uma das mais respeitadas do Brasil.

A poetisa mato-grosense Suziene Cavalcante, de Rondonópolis, confessou que se sentiu no  Olimpo Literário, por ter sua obra ao lado dos “deuses” da literatura brasileira.

 

“É normal que eu esteja emocionada, pois  crei ter conquistado uma  cadeira no Olimpo, ao lado dos deuses da literatura nacional”, citou Suziene, após a diretora do Museu Casa de Cora Coralina, doutora Marlene Gomes Vellasco, fazer o descerramento da placa de inauguração.

A escritora Anna Lins dos Guimarães Peixoto, mais conhecida como Cora Coralina, teve sua biografia transformada em poesia, por Suziene Cavalcante. Ela publiou a obra somente no Facebook e, depois, foi republicada no portal de notícias Cuiabano News.

Por sua autenticidade,  o poema simplesmente encantou a equipe do Museu Casa Cora Coranlina, em Goiás. E o resultado foi assegurar sua exposição permanente para A biografia de Cora Coralina em poesia, se tornando um pedacinho de Mato Grosso, no coração da literatura nacional.

“Sinto-me muito honrada. E, sim, foi com profundo orgulho e respeito que assumi a condição de representante  de Mato Grosso, na literatura, ao aceitar a exposição permaente, no Museu Cora Coralina”,  argumentou Suziene Cavalcante, agora inscrita na “eternidade” da literatura barasileira.

Suziente é poetisa, cantora,  compositora, palestrante, biógrafa, cronista,  teóloga, oradora e coordenadora do Projeto Arte Jurídica em Rondonopólis.

A íntegra do Poema:

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A biografia de Cora Coralina em poesia

(*) Suziene Cavalcante

Às vésperas da Proclamação da República, nasceu a voz da poesia telúrica… A voz da Proclamação da cultura…

Poesia pura, de seda!

A maior dignidade da goiana arte, em glória!

Dia em que a vida convidou Cora a nunca ir embora da História!

Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas.

Nobilíssimas letras históricas!

Eram 20 de agosto, dia poético…

Nascera nos últimos suspiros do Brasil Império.

Bebê respirando versos…

Versos belos em dimensões mil!

Sua mãe deu à luz a luz dos verbos

A bailarina do seu próprio intelecto….

A Casa da Ponte era o seu Universo…

Lâmpada perpétua da literatura do Brasil!

1889, século dezenove, a estrela nobre, poetisa forte nascia…

Cora é o beijo da arte… Cora é o rosto da poesia…

Cora Cora lírica…

Cora é imensidão!

Lábios que sopravam o fogo da lenha… Soprariam a poesia suprema, em cada cena corada e bordada em mãos!

A Casa da Ponte, naquele instante, far-se-ia prefiguração importante…

Chorando nascia quem nos faria chorar!

Chorar na emoção de sua arte…

A menina da ponte seria a própria ponte entre os séculos doravante…

A cor da poesia… Cora iria corar…

O centro oeste um mar ganharia…

Mar de concreta poesia…

De ondas e marés lindíssimas…

Os militantes da arte, na época, perplexiaria…

Cora é épica!

Cora Cora rima…

Cora Cora lida…

Cora Cora lírica…

Ponto fora da reta.

Da janela da ponte via o sol beijar os montes…

O estalar do fogo sobre a lenha faiscante…

Pela manhã, o sol bocejando no horizonte em saudação aurórica!

Cora é a bela melodia

A estrofe mais forte da poesia….

Cora é coro em harmonia…

O melhor refrão e acórde, a melhor nota!

Ganhou coralidade a literatura…

Quando a poetisa saúda a lua graúda no negrume das noites obscuras e agrestes…

Cora é suave clarão no trânsito da constelação em ruas celestes!

Enorme literata… Memorial da glória feminina correlata!

Sua poesia é estrela guia que se constela bem alta e luz cede!

Cora é poesia ao vivo…

É a bela dicção do espírito…

É a simplicidade clássica dos livros que só o talento com o dedo do tempo escreve!

Casa da Ponte… Gruta de sonhos… Cais de sua madureza!

Na rede que range ao vento espiralante em poética vereda!

Gerações descansariam no ombro de sua poesia aconchegante em beleza!

Crianças seriam embaladas na rede de suas palavras, nos doces de sua alma poemeira…

Cora Cora linda…

Insilenciável arte ápice!

Documento autêntico da soberania da arte…

Selo genial de alta expressividade…

Que borbulhava no tacho da sua sabedoria!

A idosa que se tornou atual!

Aos 14 anos ascendeu a primeira lenha de seu poema inspiracional…

Seus lábios sopravam lenha, brasas e poesias!!!

Suas obras são revoluções descomunais…

Versam sobre a segregação da mulher nos patamares socioculturais…

Referenciou a mulher em todas idades faciais…

Cora propõe e sugere superação.

Graduada em seu próprio talento.

Especialista na ciência da vida e do tempo!

Na Universidade da própria genialidade de seus argumentos

Cora é Coesão…E poesiação!

Casa da Ponte… Palácio da simplicidade!

Congregação de sua infância, adolescência e tenra idade…

Cora coroou a goianidade!

Cidade de Goiás…

Ali era capital do estado goiano…

Cora foi embora para São Paulo, aos 21 anos…

A capital também mudou-se à Goiânia protestando!

Pois Cora era a glória em versos capitais…

Foi amamentada por uma ex escrava…

E o leite da liberdade dera asas à sua alma!

Menina bonita da bica d’água…

Encerava o chão de tábua!

Cora… Corajosa…

Menina de pernas frágeis…Que sempre caía no cair das tardes!

Todavia, Deus a levantaria como celebridade…

Cora coroada na História!

Patrona da literatura contemporânea…

Fechou o século XX com poesia de ouro, cotidiânica!

Pintou as vicissitudes culturais das ruas goianas…

Personalidade de luz!

Ó Cora Colorida!!

Cora… A cor da vida…

Cora recolore a essência feminina…

Rio de poesia em reflux

Rio Vermelho, seu vizinho confidente…

Refletia as vermelhidões do poente…

Cora decora seus versos reluzentes, recitados bonitamente sem hesitar…

A oratória de Cora é maravilhosa… E explica cada fatia de sua glória ditosa… Como a conversa das águas saltitosas com as pedras formosas em belo transitar!

Cora menina…

Cora senhora…

Cora envelhecida…

Com as rugas da glória!

Cora cristalina…

Cora célebre…

Ela coralinizou a cultura do Centro Oeste…

Vestiu a túnica da poesia… Corou a Casa  com a cor da museologia… E no palco da poesia foi sua própria intérprete!

Cora Cora rica…

Rica de genialidade…

Rica de talento e de simplicidade…

Rica de resiliência, rica de inteligência e de felicidade!

Enriqueceu a literatura, a vida, a cultura, a nação, a leitura… Cora é eternidade!

Nasceu e não quis só respirar!

Cora quis inspirar!

Ela quisera gerar culturas belas na secularidade!

Chamaram-na de Anota, Aninha, mas ela decidiu sozinha de que ângulo a História a olharia… E qual o nome que as gerações dela se lembrariam…

Cora escolheu ser Coralina…

Escolheu ser mais forte do que as pedras!

Na extremidade longínqua de sua serena e profícua maturidade límpida ensinou-nos ela! Que o simples é a melhor escultura, e a mais sofisticada pintura da felicidade pura na terra!

Aceitou suas rugas com afabilidade… Como um selo do tempo impresso no momento das luzes crepusculares…

Rugas são muitas estradas…  Muitas primaverações… Rejúbilo do sagrado no retrato das recordações…

Rugas são muitos amanheceres de uma vida efetivada… São um pretérito mais que perfeito no peito… E um futuro do pretérito recoberto de dádivas!

Rugas são as estações na face desenhadas…

São reflexões inorgulhosas… São décadas criptografadas…

São lírios de uma campina bem observada!

Com Cantídio Tolentino Bretas casou-se…

Aos 21 anos, matrimonizou-se.

Mãe de seis filhos, educados sob seus louvores!

Cora foi notória!

Viúva aos 44 anos.

Mora em São Paulo por 45 anos.

Com 67 anos de idade, volta à cidade, ao solo goiano.

E doceira famosa se torna!

Com 70 anos, entra na aula de datilografia!

E com 75, lança seu primeiro livro…

“Becos de Goiás” épico e exímio, obra prima!

Lança o “Cordel” segundo livro, e “O Vintém de cobre” terceiro edito! Esse aos 90 anos, com vigor vivo de Cora Coralina!

Estudou até a terceira série do primário…

Porém, iria além com seu QI elevado, que  por Drummond foi louvado, no Jornal de São Paulo… Escrito pelo cronista, assim:

“Cora Coralina… Grande poetisa… Mais importante que governadores da política… Mais importante que autoridades e celebridades bem quistas. Mais importante sim!”…

“Mulher terra”, “Mulher água”, e o fogo de suas palavras muito perfumava o ar de Goiás!

Sua bengala e moleta também eram uma caneta, que ia escrevendo sobre a terra seca, pegadas de uma vida inteira de talento veraz!

Professores de teoria literária estudam suas teses exatas, em cognições aprofundadas na Universidade Federal de Goiás.

Cora… Efígie da arte em decoro!

A guardiã de um Goiás neobarroco e da memória do seu povo, da cultura interiorana dos colonos… Identidade cultural do Estado todo…

Estado de Goiás…

Dedicou suas noites de autógrafos à sua primeira professora do ciclo pedagógico!

Que a castigara com palmatórias intimidatórias para o psicológico.

Lembranças corais!

Silvina, sua professora chamava; colocou Cora no banco das “atrasadas”… Sem saber que Cora era superdotada demais! Muito mais adiantada do que as “aptas”!

Pelo Direito e pela literatura seria estudada!

Ela iria além mais!

Na Universidade de Sorboni hoje é estudada…

Na Universidade da Alemanha e da Itália!

Por toda a Europa seria recitada!

Foi além de Goiás!

Várias áreas do conhecimento e línguas se voltam para a poesia de Cora Coralina, em profundas pesquisas lindas e renhidas…

Cora são multiversos fenomenais!

A reconciliação com suas raízes a remoldurou com o louvor dos felizes!

Talento remoldado pelo barro do simples!

Devolveu à cidade a capitalidade dos seus dias livres…

Capital literária de Goiás!

Com 93 anos, veste a beca de Doutora!

Na Universidade Federal de Goiás, em aplausos eternais que ainda ressoam!

Cora Doutora Honoris Causa…

Também com 93 anos, foi eleita a intelectual do ano!

Lúcida entre os doutores a condecorando…

Cora coroada!

Superou preconceitos e dores…

Ganhou prêmio Juca Pato da União Brasileira de Escritores!

Diplomata da simplicidade!

Cora é um convite ao autoregresso…

Escreveu uma das mais célebres obras do século!

Coração vermelho significa seu nome correto… O coração da arte!

Ganhou das mãos de Deus o lindo prêmio de envelhecer!

Seu doce caprichoso borbulhava na canção do fogo, na bruma do som caloroso… Quis reviver!

Reolhava a velha cidade…reaprendeu a conversar com as longas horas da tarde… Reencontrou no campus Natal da sua arte a arte de viver!

Cidadezinha que devolvia o eco de suas poesias, que da janela saíam com toda força do seu ser!

Dali avistava os pássaros em cantata… As borboletas em passeata… Maria Grampinho folclorizada pela arte do seu escrever!

1985… Aos 10 de abril…

Cora Coralina não partiu!

Cora não morreu, não faleceu: Foi poetisar para Deus um verso que ninguém leu e ninguém ouviu!

A Casa da Ponte fez fonte de cultura…

Patrimônio histórico da Unesco, bela arquitetura que reluziu!

Brasileiros e estrangeiros visitam seus segredos na Casa Museu da Unesco, em números mil!

Cora está nas escolas, nas ruas simplórias, nas instituições honrosas com presença amorosa e sutil!

Cora Coralina… Ainda respira… Está muito viva, construindo casas e rimas e pontes lindas no coração do Brasil!

(*) SUZIENE CAVALCANTE