Que ninguém nos roube o pouco que fizemos. Que ninguém diga que não estivemos lá.Que possamos, sem medo de contar, dizer aos nossos filhos e netos que não nos escondemos, que não fechamos os olhos e calamos a boca quando o sinal fechou. Que nos seja permitido contar e cantar nossas tristes e derrotadas memórias para que o tempo, ao menos o tempo, nos honre. Não que queiramos medalhas; todavia, que nos deem o direito de reviver nossas lutas inglórias. Se não as ganhamos, pelo menos as lutamos.
Que a aurora que brota no horizonte renove, em seu vermelho, nossa disposição para novas lutas. Que não nos conformemos nunca e que nossas bocas jamais percam a capacidade de gritar. Que não feneça o sonho de uma sociedade justa, mesmo que não tenhamos o privilégio de nela vivermos. Que a injustiça, a inveja e o ódio não façam morada em nossos corações. Que não habite em nós a mediocridade, mas que nossos olhos olhem como se sonhássemos sempre.
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Assim eu imagino o mundo em duas ou três décadas: com mais árvores e menos desmatamentos; com mais rios despoluídos e menos devastação; com muita paz e sem violência; sem força do dinheiro e que a solidariedade nasça com as crianças; que palavras como analfabetismo, preconceito, desnutrição, corrupção, fome, racismo, miséria e desigualdade estejam condenadas ao silêncio dos dicionários. Que todos possam andar de cabeças erguidas e as mesas sejam fartas por igual.
Impossível que a impassibilidade e a indiferença ainda continuem a ter abrigo no coração humano. É necessário que façamos dias mais completos para todos. A sociedade nova virá através das nossas ações, por pequenas que sejam; entretanto constantes. Que os sonhadores que ainda restam se transformem em arautos das verdades negadas pelos poderosos e opressores. Que possamos usar a liberdade conquistada na luta contra as baionetas e os calabouços para suplantarmos as mentiras, as demagogias e a tirania do capital.
E que ninguém nos roube a capacidade de nos indignarmos e que continuemos doces e singelos como as criancinhas porque, como nos ensinaram Leon Gieco e Raul Elwanger nas vozes de Mercedes Sosa e Beth Carvalho: “Eu só peço a Deus/ Que a dor não me seja indiferente,/ Que a morte não me encontre um dia/ Solitário sem ter feito o que eu queria.(…) Eu só peço a Deus/ Que o futuro não me seja indiferente,/ Sem ter que fugir desenganado/ Pra viver uma cultura diferente.”
*SÉRGIO EDUARDO CINTRA é professor de Linguagens e de Redação em Cuiabá. Foi Diretor Executivo da Funec.
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