Exatos 20 anos após a crise energética que deixou o país a beira do colapso com racionamento e apagões ocorrendo diariamente, nos deparamos com o mesmo problema novamente.
Sim, estamos na iminência de enfrentar uma crise elétrica como aquela experimentada no início do século. Ações iguais diante do mesmo cenário geram efeitos iguais. E o que isso quer dizer? Se tudo seguir como está teremos racionamentos e até apagões em meio a uma pandemia.
Com a pior situação hídrica dos últimos 91 anos, o Brasil vem ignorando o risco que os níveis alarmantes dos reservatórios da hidrelétricas se encontram nos últimos anos, além de questões naturais que oscilam a capacidade hídrica em nosso continente, o desmatamento desenfreado, queimadas, uso desmedido de recursos hídricos para produção vem intensificando o problema ao ponto de inviabilizar a nossa principal matriz energética.
Todos aprendemos na escola os benefícios da geração hidrelétrica, utilizando os recursos hídricos abundantes em nosso país para gerar energia sem emissão direta de poluentes no ar e com fonte renovável, diferente das termoelétricas que necessitam de constante alimentação de combustível para aquecer suas caldeiras e produzir, liberando ainda toneladas por segundo de CO2 e outros gases poluentes.
Porém, o que não se previu é que os belos e abundantes recursos hídricos que tanto se falam estão se esgotando.
A solução é a instalação de termoelétricas? Não. A meu ver isso seria retroagir em termos tecnológicos e ambientais e tal fato pode ser aceito apenas em caráter emergencial. Temos que repensar toda a planta nacional de produção elétrica e investir pesado em matrizes como a fotovoltaica, eólica, biomassa e maremotriz.
Com uma costa banhada por oceanos com extensão de mais de 8 mil km, a utilização dos oceanos como fonte de produção é uma alternativa obvia para nosso país. Outra possibilidade adotada em muitos países no mundo e que já geram autonomia em alguns deles é a fonte eólica, sendo a região do nordeste e sul as mais próprias para a implantação de diversos parques produtivos, com índices altíssimos de eficiência.
Contudo, nada supera a produção fotovoltaica em nossa região tropical. Com um pico de uso em imóveis residenciais, é a hora de expandir para o uso industrial.
O que antes era inviável pelos custos materiais, hoje é facilmente financiável e com a própria produção se paga o investimento, a média de pay back é na faixa de 3 a 4 anos para residências e 6 anos para indústrias, com a vantagem de produção por pelo menos 25 anos usando o mesmo equipamento.
Mato Grosso é um destaque nacional quando o assunto é produção elétrica sustentável, fruto de diversas políticas públicas para desenvolvimento da exploração, além de um condição natural invejável, aqui o sol é inesgotável. Há a oferta de gás natural vindo da Bolívia que alimenta de forma mais limpa e barata a termoelétrica local, além de fornecer para as indústrias do distrito industrial de Cuiabá poder produzir com custo reduzido.
Chegou a hora da energia solar assumir seu papel de protagonismo diante da crise. Sabe-se que toda crise é a oportunidade para mudanças, não seria essa a lição a se tirar dessa situação crítica que enfrentaremos?
A projeção de crescimento do PIB em 2001 era na casa de 4,5%, o que se tornou um mísero 1,4% com a situação crítica que obrigou empresas a reduzirem 20% sua produção e pessoas a racionar seus consumos, o custo desse prejuízo foi calculado em R$ 45,2 bi e pago pela população. Vejam os ingredientes dessa receita e pensem se não é possível fazer um bom bolo com eles.
O tempo não volta e não há possibilidade de implantarmos as matrizes renováveis à 3 anos atrás, mas podemos começar agora e colher os frutos dessa escolha. Afinal, energia será sempre vital para a humanidade, só resta saber de onde ela virá.
Max Russi é presidente da ALMT.