Ao assistir o incrível documentário da Netflix, ‘Absorvendo o Tabu’, vencedor de Oscar, me trouxe uma reflexão sobre o estigma em torno da menstruação. Dado a enorme diferença cultural entre Brasil e Índia, ainda assim, somos tão diferentes nesse tabu?
Precisamos falar sobre a menstruação e desmistificar o entendimento negativo da sociedade de que a função menstrual é algo que deve ser negligenciado, escondido e vergonhoso. Não podemos mais fechar os olhos para essa conversa, principalmente nos tempos de hoje.
Era comum num passado não muito distante evitar esse tipo de conversa, ou ao menos criar formas para driblar o constrangimento do assunto. Entretanto, o mundo mudou e a forma como lidamos com algumas questões também.
As indicações dos profissionais de saúde, psicólogos ou pedagogos para assuntos tabus como sexualidade, menstruação, entre outros é por meio do diálogo e o poder público deve ter uma função importante nessa perspectiva porque ajuda a quebrar a barreira da falta de informação, principalmente à parcela mais vulnerável da sociedade.
É preciso pensar como um todo, digo não basta ser apenas agir de maneira emergencial para levar o absorvente. É preciso preparar as nossas meninas para encarar essa mudança com naturalidade e sem nenhuma vergonha da transformação corporal.
A mudança nesse tabu precisa ser uma mudança das estruturas, seja nas escolas com a educação sexual, seja no debate familiar ou seja nas políticas públicas destinadas às mulheres que ajudam a desconstruir esse negacionismo em torno do assunto que afeta milhares de meninas em todo o Brasil.
Claro que é preciso atuar diretamente na pobreza menstrual, dado que a dificuldade financeira para aquisição de produtos de higiene básica necessária atinge 23% das meninas entre 15 e 17 anos em nosso país. Mas, não basta somente campanhas, é preciso levar esse debate além na esfera pública para criar formas de facilitar o acesso ao produto aliado à toda a conjuntura em volta: educação, saúde, saneamento, etc.
A campanha Cuiabá Por Elas, promovida pelo Núcleo de Apoio à Primeira-dama, Secretaria Municipal da Mulher e Assistência Social tem essa missão de levar o absorvente e promover a democratização do conhecimento sobre a menstruação, para que as nossas meninas e mulheres possam conhecer mais sobre seu próprio corpo; tenham fácil acesso à informação e aos serviços de saúde, de modo até para evitar doenças e outras questões pessoais como, por exemplo, a falta de confiança e a vergonha.
De acordo com a Always, uma das maiores fabricantes de absorventes, 35% das meninas que não possuem acesso ao produto deixaram de ir à escola, praticar esportes e sair de casa por conta da vergonha da falta de condições de higienização.
Não podemos deixar que nossas mulheres sejam vítimas da pobreza menstrual ou da nossa falta de diálogo sobre esse assunto. Vamos levantar essa questão por elas. Vamos juntos na campanha Cuiabá Por Elas.
(*) MÁRCIA PINHEIRO é primeira-dama de Cuiabá, empresária e pós-graduada em Gestão Pública