Fim de jogo, Inter eliminado da Copa do Brasil com derrota por 3 a 1 para o Vitória, e basta que os refletores sejam apagados para a neblina tomar o gramado do Beira-Rio na noite desta quinta-feira. A cerração que paira sobre o estádio é alegoria perfeita para os tempos nebulosos vividos pelo clube.
Especialmente nesta sexta-feira, dia seguinte a mais uma queda traumática na temporada. O presidente Alessandro Barcellos, o vice de futebol João Patrício Herrmann e o executivo Paulo Bracks se reunirão com o Conselho de Gestão do Inter ainda pela manhã para discutir o futuro de Miguel Ángel Ramírez. E para definir sua cada vez mais iminente saída do clube.
Conforme apurado pelo ge, a reunião deve definir o desligamento do treinador 100 dias após sua chegada a Porto Alegre para conduzir o que seria um projeto de ruptura. Mas o prazo de validade, supostamente longo, deve esbarrar em pouco mais de três meses, encurtado pela falta de resultados e de evolução da equipe no momento.
Um ponto a ser discutido – e costurado – pela diretoria é a multa rescisória prevista no contrato do treinador. A parte interessada em romper o vínculo antes do final tem de pagar um valor próximo a US$ 1 milhão, conforme apurado. O contrato vai até o fim de 2022.
Outro assunto em pauta será a continuidade do modelo de jogo. A diretoria atual assumiu o clube com um projeto de ruptura no jeito de jogar, para implantar um estilo propositivo a partir do Jogo de Posição. Essa maneira de atuar está em xeque a partir de agora. É possível que haja mais saídas do departamento de futebol.
Após testar positivo para Covid-19, Ramírez cumpre protocolo de isolamento e não comandou a equipe no tropeço para o Vitória. Mas a queda precoce na Copa do Brasil é apenas o gatilho para uma saída que já ganhava força nas últimas semanas.
Mesmo afastado, o treinador enfrentava a maior turbulência desde que chegou ao clube e nunca esteve tão ameaçado no cargo. Especialmente após a goleada por 5 a 1 sofrida para o Fortaleza, no último domingo, no Castelão.
Ramírez no Inter
- 21 jogos
- 10 vitórias
- 4 empates
- 7 derrotas
- 39 gols feitos
- 23 gols sofridos
- 53,9% de aproveitamento
Miguel Ángel Ramírez deve deixar o clube — Foto: Ricardo Duarte/Divulgação Inter
Os dias que antecederam o trauma desta quinta-feira foram de cobranças internas por mudanças de rumo. O diagnóstico era de que a equipe havia estagnado na adaptação ao modelo de jogo, inclusive com retrocessos no processo. Os resultados acompanharam o desempenho decadente.
Antes da queda traumática para o Vitória, o Inter vinha de um vice-campeonato com derrota para o Grêmio no Gauchão e de uma classificação como pior primeiro colocado na Libertadores. Os protestos foram recorrentes nas últimas duas semanas.
A diretoria deu respaldo, mas também um ultimato a Ramírez por evolução nesta quinta. Nas conversas internas, ficou decidido que o Inter mudaria o jeito de jogar, com mais liberdade de movimentação a meias e atacantes, como revelou Patrick no intervalo de jogo. Após variar a escalação em todos os jogos, o treinador passaria a manter uma base de time titular a partir de então.
E os 45 minutos iniciais diante do Vitória até foram inspiradores. O Inter entrou no 4-1-3-2, com Thiago Galhardo e Yuri Alberto lado a lado no ataque. A primeira etapa foi de evolução, com volume de chances criadas.
A equipe só não abriu vantagem pela falta de pontaria — um problema que não é novo, aliás. Mas vieram o segundo tempo, a expulsão de Pedro Henrique e os gols que decretaram a eliminação de uma equipe que sentiu muito os golpes dados pelo Vitória e não conseguiu esboçar poder de reação.
Foi a gota d’água para Ramírez. Na entrevista coletiva após a partida, o presidente Alessandro Barcellos afirmou que a sexta-feira seria de avaliações internas e em momento algum bancou a permanência do treinador. Um indicativo claro da ruptura que vem pela frente.
Lisca e Barbieri agradam
Até o momento, a diretoria colorada não fez movimento algum em busca de um novo treinador. Nem tomou decisões de “cabeça quente”. Mas dois nomes agradam os integrantes do departamento de futebol: Mauricio Barbieri, do Bragantino, e Lisca, do América-MG.
O primeiro é adepto do Jogo de Posição e tem cartaz entre os dirigentes por conseguir implantar a filosofia no clube do interior paulista. Lisca, por sua vez, é velho conhecido dos colorados. E já trabalhou com Paulo Bracks no América-MG no ano passado.
Tudo isso passará a ser analisado de maneira mais concreta a partir das definições sobre o futuro de Ramírez. O treinador chegou ao clube em março e comandou a equipe em 21 jogos, com 10 vitórias, quatro empates e sete derrotas — na conta está a derrota para o Vitória. O aproveitamento é de 53,9%. (Globo Esporte)