Tenho frustrações como todas as pessoas. Gostaria de ser bom em algumas coisas, mas por mais que tente não consigo. Gostaria, por exemplo, de decorar o poema de umas poucas estrofes de Augusto do Anjos: Versos Íntimos.
Bem como o belíssimo Monólogo das Mãos de Giuseppe Ghironi, mas me falta memória e talento para conseguir. Enfim, uma limitação que não consigo superar.
Por outro lado consigo decorar com uma certa facilidade letras de música, mas o talento não me socorre para tocar qualquer instrumento. Não consigo acompanhar música quando tento cantar, pois sempre perco o tempo de seguir a toada da melodia.
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Isto por que meu pai era um excelente tocador de violão e o meu irmão, também. Enfim, outra das minhas cruéis restrições.
Tenho uma excelente memória em citações. Sou capaz de citar trechos de livros e até de poemas de cor. Bem como tenho uma memória prodigiosa para história. Sou capaz de citar datas de acontecimentos históricos, personagens e detalhes.
Comecei a dar aula de história do Brasil para sobreviver e custear o Curso de Direito. Eu era muito novo e um aluno resolveu me desafiar ao perguntar, para me colocar em dificuldade, se eu sabia quais foram os Presidentes de República do Brasil.
Eu perguntei a ele se tinha caneta e papel e respondeu que sim. Então, mediante a classe incrédula, não somente citei todos, mas contextualizei as datas de seus respectivos mandatos. E para pergunta não ficar impune eu lhe dei como tarefa que fizesse a mesma coisa na próxima aula.
Não me gabo por isto, pois tenho dificuldades imensas em aprender línguas e a decorar os artigos mais importantes dos códigos usados diariamente na lida advocatícia. Tudo que não consigo associar eu tenho dificuldade em aprender.
O meu pai achava que eu tinha algum retardo mental (já abordei isto em outro artigo), pois em sempre fui muito calado e observador. O temor do meu pai se comprovou quando a minha professora da 5ª séria primária insistia que eu decorasse as lições ‘ipsis literes” como o autor do Livro Vamos Estudar tinha escrito.
Os outros alunos conseguiam e eu não. O meu pai fez um acordo com a professora para que decorasse apenas e metade de cada lição, mas mesmo assim eu não conseguia.
Outro dos meus grandes defeitos é lidar com dinheiro. Sou, pela dedicação e o afinco ao trabalho, capaz de ganhar algum dinheiro, mas ao tê-lo nas mãos eu me embanano todo ao tentar aplicá-lo.
Se você que me lê tem alguma dificuldade de aprendizado ou de lidar em alguma área do conhecimento, não se apoquente, pois o criador é sovina: nos deu muitos talentos, mas retirou completamente outros. É esta uma contingência humana!
*RENATO GOMES NERY é advogado em Cuiabá. Foi presidente da Seccional de Mato Grosso da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MT) e membro do Conselho Federal da OAB.
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