Dia quatro de fevereiro uma quinta feira à tarde no Centro de Eventos do Pantanal, tomei a primeira dose da vacina contra o vírus que mata.
Não houve escolha, e naquele dia só estavam vacinando com a AstraZenica de Oxford, de Manguinhos (RJ).
Sai do posto de vacinação já com o dia de aplicação da segunda dose marcada para, vinte e oito de abril de dois mil e vinte e um, uma quarta-feira.
Foram oitenta e três dias de espera e incertezas. As notícias não eram nada agradáveis. Faltava vacina em todo o país, Manguinhos ficou um tempo sem receber insumos, e tivemos que enfrentar o terrorismo do mês de março quando batemos os recordes de infectados e mortos.
O dia da minha segunda dose se aproximava, a ansiedade aumentava, o pensamento era um só: conseguir me vacinar no prazo marcado.
Hoje tudo deu certo, e é muito bom elogiar o que é bem feito. Não enfrentei filas, a enfermeira que me vacinou – a Moema foi aluna do Curso de Enfermagem da UFMT, me tratou com humanidade e técnica.
Aproveito para agradecer a eficiência da Secretaria de Saúde Municipal, e a todos seus funcionários por esse belo trabalho social enfrentando a pandêmica na sua linha de frente.
Sinto-me aliviado, com a sensação do dever cumprido, protegendo ao meu próximo e a mim mesmo.
Vou esperar catorze dias para reunir os filhos, netos e bisnetos, para os tradicionais almoços de domingo!
Mas com os cuidados do uso de máscara, álcool e gel.
Como foi difícil atravessar essa longa fase de isolamento!
Minha neta colou grau em medicina, meu neto foi estudar em São Paulo e, por causa do vírus, está em Cuiabá estudando à distância.
Outra neta casada e morando em Portugal está impedida de vir ao Brasil e meu bisneto português está enorme!
Minhas duas bisnetas – as Marias, estão moças e não pude acompanhar essa maravilhosa fase da vida delas como gostaria.
Usam computador e celular e sabem mais das coisas do que eu, como comer comida japonesa com aqueles dois pauzinhos!
É bom ter ilusões, mesmo ao ocaso da vida. Espero daqui para frente enfrentar os dias com mais leveza, não me esquecendo nunca que a vida é aquela que se vive hoje.
Não digo que estou feliz, nem vou tirar fotos sorrindo, pois a “felicidade é um produto mercadológico”, mas sentindo um alívio social pelo dever cumprido: estou vacinado.
Faço um apelo para que todos se vacinem.
*GABRIEL NOVIS NEVES é médico em Cuiabá e foi secretário de Estado de Educação e de Saúde; fundador e reitor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).