Depois de mais de dois anos detido na Rússia, acabou a agonia para Robson Nascimento de Oliveira. Ex-motorista do meia Fernando, do Beijing Guoan, ele chegou ao Brasil na noite desta quarta-feira, no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. O ex-funcionário do jogador brasileiro estava preso no país europeu desde março de 2019.

A mãe de Robson, Dona Vanda, de 74 anos, e um dos filhos dele, Robson Júnior, foram recepcioná-lo ao lado do advogado Olímpio Soares. Amigos do ex-motorista do jogador Fernando também estiveram presentes em peso, com os membros do motoclube do qual ele é vice-presidente, “Prisioneiro da Liberdade.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, também esteve presente no Galeão para recepcionar Robson. A liberação do ex-funcionário de Fernando por parte do governo russo era esperada desde o mês passado e dependia apenas da assinatura do presidente Vladimir Putin para ser concretizada. O pedido passou por uma comissão regional e pelo prefeito de Moscou antes de chegar às mãos de Putin, que tem o poder de confirmar o perdão ao brasileiro.

Robson revê amigos e familiares na chegada ao Rio de Janeiro depois de dois anos detido na Rússia — Foto: Marcel Lins

Robson revê amigos e familiares na chegada ao Rio de Janeiro depois de dois anos detido na Rússia — Foto: Marcel Lins

Robson foi preso em março de 2019 ao chegar à Rússia para trabalhar com o meia Fernando, que na época atuava no Spartak de Moscou e hoje está no Beijing Guoan, da China. Ele carregava uma mala com caixas do medicamento Mytedon – cloridrato de metadona –, que é legalizado no Brasil, mas proibido no país europeu.

Ele alegou que os remédios seriam para o sogro de Fernando, William Pereira de Faria, mas nem o meia nem seus familiares confirmaram a informação. Depois, Fernando se transferiu para o futebol chinês, mas Robson permaneceu preso na Rússia.

Da esquerda para a direita: dona Vanda, de 74 anos, mãe do Robson, o advogado Olímpio Soares e um dos filhos, Robson Júnior, foram ao aeroporto para recepcionar o ex-motorista do jogador Fernando — Foto: Gabriela Moreira

Da esquerda para a direita: dona Vanda, de 74 anos, mãe do Robson, o advogado Olímpio Soares e um dos filhos, Robson Júnior, foram ao aeroporto para recepcionar o ex-motorista do jogador Fernando — Foto: Gabriela Moreira

Desde que o drama de Robson foi contado em reportagem do Esporte Espetacular, a causa de “Justiça por Robson” ganhou apoio nas redes sociais, incluindo de atletas como Richarlison. A visibilidade do tema fez com que ele fosse levado ao presidente e, desde então, o caso tornou-se motivo de negociação diplomática.

Inicialmente, as primeiras tratativas analisadas pela defesa do brasileiro cogitavam a possibilidade de a diplomacia brasileira trabalhar numa transferência para cumprimento da pena no Brasil. Dessa forma, Robson seria transferido para um presídio brasileiro e teria de finalizar sua pena no país.

O pedido tramitaria sem a participação dos governos, sendo uma negociação já prevista por tratados entre os dois países em que os sistemas judiciários participariam. O pedido de perdão foi uma novidade surgida após a sentença condenatória de três anos, considerada baixa para o histórico desse tipo de julgamento no país.

Amigos de Robson do motoclube do qual ele é vice-presidente, "Prisioneiro da Liberdade", recepcionam Robson no saguão do aeroporto Galeão — Foto: Gabriel Moreira

Amigos de Robson do motoclube do qual ele é vice-presidente, “Prisioneiro da Liberdade”, recepcionam Robson no saguão do aeroporto Galeão — Foto: Gabriel Moreira

Entenda o caso

Robson e a esposa, Simone, trabalhavam para Fernando na época em que o meio-campo revelado pelo Grêmio e com passagem pela seleção, jogava no Spartak de Moscou. Eles foram contratados pela família do jogador e embarcaram para a Rússia transportando, a pedido do sogro de Fernando, um medicamento legalizado no Brasil, mas proibido em território russo, o Mytedon – Cloridrato de metadona.

Na época, Robson alegou que não sabia o que tinha na mala, e que a família havia informado que a bagagem estava apenas com algumas roupas e mantimentos. O brasileiro acabou detido no aeroporto em Moscou, e preso trinta dias depois, acusado de ser dono do medicamento. Posteriormente, foi condenado por tráfico internacional de drogas e contrabando.

Este remédio seria usado pelo sogro do atleta para amenizar dores na coluna e foi comprado com receita médica endereçada a ele, por um funcionário da família no Brasil. As informações de que o remédio era de William e não de Robson foram confirmadas pelos advogados da família de Fernando e pelo próprio jogador, em diversas entrevistas ao Esporte Espetacular.

O verdadeiro dono do medicamento, no entanto, nunca prestou depoimento às autoridades russas, nem concedeu entrevista à imprensa. Nos únicos depoimentos prestados à polícia pela família do jogador, dados por Fernando e sua mulher Raphaela, eles afirmam que desconheciam a existência dos remédios e não confirmaram o relato do motorista, que narra que o medicamento fora colocado na mala sem o conhecimento dele.

Fernando e a esposa se mudaram para a China, após o jogador ter acertado uma transferência do Spartak para o Beijing Guoan, no meio de 2019. Os pais de Rafaela saíram da Rússia uma semana após a prisão de Robson. Após negociações, a defesa do motorista passou a ser paga pela família do jogador Fernando. O contrato se mantém até o momento. (Globo Esporte)