Dois ex-jogadores do Rio Preto acusam o clube de não oferecer condições básicas de estrutura e higiene ao elenco que disputa a Série A3 do Campeonato Paulista. O zagueiro Nino e o atacante Leandro Love registraram os jogadores comendo marmitas no vestiário do estádio Anísio Haddad duas horas antes do jogo contra o Bandeirante.
Sem vencer há cinco rodadas e cada vez mais próximo da zona de rebaixamento, o Rio Preto parece viver uma de suas piores crises na história de 102 anos. Segundo relato de alguns jogadores, o clube passa por dificuldades financeiras e não oferece nem a possibilidade dos atletas se alimentarem da maneira ideal.
Em um vídeo gravado no vestiário do estádio Anísio Haddad, em São José do Rio Preto, é possível ver os jogadores comendo marmitas apenas duas horas antes da partida contra o Bandeirante, válida pela quarta rodada e que marcou a retomada da Série A3 após mais de 40 dias de paralisação em virtude do agravamento da pandemia de Covid-19.
– O que está acontecendo é uma humilhação. Na verdade, tem um presidente autoritário e que fala que está tudo certo, mas por trás é tudo diferente do que ele fala. É humilhação pura, nem em time de amador é assim. O clube está uma várzea, não tem diretor, supervisor e não tem como falar com ninguém. É desse jeito ou você que saia – conta o zagueiro Nino.
Jogadores do Rio Preto comem marmitas no vestiário do Anísio Haddad — Foto: Reprodução
A cena dos companheiros comendo marmitas no vestiário fez com que o zagueiro Nino e o atacante Leandro Love, dois dos mais experientes do elenco, se negassem a entrar em campo por conta da falta de estrutura. Ambos acabaram demitidos por justa causa pelo presidente José Eduardo Rodrigues.
– A gente se negou a ir para o jogo e ele mandou a gente embora por justa causa. O campeonato parou durante a pandemia, os times não. Mas o Rio Preto parou e ficamos sem treinar durante quatro semanas. Nos reapresentamos no sábado para jogar na terça-feira. Beleza, isso aí é dificuldade, entendo. Treinamos sábado, domingo, segunda e na terça era a reapresentação à noite para o jantar antes do jogo, às 22h. Chegamos no vestiário e nos deparamos com marmitas no vestiário e fod*-**. Não tinha nem uma cadeira para sentar e todo mundo comendo no vestiário para jogar duas horas depois – conta o zagueiro Nino.
Apesar de terem sido dispensados, Nino possui contrato vigente com o Rio Preto até 7 de junho de 2021, enquanto Leandro Love tem vínculo até 30 de dezembro deste ano, segundo dados da Federação Paulista de Futebol (FPF).
Nino (no alto) e Leandro Love em ação pelo Rio Preto contra o Votuporanguense — Foto: Muller Merlotto Silva
Além das refeições no vestiário antes dos jogos, o agora ex-zagueiro do Rio Preto diz que boa parte do elenco ficava alojado em uma pensão em São José do Rio Preto. No local, em condições precárias, os atletas não podiam repetir as refeições por falta de comida, que era servida em vasilhas. Atualmente, os jogadores ficam no alojamento anexo ao estádio Anísio Haddad.
– Os jogadores ficam em uma pensão, reclamando muito da comida porque não podem repetir. Eles comem em vasilhas, e não tem mistura ou arroz para repetir. Ele dá um vale-refeição para jogadores com mais nome, mas não dá para o mês inteiro. Acabou o vale-refeição cada um compra sua marmita. Fiquei indignado porque isso não é futebol, esses caras estão acabando com os clubes. Alguém precisa fazer alguma coisa, são 15 anos de carreira e nunca vi isso – revela.
Procurado pelo ge, o presidente do Rio Preto, José Eduardo Rodrigues, não atendeu nenhuma das tentativas de contato até a publicação desta reportagem. Em caso de posicionamento do clube, a matéria será atualizada. (Globo Esporte)