Ariel Holan não está deixando o Santos por causa da pressão da torcida uniformizada. Há muito mais complicações na relação do treinador com o Santos, clube sem diretor de futebol desde a saída de Felipe Ximenes e que tenta aplicar regras do mercado corporativo, muito mais estranhas ao mundo particular dos boleiros.

Em 13 jogos, Holan conviveu com Soteldo deixando a delegação e permanecendo na Venezuela, depois de enfrentar o Deportivo Lara, com Marinho deixando o gramado evidenciando sua irritação com a comissão técnica e sem cumprimentar o treinador e com teto salarial estabelecido em R$ 100 mil, o que faz os jogadores que não decidem terem vencimentos em dia e os principais talentos com menos de metade do dinheiro caindo na conta.

O próprio Holan tem este problema. Se seu salário varia acima dos R$ 400 mil, mais de 75% do que tem a receber não está sendo pago. O dado, aqui, é ilustrativo e não matemático, porque não há informação oficial do total do contrato do treinador argentino.

Holan foi vítima de extorsão de torcedores do Independiente, conviveu com torcedores irados na Universidad Católica e sabia bem como são as torcidas brasileiras, quando veio ao Brasil. O que não esperava era o amadorismo da gestão do futebol daqui. Sem respaldo, sem diretor de futebol para conversar depois do problema de Marinho, com a venda de Soteldo, Ariel Holan desistiu. Não é o único caso.

A boa ideia dos treinadores estrangeiros vai pelo ralo pouco a pouco, não em função do fracasso dos profissionais que vêm de fora, mas da nossa impaciência e falta de profissionalismo. De janeiro de 2000 até agora, dez clubes da Série A tiveram técnicos estrangeiros. Nestes dez times, passaram catorze treinadores. Só restam cinco.

O Brasil perdeu nove ideias de treinadores com conceito fora do Brasil, em apenas um ano. Rafael Dudamel, Jesualdo Ferreira, Ramón Díaz, Sá Pinto e Domenec Torrent foram dispensados. Jorge Jesus, Jorge Sampaoli, Eduardo Coudet e Ariel Holan pediram para sair. Restam Abel Ferreira, Hernán Crespo, Gustavo Morínigo, Antonio Oliveira e Miguel Angel Ramírez.

Destes resistentes, Abel Ferreira é quem está há mais tempo: cinco meses.

Dudamel durou nove jogos no comando do Atlético, Jesualdo Ferreira dirigiu por quinze partidas, Ramón Díaz nem assumiu e sua comissão resistiu três rodadas do Brasileiro, Sá Pinto ficou quinze jogos e Domenec Torrent, 23. Ariel Holan pede para deixar a Vila Belmiro depois de 13 partidas.

Cada vez mais gente comete a insanidade de dizer que. na Europa, os técnicos são demitidos com mais frequência do que no passado. Na Inglaterra, a queda de José Mourinho foi a quarta, em 33 rodadas de Premier League. No Brasil, nove entre catorze treinadores brasileiros não resistiram. Ou o Brasil desiste deles ou eles desistem do Brasil. (Globo Esporte)